Opinião GP: caos em Brasília mostra omissão da CBA e abandono do automobilismo brasileiro

O caótico fim de semana na capital federal traz à tona o estado de abandono que vive hoje o automobilismo brasileiro. Felipe Massa foi preciso na definição do assunto: "Vergonha!"

O AUTOMOBILISMO BRASILEIRO escreveu em sua história no último fim de semana. Brasília, a capital federal, recebeu a quinta etapa da temporada 2013 da Stock Car e a abertura do Brasileiro de Turismo num circuito cujas condições de segurança são pífias, oferecendo um risco desnecessário aos competidores. O que se viu no sábado, quando o cronograma das atividades de pista foi prejudicado por falhas graves nas zebras das curvas 1 e 4, e no domingo, quando a prova da principal categoria do esporte a motor nacional registrou dois acidentes graves — que, por muita sorte, não deixou feridos —, apenas evidencia que o Autódromo Internacional Nelson Piquet, sobretudo em seu anel externo, não oferece a menor condição de abrigar um evento de tal porte.

Mais do que isso, a gravidade do ocorrido no fim de semana apenas escancara a omissão da CBA, a Confederação Brasileira de Automobilismo, que deveria zelar pelo esporte que diz promover e, principalmente, pela integridade dos seus pilotos, os artistas que fazem o espetáculo. Mas nem isso. O presidente Cleyton Pinteiro em momento algum veio a público explicar o inexplicável. Calou-se, o dirigente, se omitiu. Não houve sequer um pronunciamento a respeito do caos em Brasília. Nem mesmo após o brado de Felipe Massa, criticando duramente CBA e o governo do Distrito Federal pela patética obra que deram o nome de reforma, o presidente saiu da toca.

“Olha a reforma feita pelo autódromo de Brasília! Vergonha! Isso mostra o quanto temos de melhorar o automobilismo no Brasil. Viu, governo do Distrito Federal? Viu, CBA?”, escreveu Massa por meio de sua conta no Instagram durante uma das inúmeras paralisações no sábado para reparos numa das zebras do circuito de Brasília. “A CBA não viu e nunca vê. É cega, surda, muda, deficiente, e cínica, torpe, néscia e revestida. Morta com seu aparelhamento — que não é barato — devidamente ligado”, opina Victor Martins, editor-executivo do GRANDE PRÊMIO e da AGÊNCIA WARM UP.

Acidente de Diego Nunes mostra que Brasília não oferece o mínimo de segurança (Foto: Miguel Costa Jr./MF2)

O caótico fim de semana na capital federal traz à tona o estado de abandono que vive hoje o automobilismo brasileiro. O sucateado autódromo de Brasília contrasta com o faraônico elefante branco chamado Estádio Nacional Mané Garrincha — Mané, coitado, não merecia ter seu nome num monumento ao desperdício do dinheiro público —, cujo valor da reforma ultrapassou R$ 1 bilhão. Ali ao lado, nem mesmo as zebras foram construídas da forma correta, colocando a vida dos pilotos em risco. 

O problema em Brasília, diga-se, não está só nas tão debatidas zebras. O traçado principal padece de falta de segurança há tempos e o asfalto jamais foi recapeado. Felipe Giacomelli, jornalista do GRANDE PRÊMIO e que morou cinco anos na capital federal, lembra outro detalhe: “Isso sem falar no péssimo estado de conservação dos arredores da pista, dos guard-rails e de outros equipamentos de segurança”.
 
Martins questiona a omissão da CBA. “O que cazzo faz essa entidade? Que cazzo faz esse presidente Cleyton Pinteiro? Eu sinceramente não sei. Alguém que vive o automobilismo brasileiro sabe me apontar uma benfeitoria que este senhor trouxe nos últimos quatro anos para ser comandante do esporte nacional? Será que ele sabe que houve uma reforma em Brasília? Será que ele sabe que aconteceu isso, uma destruição da área de escape das curvas 1 e 4 que impediam que os carros corressem apropriadamente sem que sugassem uma tampa enferrujada de boca-de-lobo ou que esfacelassem a parte acimentada? O que Pinteiro sabe de automobilismo? Ele sabe algo?”.

“Então é assim: o governo libera uma verba para reformas suínas, e aí chamam uma empresa que não entende do negócio, e se aceita, assim, do mesmo jeito que fizeram a porcaria da reforma da chicane ali no Café em Interlagos com a pachorra de conseguir errar a zebra. E por que a federação do DF não faz nada?”.

“O negócio é sujo demais. É vergonhoso, não evolui, nem mesmo fica no patamar de descaso e descalabro. É um poço, lameado, descuidado, que também envolve o não autódromo novo do Rio de Janeiro, que por lei deveria sair enquanto Jacarepaguá fosse varrido do mapa, mas Pinteiro, a federação do Rio, a vida, só acompanham pelo noticiário, porque é lindo que esteja no noticiário, o noticiário é lindo, viva o noticiário, e porque nada podem fazer se o terreno tem campo minado e bombas e explosivos e mata protegida pela mesma lei, mas o noticiário ajuda”, acrescentou o editor-executivo do GRANDE PRÊMIO.
Falha grave após reforma mal feita das zebras em Brasília (Foto: Victor Marcelino Brito)

A culpa pelo ocorrido no DF, entretanto, não é só da CBA. E a tal da Comissão dos Pilotos? Não deveria intervir neste caso e dizer “Não, não vamos correr numa pocilga dessas”? Onde está o debate pela segurança na categoria? São vocês, pilotos, os astros do negócio. Sem vocês, não há corrida, não há nada.

Errada também é a Stock Car ao correr lá, frisa Martins: “Qual é o problema dessa gente que comanda a Stock Car de tomar uma decisão de cancelar a etapa, antes ou mesmo durante o fim de semana? Que se chegasse ali depois das reformas, porcas e ridículas, e se averiguasse, com um mínimo treino, e verificasse que há um bueiro que se solta, que o cimento se desfaz, que a pista é um pasto e um canteiro de terra vermelha, linda, própria para o plantio”.

“Todos estes picas que não fazem pica nenhuma são responsáveis pela morte absoluta de um automobilismo, e os que antes se reuniram e bateram no peito para formar comissões e grupelhos e hoje nada fazem são igualmente coniventes pela precariedade da qual fazem parte”, completa Martins.
 
O ocorrido em Brasília seria só mais uma página triste do automobilismo nacional, mas outro episódio, trágico, selou o péssimo fim de semana para o esporte a motor. A corrida de kart em Carpina que resultou na morte de um piloto — e pelas imagens, observa—se a precariedade de segurança — é o extremo e o absurdo. Uma outra morte, a do expectador à beira daquilo que pode se chamar de pista, poderia ter acontecido. É de uma irresponsabilidade que requer medidas severas e criminais. O automobilismo está sob a batuta de gentes que andam para o esporte, que veem o kart como objeto de lazer e diversão e não se atentam para a calamidade.

No dia em que trabalharem em prol do enriquecimento do automobilismo, e não próprio, e começarem a dar expediente antes das 14h, algo sai da moita. Por enquanto, sobram o silêncio  dos que choram as perdas, mortos e feridos, e dos que preferem se calar por omissão e por vergonha.
 
Triste, lamentável, de chorar mesmo este atual estágio do esporte a motor nacional. E assim caminha a mediocridade.


Opinião GP é o editorial semanal do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.
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