Opinião GP: Stock Car censura GRANDE PRÊMIO e traz à tona ‘Várzea de Rodas’
Ao descredenciar o GRANDE PRÊMIO por ficar "indignada" com uma reportagem factual, a Stock Car manifesta um pueril, até infantil, ato de quem se sente dona de um negócio que só permite a presença de quem lhe adula
O GRANDE PRÊMIO recebeu no início da tarde da última quarta-feira (14) a informação de que foi descredenciado da cobertura da corrida da Stock Car em Belo Horizonte, o chamado ‘BH Stock Festival’, neste fim de semana. O pedido fora feito pelo repórter Bernardo Castro e anteriormente aprovado, mas desfeito após uma “ordem” da organização da categoria, sob comando da Vicar.
Tanto a área responsável pelo credenciamento quanto a assessoria de imprensa da Stock Car indicaram que o descredenciamento se deveu pela reportagem publicada em 8 de agosto, intitulada ‘Por que UFMG trava batalha contra corrida de rua da Stock Car em Belo Horizonte‘ e assinada por Bernardo e por Evelyn Guimarães, diretora de conteúdo do GRANDE PRÊMIO. A matéria é o mais completo e detalhado relato do embate judicial que a Universidade Federal de Minas Gerais e moradores travam contra a categoria, já que, como traz o subtítulo, “ruído dos carros pode provocar grave impacto em estudos que são desenvolvidos por pesquisadores nos prédios situados nos arredores do Mineirão, onde será montado circuito”.
A reportagem levou mais de um mês para ser publicada. Os jornalistas conversaram com reitora, docente e doutorando da UFMG, engenheiro ambiental e procurador da República, bem como a própria Stock Car, além de ouvirem dezenas de fontes. O time jurídico do GRANDE PRÊMIO deu respaldo e levantou documentos oficiais, de conhecimento público, com ações do MPF (Ministério Público Federal) e decisões de juízes e desembargadores. A matéria, em nenhum momento, faz qualquer juízo de valor: apenas aponta os fatos que vêm ocorrendo às vésperas da realização da etapa — que, em seu mais recente ato, está garantida.
No entanto, a Stock Car ficou “indignada” com tal publicação a ponto de se rebaixar e impedir que um jornalista profissional faça a cobertura de seu evento.
Há tempos temos visto ações intimidatórias de pessoas e organizações contra veículos de imprensa e jornalistas que vão à justiça para retirar do ar matérias que não lhes convêm. Não é o caso da organização da Stock Car, mas a raiz da censura e da mordaça está ali. Talvez não tenha ingressado uma ação contra o GRANDE PRÊMIO por estar juridicamente preocupada em garantir a corrida que tanto almeja em terras mineiras. Mas é espantoso, no mínimo, que a cúpula da Stock Car tenha se sentido “indignada” com alguém, vejam só, que faz jornalismo — de novo, sem qualquer opinião embutida em nenhuma daquelas linhas.
Foi em 2007 que o GRANDE PRÊMIO resolveu investir na produção de conteúdo in loco na Stock Car, sendo o primeiro veículo digital de comunicação a fazer isso durante toda a temporada. Por três anos, eu, Victor Martins, e Evelyn Guimarães viajamos a todas as etapas daqueles campeonatos para fazer uma cobertura que, até hoje, nunca mais foi vista. Foram tempos em que levamos ao leitor matérias investigativas e furos de reportagem que mexeram com a estrutura da categoria e da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo). Em meu blog, diante dos absurdos vistos na competição e em seu entorno, criei uma seção chamada ‘Várzea de Rodas’, relatando sob minha ótica o que via e vivia. A seção permaneceu pelo tempo em que escrevi naquele espaço, ainda existente, mas basicamente inativo pelas demandas e pelos caminhos que me trouxeram até aqui.
Em nenhum momento daqueles anos o GRANDE PRÊMIO foi descredenciado, desconvidado ou impedido de fazer uma cobertura in loco da Stock Car — aliás, em todos estes anos nesta indústria vital, esta é a primeira vez que isso nos acontece. A Vicar daquela época tinha a direção executiva de Carlos Col; a de hoje, Fernando Julianelli.
Importante aqui explicar um segundo ponto em paralelo: em abril, o GRANDE PRÊMIO passou a ter os direitos de transmitir ao vivo as corridas das categorias chanceladas pela Vicar — além da Stock Car, a Stock Series, a F4 Brasil, o Turismo Nacional e o TCR South America. O acordo foi costurado através da aliança do GRANDE PRÊMIO com LiveSports e Fill The Blank, que levaram ao fã de esporte a motor as transmissões da Fórmula E em 2023 e 2024. Com o fim da temporada da categoria de carros elétricos no fim de julho, o GRANDE PRÊMIO comunicou às partes seu desejo de não renovar o contrato, o que levaria, na ponta final, a uma negociação direta de um novo acordo para que os campeonatos da Vicar seguissem nas nossas plataformas.
Na última segunda-feira, dia 12 — portanto quatro dias depois da publicação da reportagem em questão —, a direção da Stock Car apresentou uma proposta absolutamente incompatível com o acordo anterior e certamente inflacionada em valores de direitos em comparação aos outros detentores de transmissão. Não é tão difícil concluir que, embora a Stock Car alegue que vai “priorizar nosso próprio canal no YouTube”, carregue contra o GRANDE PRÊMIO o ranço do incômodo de algo que não lhe agradou — de novo, sem razão.
Assim, o GRANDE PRÊMIO deixa de transmitir, com efeito imediato, as corridas das categorias supramencionadas.
O comportamento da cúpula da Stock Car é espantoso porque, em pleno ano da graça de 2024, manifesta um pueril, até infantil, e arcaico ato de quem se sente imperador de um negócio que só permite a presença de quem lhe adula com seus bajuladores de plantão. Não surpreende, no entanto, a partir do momento em que credencia livremente como imprensa influenciadores e aspirantes a jornalistas, ou seja, gente completamente descompromissada do exercício jornalístico e fiéis à meta de compartilhar, curtir e engajar, para dizer que tem uma robusta cobertura nas mídias digitais, inflando números para patrocinadores. Para a direção da Stock Car atual, uma reportagem factual soa estranha pela falta de costume, transformando seu ‘deslike’ em descredenciamento de quem é profissional.
A questão torna-se óbvia: caso a corrida em Belo Horizonte não fosse permitida pela justiça, como o público saberia dos fatos que levaram a tal não fosse a completíssima reportagem do GRANDE PRÊMIO? Não há selfies, arrobas maxi e turbo e collabs que expliquem.
Tal qual não houve explicação, quando a cúpula da Stock Car foi questionada, de quem partiu a “ordem” para descredenciar o GRANDE PRÊMIO da cobertura. Os panos servem quando a coragem falta.
Mas ainda há uma questão de respeito tanto em pessoa física quanto jurídica: o GRANDE PRÊMIO é o mais antigo e importante veículo de comunicação em esporte a motor do país, lido, visto e consumido pela cúpula da Stock Car, pelos pilotos e chefes de equipe da Stock Car, pelos assessores da Stock Car, por todo mundo da Stock Car. Se não sou eu o respeitado, ao menos que respeitem aos demais, sobretudo Evelyn e Bernardo: uma com uma história rica de mais de 17 anos nesta casa, trabalhadora incansável, combativa, incisiva, de postura impecável e admirável, e tantos outros predicados que encheriam mais e mais linhas, por tudo que já fez ao jornalismo deste meio; outro com uma história recente de pouco mais de um ano, dedicado, prestativo, inteligente, ‘bom dimais’ — como virou seu slogan no grupo, mineiro que é —, preparado para a cobertura que viria a realizar.
Não é a mim que esta Stock Car faz porque pouco espero dela; é aos meus colegas e amigos e ao público, que deixará de acompanhar a cobertura e os conteúdos in loco, bem como as transmissões ao vivo da Stock Car e das demais categorias, líderes de audiência dentre todos os concorrentes durante quatro meses. O GRANDE PRÊMIO segue com a publicação das notícias da Stock Car fazendo o que ninguém faz: apuração de fatos e bom jornalismo.
Queira ou não a ‘Várzea de Rodas’.
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