Coluna Power Stage, por Fernando Silva: Desafios e diversão no futuro de um campeão

Independente dos muitos títulos conquistados na vida — e o dinheiro, que vem na esteira de tudo isso —, campeões das pistas são sempre movidos por novos desafios. Loeb e Schumacher poderiam descansar em berço esplêndido e aproveitar a vida longe do esporte, mas quem disse que eles conseguem?

Sébastien Loeb figurará para sempre na galeria dos maiores esportistas de todos os tempos, ao lado de (polêmica à vista) Ayrton Senna, Pelé, Kelly Slater, Carl Lewis, só para citar alguns. Mas talvez, a grosso modo, o mito vivo francês só seja comparável a Michel Schumacher, tanto pela quantidade de títulos conquistados, mas também pela maneira como impôs seu domínio perante seus adversários, impondo uma dinastia que marcou época no automobilismo.

Até os números de Loeb e Schumacher são mais ou menos parecidos: heptacampeão mundial de F1, Michael detém 91 vitórias na categoria máxima do esporte a motor. Seb tem nove títulos do Mundial de Rali e 77 vitórias (lembrando que, via de regra, o WRC tem um calendário com menos etapas do que a F1, por exemplo).

Mas o que eu queria abordar mesmo é a maneira como Loeb e Schumacher têm encarado a vida depois de uma jornada cheia de glórias na carreira. Aí traço mais um paralelo entre os dois multicampeões. Antes mesmo de deixar as pistas lá na primeira vez, em 2006, Michael já aparentava um pouco de cansaço e deixava claro aos quatro cantos que queria curtir mais a família, aproveitar a vida, nadar com as baleias e tudo mais. Mas não foi bem isso o que aconteceu.

Com aquele ‘sangue da velocidade nas veias’ e tendo o desafio e diversão como maiores motivações para seguir, de uma forma ou de outra, nas pistas, Schumacher não conseguiu ficar muito tempo fora das pistas. Primeiro, foi brincando, correndo de moto na Alemanha, principalmente, mas depois o negócio começou a ficar sério. Em 2010, finalmente o heptacampeão voltou à F1 como piloto da Mercedes. Não foi lá muito bem-sucedido, é verdade, mas não importa. Nada que manchasse sua gloriosa carreira.

Lenda do automobilismo, Loeb não consegue ficar longe das pistas (Foto: Sébastien Loeb Racing)

Vejo em Loeb uma situação um pouco parecida. Diante de um domínio assombroso no rali, Seb, embora tenha se declarado ultramotivado para seguir destruindo os rivais, sempre enfatizava a necessidade de um novo desafio. Ganhar de todo mundo, tudo de novo, ano após ano, já não era desafiador para ele. Era preciso mudar. Por isso que Loeb decidiu encerrar sua carreira aos poucos — disputou duas etapas do WRC e vai correr mais duas neste ano, na Argentina e na França — antes de fechar a conta e passar a régua.

Tudo o que virá pela frente será, para Loeb, um misto de desafio e diversão. Não faz muito tempo que o lendário francês, apaixonado pela motovelocidade, testou uma Moto2 da equipe Tech 3, em Paul Ricard. Foi só uma brincadeira, claro, Seb não tem intenção de levar tal projeto a sério. Séria, mesmo, é a sua equipe, a Sébastien Loeb Racing Team, que está inscrita para disputar o GT Series com um McLaren MP4-12 GT3, veja só, patrocinado pela Red Bull.

Vai ser interessante ver Loeb neste seu novo desafio. Uma peculiaridade é que, a partir de abril, em Nogaro, vai ser possível ver algo jamais pensado antes: Loeb dividir as pistas com pilotos bem conhecidos daqui do Brasil, como Cacá Bueno, Allam Khodair, Sergio Jimenez e Ricardo Zonta, que farão parte do BMW Team Brazil nesta temporada. Para Loeb, é um desafio, um grande desafio. É óbvio que ele não tem a obrigação de ganhar — embora dele sempre se espera a vitória, como com Schumacher na F1 —, só o desafio e a diversão valem por si.

Outro grandíssimo desafio para Loeb neste ano será a mítica subida de Pikes Peak. É o que noticia a revista francesa ‘AutoHebdo’. Seb vai subir a histórica rampa nos Estados Unidos com um protótipo Peugeot 208 na 91ª edição do evento. É o retorno da montadora francesa, coirmã da Citroën, a Pikes Peak após 25 anos do épico êxito de Ari Vatanen no percurso incrível e desafiador de 4.300 m de altitude, 19,98 km e 156 curvas, cada uma mais difícil que a outra.

Embora 2013 pareça ser mesmo um ano de curtição para Loeb, algo não saiu do jeito que o multicampeão queria. Numa amostra de que nada está fácil para ninguém, nem para uma lenda do esporte como ele, Loeb e sua equipe não poderão correr a tão sonhada 24 Horas de Le Mans neste ano por conta da…. isso, ela, a danada da falta de patrocínio. O projeto do retorno de Seb a Le Mans foi adiado por pelo menos mais uma temporada. Enquanto isso, a Citroën, desesperada para manter o título mundial do WRC entre os construtores, até cogitou chamar Loeb de volta para disputar mais provas da temporada, mas não acredito que isso vá acontecer.

Para 2014, porém, outros tantos desafios podem aparecer na vida de Sébastien. Um deles é o WTCC, o Mundial de Carros de Turismo. A competição, que volta a ganhar força depois de um período de baixa, pode contar com a Citroën em 2014. Loeb até já fez testes com um DS3 em Valência, mas a possibilidade de a montadora fazer parte da categoria no ano que vem ainda é incerta.

Embora tal possibilidade não seja aventada aqui e ali, especula-se que Loeb pode sim correr o lendário Dakar em 2014. Informações vindas da imprensa europeia dão conta que Loeb testou um buggy da equipe de Nasser Al-Attiyah no Catar em dezembro. Nasser quer uma equipe forte em 2014 e cogita, além de Seb, também a vinda do mítico Travis Pastrana na próxima temporada. Se depender de Loeb, as portas do Dakar estão abertas. Em minha opinião, algo bem mais interessante que o WTCC, mas é uma preferência minha, apenas.

O que fica claro nisso tudo é que, independente dos muitos títulos que se ganha na vida — e o dinheiro, que vem na esteira de tudo isso —, campeões das pistas são sempre movidos por novos desafios. Os exemplos estão todos aí. Loeb e Schumacher, como tantos outros, poderiam descansar em berço esplêndido e aproveitar a vida longe do esporte, mas quem disse que eles conseguem?

A paixão pelo automobilismo é algo inexplicável e oferece aos artistas das pistas desafio e diversão por toda a vida. Nós, os fãs do esporte, agradecemos.
 
História em dose dupla

O automobilismo brasileiro viveu um momento histórico no último domingo (18), quando foi disputada a primeira etapa do Mundial de Rali Cross Country, o Italian Baja. Na estreia pela categoria T1, a principal do certame, Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin, campeões mundiais da T2 no ano passado, dominaram toda a prova e venceram, derrotando rivais do calibre de Jean-Louis Schlesser. Foi a primeira participação da dupla na condução de um protótipo da tradicional equipe belga Overdrive.

E para deixar o fim de semana mais verde e amarelo em Pordenone, no norte do mais belo país da Europa. Isso porque Marcos Moraes e Du Sachs — também organizadores do Rali dos Sertões — triunfaram na classe T2 com um Mitsubishi Pajero Full. Um dia de ouro para o rali nacional, sem dúvidas.

Varela e Gugelmin fizeram história no Mundial de Cross Country (Foto: Italian Baja)

 
Peru de fora

Calma! Não é isso o que você está pensando. É que o Dakar anunciou a rota da edição de 2014. Diferente dos dois últimos anos, desta vez o Peru não fará parte do roteiro do maior rali do mundo, que, no ano que vem, passará por Argentina, Bolívia — pela primeira vez na história — e vai se encerrar no Chile. O Dakar 2014 começará em 5 de janeiro em Rosario, terá seu ‘rest day’ em Salta, também na Argentina, e se encerrará no dia 18, na bela cidade de Valparaíso.
 
A musa do rali

Depois de brilhar na passarela do Anhembi no carnaval deste ano com a X9 Paulistana, Helena Soares começou muito bem o ano no rali. A bela simplesmente conquistou a vitória em sua categoria na primeira etapa do Brasileiro de Cross Country, em Barretos, e agora vai disputar, ao lado de Claudia Grandi, o Rali da Mulher na não menos bela Goiânia. A prova reserva duas novidades. Primeiro, porque a dupla vai disputar o rali com um UTV RZR 900 XP da Polaris. E, desta vez, a dupla vai inverter os papeis: Claudia vai pilotar e Helena vai navegar.

A musa Helena Soares vai disputar o Rali da Mulher com um UTV (Foto: Divulgação)

Fenômeno

Robert Kubica foi tema desta coluna há duas semanas. Pois bem, nesta sexta-feira o polonês faz sua estreia no Europeu de Rali, lá nas Ilhas Canárias, guiando um Citroën DS3 RRC, sendo o principal representante da equipe oficial da Citroën na categoria. E, pelo menos neste primeiro dia de provas, Kubica está simplesmente avassalador e liderou a prova após os oito primeiros estágios.

Independente do que aconteça neste fim de semana, Kubica é um fenômeno e mostra o quanto ama o rali e está adaptado à modalidade. Sei não, mas acho que é cada vez mais difícil um retorno dele à F1. A própria Citroën poderá, no futuro, investir ainda mais em Robert para que ele seja um dos grandes nomes do WRC em pouco tempo.

E, para a semana que vem, o polonês será tema de um especial aqui no Grande Prêmio. Fique ligado!

Alguém duvida da felicidade de Kubica no rali? (Foto: Citroën Racing)

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