Na Garagem: Em Jacarepaguá, Valdeno vence primeira edição da Corrida do Milhão

Foi há exatos dez anos, em 31 de agosto de 2008, que Valdeno Brito faturou o prêmio mais valioso da história do automobilismo brasileiro: US$ 1 milhão. Foi a primeira vez que o paraibano vencia uma corrida na Stock Car

Uma grande inovação marcou a temporada 2008 da Stock Car. A Corrida do Milhão, guardadas as óbvias e devidas proporções, nascia com a intenção de ser uma espécie de 500 Milhas de Indianápolis brasileira, com a oportunidade de entregar nada menos que US$ 1 milhão e um anel especial ao vencedor. A grande festa do automobilismo nacional foi marcada para 31 de agosto, válida pela sétima etapa do campeonato, e teve como palco o hoje saudoso autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. 
 
O grande laureado daquela manhã de domingo foi o paraibano Valdeno Brito, que tinha 34 anos e corria pela equipe chefiada por Andreas Mattheis. Um dia inesquecível ao piloto, que triunfou pela primeira vez na categoria. E logo na prova mais milionária do campeonato.
 
À época, Jacarepaguá já tinha perdido parte do seu trecho original para a instalação da Arena Multiuso que fora um dos principais centros dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Mais tarde, toda a área seria inutilizada para o automobilismo para dar lugar à construção do Parque Olímpico do Rio, principal cenário dos Jogos Olímpicos de dois anos atrás.
 
Assim como acontece nos dias atuais, a Stock Car conseguiu reunir um grid bastante robusto para sua primeira Corrida do Milhão. Foram nada menos que 34 carros em Jacarepaguá. De Cacá Bueno, campeão vigente e dono da pole-position em casa, passando pelo lendário multicampeão Ingo Hoffmann, os veteranos Carlos Alves e Antônio Jorge Neto, e nomes da nova geração como Átila Abreu, Thiago Camilo, Marcos Gomes, Allam Khodair, Daniel Serra, Júlio Campos… E Valdeno Brito era mais um dentre tantos grandes nomes naquele farto grid carioca.
A conquista do milhão: Valdeno cruza a linha de chegada na frente em Jacarepaguá (Foto: Duda Bairros/Arquivo Stock Car)

Algumas curiosidades sobre 2008. Enquanto atualmente a Stock Car é monomarca, tendo a Chevrolet como a única montadora estampando sua logo nas bolhas, há dez anos a fábrica norte-americana tinha a companhia da Peugeot e da Mitsubishi. Era a última geração de carros antes da que está em vigor atualmente.

 
O cenário econômico da época, ao menos no que diz respeito ao câmbio, também era bem diferente do atual. Em 29 de agosto, última cotação antes da Corrida do Milhão, o dólar comercial era cotado a R$ 1,63. Bem diferente dos estratosféricos R$ 4,14 dos dias atuais. Ainda assim, era um senhor prêmio pouco mais de R$ 1,63 milhão entregue ao vencedor.
 
Quanto à prova em si, Cacá foi o grande protagonista e liderou a maior parte das voltas. O piloto só não contava com uma falha na bomba de combustível nos giros finais. Valdeno, que sempre andou entre os primeiros ao longo da corrida, aproveitou a grande chance para ser o primeiro milionário da Stock Car. Cacá ainda conseguiu voltar a acelerar, mas terminou em nono.
 
Ao longo dos anos, Thiago Camilo se notabilizou por ser o maior vencedor da Corrida do Milhão, com três conquistas. E no último mês de agosto, Rubens Barrichello comemorou sua segunda vitória milionária. Mas apenas Valdeno Brito teve a chance de receber o prêmio de US$ 1 milhão.

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Como foi a primeira Corrida do Milhão da Stock Car
 
Diante de um público bom, que encheu boa parte das arquibancadas de Jacarepaguá mesmo com a chuva e até o frio que persistiam durante o fim de semana, a prova milionária compreendia algumas novidades para a época: duração de 47 voltas, ou uma hora e 15 minutos — na última Corrida do Milhão, por exemplo, foram apenas 40 minutos e mais uma volta —, além de duas janelas para reabastecimento.
 
Antes da largada, contudo, a Stock Car viveu um grande susto com um acidente grave. Um cilindro de ar comprimido, utilizado para a calibragem dos pneus, explodiu e feriu três funcionários da equipe Action Power, além de membros da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo). As vítimas, após atendimento da equipe chefiada pelo Dr. Dino Altmann, foram removidas ao Hospital Lourenço Jorge, sendo que uma delas sofreu fratura exposta.
 
Por conta das condições da pista — que usava trechos do misto e também do circuito oval —, a maioria dos pilotos largou com pneus de chuva e em fila indiana, por determinação da direção de prova. Cacá Bueno, que defendia a RC Eurofarma, chefiada por Rosinei Campos, partiu da pole-position e teve Allam Khodair ao seu lado. Valdeno Brito largou em terceiro, com Antônio Jorge Neto completando a segunda fila, enquanto Ingo Hoffmann e Luciano Burti vinham logo atrás. Em 2008, a pole era definida em formato de duelos com os seis primeiros da classificação — sendo o primeiro contra o sexto, segundo contra o quinto e terceiro contra o quarto —, com o dono da volta mais rápida ficando com a melhor posição no grid.
Pole-position, Cacá Bueno puxa a fila na largada da primeira Corrida do Milhão (Foto: Luca Bassani/Arquivo Stock Car)

Um pelotão formado por quatro pilotos se destacou nas primeiras voltas, com Cacá à frente, seguido por Khodair, Valdeno e Jorge Neto, e Ingo vindo um pouco mais atrás. A pista já começava a secar em determinados trechos e, com o desenrolar da prova, a estratégia já desempenhava papel decisivo.

 
Na sequência da corrida, Cacá e Khodair se desgarraram na frente, enquanto Valdeno puxava um pelotão que tinha Jorge Neto, Ingo e Burti muito próximos, com Antonio Pizzonia e Camilo chegando pouco depois. O #77 da A.Mattheis/Medley tinha um rendimento muito inferior aos demais e, indiretamente, contribuía para aumentar a diferença perante os líderes, passando dos 6s. Valdeno passou a ser atacado por todos os lados e resistia bravamente na terceira posição depois de batalhas contra Jorge Neto e Ingo.
 
A batalha no segundo pelotão era incrível. Burti chegou a passar Ingo e, na sequência, conseguiu superar Valdeno, trazendo o multicampeão na sequência. Só que os dois pilotos erraram a tomada da curva do oval no fim da reta — Hoffmann quase foi parar na barreira de pneus — e Brito retomou a terceira colocação. Também tinha briga boa lá na frente, com Cacá se segurando na ponta, mas com Khodair colado logo atrás. Detalhe para uma bexiga que ficou presa na entrada de ar na dianteira do carro do piloto carioca.
 
A pista já estava completamente seca, e aí era questão apenas de abertura da janela de pit-stops para que os líderes fossem para os boxes. Cacá aproveitou para ser o primeiro a fazer a parada com o combo reabastecimento e troca de pneus. Na volta seguinte, Khodair, que corria pela equipe Boettger, também fez o procedimento. Mas o ‘Japonês Voador’ levou azar em razão de um problema durante seu pit-stop e perdeu muito tempo.
Valdeno Brito no começo da primeira Corrida do Milhão da Stock Car (Foto: Fernanda Freixosa/Arquivo Stock Car)
Sem a oposição de Khodair, Cacá estava bem tranquilo na liderança da prova. A surpresa era a presença de Alceu Feldmann, em segundo. Mas havia uma explicação: o paranaense havia largado com pneus slicks, e por isso conseguiu dar o ‘pulo do gato’. Valdeno Brito seguia bem e fechava o top-3. Mais atrás, bela disputa entre os jovens talentos da Stock Car: Khodair, Camilo e Marcos Gomes batalhavam por um lugar entre os cinco primeiros.
 
Partindo para a fase final da Corrida do Milhão, Valdeno aproveitava o melhor rendimento dos pneus e encostava em Feldmann na briga pelo segundo lugar. O paranaense defendia de forma ferrenha e leal, mas não conseguiu evitar a ultrapassagem. Cacá continuava soberano na liderança e, aparentemente, inabalável.
 
Com 35 das 47 voltas por completar, Cacá entrava nos boxes para fazer seu último pit-stop. Só reabastecimento, mas sem troca de pneus. O carioca foi o primeiro dentre os líderes a parar e voltou em oitavo. Valdeno tomava a ponta da corrida. Durante a janela, Daniel Serra escorregou com seu carro ao passar pelo gramado molhado, chegou a tocar no guard-rail e ficou parado perto da entrada para os boxes.
Valdeno Brito festeja a conquista da primeira vitória da carreira na Stock Car (Foto: Fernanda Freixosa/Arquivo Stock Car)
Aí veio o momento decisivo da corrida: Cacá começava a ficar lento na pista em razão de uma falha na bomba de combustível. Assim, Valdeno conseguia aumentar ainda mais sua vantagem antes de fazer o pit-stop derradeiro. Reabastecimento feito, Brito retomou à pista, mas atrás de do carioca, que retornou à liderança da corrida. Os dois estavam muito próximos e com poucas voltas para a bandeirada milionária.
 
Só que o problema com a bomba de combustível do carro #0 voltou a prejudicar Cacá, que ficou parado praticamente em plena reta oposta. Com cinco giros para o fim, o clima já era de festa nos boxes da equipe de Andreas Mattheis. Valdeno partiu para a primeira e consagradora vitória na Stock Car e comemorou, junto com o time, a conquista do prêmio de US$ 1 milhão. 
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