Coluna Power Stage, por Fernando Silva: Mais que vencedor

Felipe Zanol ganhou tudo no motociclismo. Só que, mais importante do que o triunfo nas trilhas de terra do Brasil e do mundo, ele também ganhou a mais difícil prova da sua vida: a batalha contra a morte. Como bem costuma dizer Alex Dias Ribeiro, Zanol é mais que vencedor

Nesta semana, mais precisamente na última terça-feira (12), completei 33 anos de idade e, ao mesmo tempo, outros três anos de Grande Prêmio e Revista Warm Up. Ainda estou engatinhando na profissão de jornalista e tenho de comer muito feijão com arroz e aprender muito… sempre temos de aprender, não é verdade?

Ao longo de todo esse triênio, tive o privilégio de entrevistar muita gente que antes, nos meus tempos de Honda (sim, trabalhei na fábrica, aqui em Sumaré), por exemplo, só via pela televisão. Referências como Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, Stéphane Peterhansel, Ingo Hoffmann, Marc Coma, Tom Kristensen, só para citar alguns mitos das pistas.

Mas o começo de tudo foi no rali, em 2010. Nunca vou me esquecer das minhas primeiras coberturas como jornalista, quando ainda era um aluno do segundo ano na faculdade. Estive presente no Sertões Series, em Avaré, e no Rali dos Sertões daquele ano. Foi um baita início de profissão e acumulei grandíssima experiência de vida. Como não lembrar, por exemplo, da primeira entrevista, com o holandês mais brasileiro do mundo Willem van Hees? Conheci muita gente, como os mitos André Azevedo e Klever Kolberg, precursores do esporte e responsáveis pelo rali cross-country ter a força que tem por aqui hoje.

Felipe Zanol venceu a maior prova da sua vida longe das trilhas (Foto: Theo Ribeiro/Fotoarena)

No Rali dos Sertões daquele ano, tive a chance de conhecer um mineiro tremendo gente boa, atencioso, simples à beça e que acelerava demais. Piloto que chegou discreto, mas logo despontou como um dos grandes candidatos à vitória naquela que era sua primeira participação na prova. Seu nome? Felipe Zanol. Como ele era o piloto brasileiro de maior destaque na competição das motos, brigando etapa após etapa com Marc Coma pela vitória no Sertões, acabei entrevistando Zanol com mais frequência. Do meu lado, ficou a admiração pela sua simplicidade, sinceridade e espontaneidade.

Felipe foi um daqueles caras que acabou surpreendendo a todos no Sertões, dentro e fora das trilhas. Multicampeão no enduro, Zanol corria contra grandes pilotos do Brasil e do mundo, e acabou terminando em segundo, só atrás de Coma. Ali, no Sertões de 2010, Felipe foi muito bem-sucedido em sua primeira missão no rali cross-country e, com a iminente aposentadoria de Zé Hélio e com Jean Azevedo já veterano, despontou como grande revelação brasileira.

Daí por diante, Zanol desandou a ganhar títulos. Veio o triunfo no Sertões Series daquele mesmo ano de 2010, coroado na cidade de Itatinga, perto de Botucatu. Também estava por lá. Já no Rali dos Sertões do ano seguinte, Zanol lutou de igual para igual com outra lenda do motociclismo fora de estrada, Cyril Després. Felipe novamente foi muito bem e terminou em segundo. Entretanto, sua colocação pouco importava… o mineiro já havia se consolidado como grande nome brasileiro da modalidade.

Tanto que aí os patrocinadores vieram em peso, com destaque para a Red Bull. Novo taurino, Zanol correu seu primeiro Dakar em 2012, um ano histórico e marcante na sua carreira e na sua vida. Correndo pela KTM, Felipe conquistou um brilhante décimo lugar. Levando em conta que foi sua estreia no maior do mundo, o resultado foi espetacular e, por que não, pôde ser considerado como uma vitória. Lá no deserto do Atacama, certamente o mineiro aprendeu demais e estava dando passos largos em sua carreira como piloto de rali e, aos poucos, ia deixando o foco no enduro para se dedicar com mais afinco ao cross-country.

Aí veio o Rali dos Sertões de 2012. Para a edição do ano passado, Zanol despontava como grande favorito e tinha tudo para finalmente chegar ao tão sonhado título. Sem a oposição dos mitos Despres e Coma, o mineiro tinha caminho livre para chegar à taça. Membro da equipe oficial da Honda, tanto no Sertões como no Dakar de 2013, Felipe não decepcionou, não: com a mesma simplicidade de sempre, foi trilhando cada uma das dez etapas e, lá em Fortaleza, chorou muito na comemoração da sua primeira vitória no maior rali cross-country do Brasil. Foi bacana ver um cara como Felipe chegar ao título. Foi, à época, a maior vitória da carreira.

Mas a vida prega umas peças de vez em quando. No deserto de Mojave, na Califórnia, enquanto se preparava para disputar pela segunda vez o Dakar — o primeiro pela Honda —, Zanol sofreu um gravíssimo acidente que quase encerrou não só sua carreira, mas a sua vida. Os dias seguintes àquele início de dezembro não foram fáceis nem para o piloto, tampouco para sua família como também para os fãs, que procuravam saber informações a respeito da sua recuperação.

O sonho de correr o Dakar, no auge da forma, ficou para trás. Sua nova luta, muito mais importante e crucial, era uma só: para sobreviver. Levou tempo, sua recuperação foi árdua — ainda está sendo, na verdade —, principalmente pelo longo tempo internado na UTI lá na Califórnia. Mas Zanol, com muita fisioterapia e o apoio da família e dos fãs, já está recuperando sua antiga forma: consegue caminhar, pedalar, enfim, aos poucos a sua vida vai voltando ao normal.

Na emocionante entrevista que deu para o site ‘BRMX’, Felipe foi enfático: “Sabe, só volto a andar de moto se eu estiver 150%. Não é 100% não, é 150%. O que eu tinha que ganhar no motociclismo nacional, eu já ganhei”. Independente do seu retorno ou não ao esporte, Zanol já deixou gravado seu nome na história do rali e do enduro, não só pela sua competência e títulos, como também pelo carisma e simplicidade. No fim das contas, o que mais importa é sua recuperação plena e que, principalmente, que volte a ter uma vida normal em pouco tempo.

Felipe diz uma verdade: de fato, ele ganhou tudo no motociclismo. Só que, mais importante do que o triunfo nas trilhas de terra do Brasil e do mundo, Zanol também ganhou a mais difícil prova da sua vida: a batalha contra a morte.

Como bem costuma dizer Alex Dias Ribeiro, Zanol é mais que vencedor.  

 

Começou!

O tradicional Rali de Barretos abriu a temporada 2013 do Brasileiro de Cross-Country no último fim de semana. A prova teve a participação de 101 equipes divididas em cinco categorias: 32 carros, 36 motos, nove quadris, 22 UTVs — categoria que vem crescendo muito — e apenas dois caminhões.

Lucas Moraes, agora correndo com Beco Andreotti como navegador, venceu entre os carros, batendo os campeões mundiais na T2 Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin. Em grande fase, Carlos Policarpo, vencedor do Rali dos Sertões no ano passado, foi o vitorioso ao lado de Rômulo Secomandi e Davi Fonseca — Policarpo só correu contra o Mercedes pilotado por Carlos Salvini.

Nas motos, melhor para o experiente Ramon Sacilotti. Gabriel Varela triunfou nos quadriciclos, enquanto o tricampeão mundial de jet-ski, Denisio Casarino, venceu nos UTVs.
 

Vai começar

A abertura do Brasileiro de Rali de Velocidade não poderia começar em outro lugar que não no Rio Grande do Sul. Canela, na serra gaúcha, recebe neste fim de semana o início do campeonato, que também será válido como etapa do Campeonato Gaúcho. Segundo informações da assessoria de imprensa da CBA, 46 equipes estão inscritas, divididas em três categorias: XRC/4×4, 4×2 Super e 4×2.
 

Desbravando o Brasil

Com os trabalhos finalizados no levantamento aéreo, a Dunas Race, organizadora do Rali dos Sertões, agora vai dar início, na próxima semana, ao levantamento terrestre, parte importante do processo que visa definir o roteiro da 21ª edição do maior rali do Brasil e um dos maiores do mundo. A prova será disputada entre 25 de julho e 4 de agosto entre São Luís e Goiânia.

Desbravando o mundo

Marcos Moraes e Du Sachs estarão presentes na primeira etapa do Mundial de Rali Cross-Country: o Baja Itália, que terá como base a província de Pordenone, na região de Veneza. A dupla brasileira vai competir com um Mitsubishi Pajero na classe T2. Outra dupla brasileira inscrita para a disputa do Baja Itália é Reinaldo Varela/Gustavo Gugelmin, que neste ano vão correr na T1 com um protótipo da tradicional equipe Overdrive.

Tá fácil

É… pilotando como nunca, Sébastien Ogier desponta como grande favorito ao título do WRC em 2013, o primeiro pós Sébastien Loeb. Tudo indica que o casamento Ogier-Volkswagen seja tão bem-sucedido quanto foi a união Loeb-Citroën. O domínio no Mundial de Rali só mudou mesmo de sobrenome.


Não tá fácil

Enquanto o compatriota Ogier começa a ocupar seu trono no WRC, Loeb enfrenta dificuldades para levar a cabo seus projetos no automobilismo fora do rali. Isso porque o lendário francês não conseguiu colocar sua equipe no grid das 24 Horas de Le Mans e terá de se contentar apenas em disputar a GT Series com um McLaren patrocinado pela Red Bull. Não tá fácil pra ninguém, mesmo.

Semana que vem tem mais! E viva o rali!

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