A programação do fim de semana inaugural da temporada 2018 começou atipicamente numa quarta-feira, quando foi programado um dia exclusivo para testes de pré-temporada. A antecedência foi porque a prova de abertura do campeonato foi marcada para 10 de março, um sábado, algo que não deu muito certo porque a Corrida de Duplas acabou não atraindo um grande público.
Em meio a tantas estrelas do grid, Rubens Barrichello era o grande centro das atenções. Meses antes, o recordista de largadas da F1 sofreu uma suspeita de AVC enquanto estava na sua casa em Orlando e ficou hospitalizado. Dias depois, na esteira de uma rápida recuperação, Barrichello anunciava seu parceiro para a Corrida de Duplas: Filipe Albuquerque. Começava ali, em Interlagos, uma nova fase de um dos mais laureados pilotos brasileiros de todos os tempos.
Na pista, quem roubou a cena mesmo foi JP Oliveira. O paulista enfrentou uma verdadeira maratona de mais de 24 horas de viagem do Japão até Interlagos para correr como convidado de Daniel Serra, chegou a perder alguns treinos exclusivos para novatos e ficou em desvantagem em relação aos outros concorrentes, já que o piloto não tinha ainda experiência alguma em um carro da Stock Car. Mas o talento de JP e o ótimo trabalho feito por Serra e a RC Eurofarma, chefiada por Rosinei Campos, o ‘Meinha’, fez toda a diferença.
Serra e Oliveira brilharam no treino classificatório, realizado na sexta-feira, e garantiram a primeira pole da temporada, com JP brilhando no trecho final da sessão, destinada aos convidados. A primeira fila foi completada por Augusto Farfus, convidado de Lucas Di Grassi, novo titular da Hero, ficando a apenas 0s142 do tempo da pole. Albuquerque colocou o carro #111 de Barrichello em terceiro no grid, partindo lado a lado com Felipe Fraga, que teve como convidado o holandês Nicky Catsburg. Em seu primeiro treino classificatório na Stock Car, Massa, que compartilhou o carro #0 da Cimed de Cacá Bueno, obteve o 11º lugar dentre 33 carros do grid.
João Paulo de Oliveira ajudou Daniel Serra a começar bem o ano do bi (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)
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O carro #30 da Blau, tripulado por César Ramos e Kelvin Van der Linde, liderou a maior parte da disputa debaixo de chuva, mas perdeu a liderança durante a troca de pilotos. Ainda assim, foi um grandioso resultado, sobretudo para Ramos, que subiu ao pódio pela primeira vez na Stock Car.
Só que Barrichello largou muito mal e, de primeiro, despencou para 24º na primeira volta. Serra tomou a liderança, enquanto Fraga subiu para segundo. Era a primeira grande batalha entre os pilotos que viriam a ser os protagonistas de 2018.
Felipe Fraga comemora a vitória na corrida 1 da Stock Car em Curitiba (Foto: Duda Bairros/Vicar/Vipcomm)
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Por conta da pausa de dois meses e meio em razão da Copa do Mundo, o calendário da Stock Car compreendeu uma verdadeira maratona entre abril e maio, com quatro etapas — oito corridas — no espaço de oito semanas. Assim, 15 dias depois da etapa no Paraná, os pilotos aceleraram no circuito mais travado do ano, o Velopark, em Nova Santa Rita, região metropolitana de Porto Alegre. A etapa foi marcada por um grande caos no treino classificatório de sábado.
A chuva, que já era constante, desabou de vez a partir da segunda metade do Q1 e definiu os rumos da sessão, já que os pilotos do segundo grupo não tiveram condições de superar os tempos dos competidores que foram à pista pouco antes. O treino acabou sendo interrompido depois de uma batida sofrida por Sergio Jimenez no início do Q2.
A sessão, no fim das contas, acabou durando mais de três horas. Levou a melhor o nome mais experiente e vencedor do grid: o pentacampeão Cacá Bueno voltava a comemorar uma pole-position na Stock Car, com destaque para Allam Khodair na segunda posição, Lucas Foresti em terceiro, Ricardo Zonta em quarto e Átila Abreu em quinto, fechando o top-5 com dois carros da Shell V-Power, dois da Cimed e um da Blau. Serrinha largou em 12º, enquanto Fraga saiu em 14º.
Na corrida 1, Cacá lutou pela vitória até o fim, enquanto Khodair foi valente e buscou estar entre os primeiros o tempo todo, mas correu sem push-to-pass por conta de uma punição sofrida na Corrida de Duplas. Assim, o principal adversário do pentacampeão na corrida foi o não menos experiente Ricardo Zonta, que não desistiu da ultrapassagem e chegou muito perto.
Mas coube a Cacá a vitória e o fim do jejum de quase dois anos sem triunfos na Stock Car. Julio Campos completou o pódio.
Chuva forte interrompeu a classificação no Velopark (Foto: Duda Bairros/Vicar)
A quarta etapa do campeonato serviu para Serra pavimentar mais um pouco do seu caminho rumo ao bicampeonato. A quente Londrina recebeu a Stock Car no primeiro fim de semana de maio, às vésperas do Dia das Mães, o que proporcionaria um dos momentos mais especiais do campeonato.
A corrida 2 tinha tudo para ter Átila Abreu como vencedor. Foi uma prova com grandes disputas e que chegou a ter Cacá Bueno e Thiago Camilo à frente, ficou com a cara do sorocabano. Até que o piloto acabou sendo punido por conta de um incidente no pit-stop, o que abriu caminho
para a segunda vitória de Di Grassi na Stock Car, a segunda no Paraná. Barrichello, que havia terminado em quarto a corrida 1, fechou a disputa em P2, seguido por Serra, que foi construindo sua campanha com base na regularidade e consistência. Sexto, Wilson foi o maior pontuador daquele fim de semana.
Max Wilson levou a mãe, Dona Maria, ao pódio da corrida 1 em Londrina (Foto: Fernanda Freixosa/Vicar)
Quando a Stock Car rumou para Santa Cruz do Sul, no interior do Rio Grande do Sul, Serra marcava 142 pontos e ocupava com folga a liderança do campeonato, com Marcos Gomes aparecendo em segundo 97 pontos, 45 atrás de Daniel. A tabela ainda mostrava Wilson, terceiro com 90 tentos; Julio Campos, quarto com 85; e Cacá Bueno, com 80. Fraga era o sexto colocado e tinha 64 pontos de desvantagem para Serra.
Fraga, aliás, viveu um fim de semana carregado de emoção em Santa Cruz do Sul. Ocorre que fez frio e choveu muito durante praticamente todo o sábado, o que impediu a realização do treino classificatório. Assim, a direção de prova remarcou a definição do grid de largada para a manhã de domingo.
O placar da temporada depois de cinco etapas e nove corridas apontava Serra com 152 pontos e o bicampeonato bem encaminhado. Marquinhos tinha 109 tentos e era o vice-líder, enquanto Fraga passou Max para sair rumo às férias em terceiro com 92 pontos, exatamente 60 atrás do seu grande oponente na sequência do campeonato.
A arrancada de Fraga e a consagração de Serra como bicampeão
Na volta da Copa do Mundo, a "corrida do ano" – em Goiânia, a Corrida do Milhão inovou com a disputa no circuito externo quase oval. E a emoção tomou conta: Barrichello venceu na base da estratégia e levou o filho ao pódio, o auge de um ano no qual superou uma suspeita de AVC.
Max Wilson e Rubens Barrichello no pódio da Corrida do Milhão (Foto: Denis Ribeiro / Vicar)
Ali também se pontuou o primeiro momento em que Fraga aparecia como possível concorrente a Serra, já que foi o quarto colocado da prova. Em compensação, Serrinha, que tinha tudo para vencer novamente a Corrida do Milhão, teve um problema no seu pit-stop quando liderava e perdeu a chance de faturar a cobiçada vitória, cruzando a linha de chegada em oitavo.
Duas semanas depois, Fraga venceria a corrida 1 em Campo Grande e iria ao pódio em Cascavel, enquanto Serra zerava, para construir de vez a história do final do ano; a briga seria entre eles.
Desse momento até o final da temporada, houve apenas um intervalo de 50 minutos em que a disputa não teve favorito: da bandeirada da corrida 1 no Velo Città, etapa seguinte, até o final da segunda bateria.
Por quê? Porque quando Fraga venceu a primeira prova do dia, diminuiu para oito pontos a diferença. Era impossível, ali, dizer que algum deles tinha vantagem. Porém, ao final daquele domingo, Serra iria ao pódio pela segunda vez em 2°, enquanto Fraga seria apenas 6° na corrida 2. A diferença crescia de novo e não mais cairia.
De Londrina até Interlagos, passando por Goiânia novamente, Serra só cresceu – e consolidaria o título no sábado da etapa final, quando Fraga teve problemas e foi muito mal no treino de classificação, chegando a se emocionar nos boxes. O piloto da RC Eurofarma, então, fez corrida sem riscos para, na reta do mais famoso circuito brasileiro, fazer 'zerinhos' e comemorar seu bicampeonato.
Daniel Serra (Foto: Duda Bairros/Stock Car)
Se esse é o resumo do ano, é também uma abertura, uma projeção para 2019. Pois o domínio de Serra força mudanças no grid. A Cimed de Fraga, por exemplo, já se programa para bater o rival com trocas.
Para se fortalecer, a equipe de Fraga manteve Cacá Bueno e contratou Gabriel Casagrande, que fez top-10 com a Vogel, dona de carro bem abaixo de seu novo.
A resposta da RC Eurofarma? Trazer de volta Ricardo Maurício e igualar o número de pilotos da rival: três. Ao lado de Serra e de Max Wilson, Maurício terá a função de evoluir o carro para que não fique defasado em relação ao principal adversário.
Gabriel Casagrande é um dos muitos pilotos que vai mudar de casa para 2019 (Foto: Duda Bairros/Vicar/Vipcomm)
Se as favoritas se mexem, quem vem atrás não pode ficar parado. E, por isso, a projeção para 2019 é de mais emoção ainda na briga pelo título. Barrichello se mantém como a força da Full Time; Julio Campos vê a Prati Donaduzzi entrando no pelotão que briga pelo título; Marcos Gomes, sempre candidato, estará de nova casa.
Ou seja: mesmo com a saída de Di Grassi, o grid seguirá forte, com equipes mirando alcançar as duas principais do momento. Cada movimento neste xadrez parece fortalecer a categoria. Agora, é preciso que os bastidores se agitem menos.
Se o compasso de quem manda na categoria seguir a qualidade de quem está na pista, 2019 pode ser ainda melhor do que a última temporada. Para o automobilismo brasileiro, seria o ideal — e necessário.