Com estreia de Alonso, Rali Dakar inicia terceira fase na polêmica Arábia Saudita

Depois de passar pela África e pela América do Sul, o Rali Dakar vai iniciar uma nova fase em 2020, com o desembarque na polêmica Arábia Saudita. Entre os principais destaques da maior e mais dura prova off-road do planeta está a estreia de Fernando Alonso

O Rali Dakar vai iniciar uma nova fase na temporada 2020. Depois de passar pela África ― entre 1978 e 2008 ― e pela América do Sul ― entre 2009 e 2019 ―, a maior e mais dura prova off-road do planeta vai fazer neste ano sua primeira edição na Arábia Saudita entre os dias 5 e 17 de janeiro
 
A mudança de endereço não chega como surpresa, já que a ASO, empresa que promove e organiza o rali, estava encontrando dificuldades na América do Sul, muito por conta de questões financeiras. E, em se tratando do maior exportador mundial de petróleo, dinheiro não é problema. 
 
De acordo com a imprensa espanhola, a Arábia Saudita vai desembolsar € 5 milhões (cerca de R$ 22,6 milhões) anuais durante cinco anos para receber o rali.
Arábia Saudita (Foto: ASO)
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Dona de um histórico de desrespeito aos direitos humanos ― é um dos poucos países do mundo que não aceitam a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (Organizações das Nações Unidas) ―, a Arábia Saudita vem tentando usar os esportes ocidentais para mudar sua imagem no exterior. Em 2016, o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman fez do esporte uma prioridade em seu programa de desenvolvimento econômico para 2030. Assim, já conseguiu reuniões com a NBA (Associação Nacional de Basquete dos Estados Unidos), com a WSL (Liga Mundial de Surfe) e com a própria Fórmula 1.

 
A Fórmula E, aliás, já desembarcou por lá. A série elétrica abriu sua quinta temporada em Riad, a capital da Arábia Saudita.
 
Agora, é a vez do Dakar. Antes da competição, a organização da prova encaminhou aos participantes do rali uma espécie de guia de boas maneiras e a clara discriminação contra as mulheres foi a primeira das polêmicas. Mas não para a ASO.
 
“É um novo país, um desafio novo para todos”, disse David Castera, novo diretor do rali. “Nos deram muitas garantias do país, sabemos que existe uma vontade de abertura”, seguiu.
 
“O Dakar não é o primeiro a ir para a Arábia, outros já foram antes, como a Fórmula E, a Supercopa italiana. Eles querem se abrir e se fazer conhecer por meio dos eventos esportivos”, frisou.
 
A abertura, no entanto, não atinge as mulheres. O próprio documento divulgado pelo Dakar ― que, aliás, tem um ‘Q’ de propaganda da Arábia Saudita ― afirma que as mulheres não podem usar roupas justas e/ou que deixem ombros e joelhos a mostra. Entretanto, não é mais obrigatório o uso de hijabs ― o véu islâmico que cobre cabeça e pescoço ― ou abayas ― um tipo de vestido que deixa apenas pés, mãos e rosto a mostra ―, embora o uso seja “recomendável”.
 
“A única coisa que eles pendem é que cubram pernas e braços, mas podem se vestir normalmente”, minimizou Castera.
 
E se o intuito é fazer de contas que a ditadura saudita não existe e fazer propaganda da monarquia absolutista islâmica, o Dakar não poderia contar com um participante melhor: ao lado de Marc Coma, Fernando Alonso vai fazer sua estreia na prova.
 
Bicampeão da F1, o asturiano segue se aventurando nas mais variadas categorias do esporte a motor e será um destaque e tanto da prova. Desta vez, o asturiano se aliou a Toyota para uma experiência no off-road. Entre os principais rivais, terá nomes como Nasser Al-Attiyah, Nani Roma, Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz. 
 
Na disputa das motos, nomes de peso como Toby Price, Matthias Walkner, Sam Sunderland, Andrien van Beveren, Pablo Quintanilla, Paulo Gonçalves e Joan Barreda estão de volta. Nos quads, Ignacio Casale, Rafal Sonik e Nelson Sanabria Galeano também constam na lista de inscritos.
Embarque do Dakar na França (Foto: oto Marc de Mattia/DPPI)
Nos UTVS, os brasileiros Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin terão a companhia de Francisco Lopez Contardo e Gerard Farres Guell, por exemplo. Nos caminhões, Eduard Nikolaev, Dmitry Sotnikov, Ales Loprais e Siarhei VIazovich são alguns dos participantes.
 
Em um país tão hostil às mulheres, a participação feminina no Dakar cai em 2020, justamente depois de bater recorde em 2019, quando a disputa foi feita totalmente no Peru. Nesta 42ª edição da prova, serão 11 mulheres, apenas 1,92% dos 572 competidores. 
 
A maior representação feminina está nas motos, com cinco participantes: Laia Sanz, Sara Garcia, Mirjam Pol, Kirsten Landman e Calheine Perry. Nos carros, são três: Cristina Guitiérrez, Mónica Plaza e Fernanda Kanno. Nos UTVs, outras duas: Camelia Liparoti e Annett Fischer. Mayumi Kezuka será a única a competir entre os caminhões. Nos quadriciclos, não tem nenhuma mulher inscrita.
 
A participação brasileira, aliás, também é reduzida, com apenas três participantes. Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin vão tentar renovar a coroa nos UTVs, enquanto Antônio Lincoln Berrocal vai se aventurar nas motos.
 
No que diz respeito ao roteiro, serão 12 especiais, cinco delas com mais de 450 km. E, por causa da natureza do terreno saudita, a organização adotou medidas para nivelar os desafios entre profissionais e amadores.
 
Uma das primeiras novidades fica por conta da planilha, que passa a ter as referências coloridas. Antes, os competidores pintavam seus próprios roadbooks, um procedimento que demanda tempo.
 
Também, assim como motos e quadriciclos, que já tinham uma pausa de 15 minutos para reabastecimento durante as especiais, agora todas as categorias terão um ponto de parada obrigatório. 
 
Outra novidade fica por conta do estágio ‘super maratona’, onde apenas dez minutos de reparos serão liberados para motos e quads no acampamento de Neom, na fronteira entre Arábia Saudita, Jordânia e Egito. A maratona convencional vai acontecer em Shubaytah.
 
Além disso, na edição deste ano do Dakar, os competidores que forem forçados a abandonar ― exceto por razões médicas ―, poderão voltar à disputa em uma categoria diferente, chamada ‘Dakar Experience’, apenas para seguirem a aventura da prova. Entretanto, esse wild-card é vetado para os atletas da lista de elite.

Rali Dakar 2020:
DATA ESTÁGIO TRECHO ENTRE ESPECIAL DESLOCAMENTO TOTAL
05/jan 1 Jedá
Al Wajh
319 km 433 km 752 km
06/jan 2 Al Wajh
Neom
367 km 34 km 401 km
07/jan 3 Neom
Neom
404 km 84 km 489 km
08/jan 4 Neom
Al Ula
453 km 223 km 676 km
09/jan 5 Al Ula
Hail
353 km 210 km 563 km
10/jan 6 Hail
Riad
478 km 352 km 830 km
11/jan Dia de descanso – Riad
12/jan 7 Riad
Wadi Al-Dawasir
546 km 195 km 741 km
13/jan 8 Wadi Al-Dawasir
Wadi Al-Dawasir
474 km 240 km 713 km
14/jan 9 Wadi Al-Dawasir
Haradh
415 km 476 km 891 km
15/jan 10 Haradh
Shubaytah
534 km 74 km 608 km
16/jan 11 Shubaytah
Harad
379 km 365 km 744 km
17/jan 12 Haradh
Qiddiyah
374 km 73 km 447 km
TOTAL 5097 km 2759 km 7856 km

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