UFMG prevê gastos de “quase R$ 1 milhão” em mitigação de impactos de etapa da Stock Car
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) precisou se adequar para minimizar os impactos do ruído causado pela Stock Car. De acordo com a reitora Sandra Goulart Almeida, os custos podem chegar a R$ 1 milhão
Temendo efeitos negativos em suas instalações e no desenvolvimento de suas pesquisas por causa do ruído causado pelos carros, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) travou uma guerra judicial contra a realização da Stock Car em Belo Horizonte. As razões apresentadas pela universidade não foram aceitas pela justiça, que deu sinal verde para que a categoria realizasse a primeira edição da prova no entorno do estádio Mineirão. Por isso, a faculdade teve de se mexer e revelou ao GRANDE PRÊMIO que o plano de mitigação dos impactos custaram “quase R$ 1 milhão”.
De acordo com a reitora Sandra Goulart Almeida, as medidas de mitigação foram tomadas em diferentes frentes. Além do fechamento da clínica odontológica — que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e gera receita para a instituição —, a entidade teve de arcar com custos de transporte dos 27 animais que podiam ser transportados (entre eles equinos, bovinos e cães). Para os que tinham um manuseio mais delicado, foi preciso fazer adaptações nas instalações do campus.
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“Alguns animais que estavam internados no hospital foram mandados para a nossa fazenda em Igarapé. Mas nós também tivemos o apoio solidário das Faculdades Arnaldo e da UniBH. Parte do orçamento foi destinado à alimentação desses animais nos locais para onde eles foram. Também tivemos de pagar diárias para as pessoas que os receberam”, contou Sandra.
“A universidade teve que fazer gasto do seu próprio orçamento, gasto do orçamento público, para fazer ações mínimas de mitigação. Além de transportar os animais, também foi preciso proteger o Biotério Central e as salas de criação onde ficam as matrizes. Tentamos fazer com que o impacto fosse o menor possível. Então destinamos verba para blindar as portas do local. Isso sem contar as equipes que nós tivemos de contratar para nos dar apoio para monitorar os animais silvestres e a estrutura que teve de ser montada para mitigar minimamente os impactos que nossa comunidade pudesse ter”, continuou a reitora da UFMG.
O Biotério Central é responsável pela produção de linhagens de camundongos e de ratos para pesquisas. O local atende também a escola de medicina e outras instituições de fora do eixo da UFMG, que podem comprar de lá o animal experimental. Porém, a faculdade não teve verba suficiente para proteger todos esses bichos e focou os esforços nas matrizes — que vão se reproduzir e gerar outros camundongos —, mas os que foram submetidos ao impacto foram inviabilizados para pesquisas futuras.
“Gastamos muito recursos públicos para poder fazer uma blindagem nas portas, mas isso não consegue vedar totalmente. A gente concentrou as matrizes em uma sala, mas os que não estavam nessas salas vão ter de ser inviabilizados. A gente produz matrizes para o Brasil inteiro, então, quer dizer, vamos passar por um período que a pesquisa, não só na UFMG, mas também de várias outras instituições, serão prejudicadas, porque a gente não vai poder fornecer os camundongos. Não estão em estado adequado”, destacou Sandra.
A Escola de Veterinária também abriga o laboratório de controle de qualidade do leite, que é vinculado e presta serviço ao Ministério da Agricultura. O local recebe leite de outros estados e as amostras chegam diariamente, e são realizadas cerca de 60 mil análises por semana. De acordo com Afonso de Liguori Oliveira, diretor do hospital veterinário, além do trabalho ter sido descontinuado em dado momento, os custos também aumentaram de forma considerável devido às frequentes calibrações e validações dos equipamentos.
“Foi para nós um impacto muito grande e não foi só no momento da corrida. Desde que se iniciou o processo de adequação do piso, do asfalto, a intervenção para colocar muros, muradas, alambrados, foi restrita a circulação de veículos a tal ponto que a entrada da escola de veterinária ficou numa dimensão que impedia a entrada de caminhão. Tivemos de encontrar uma rota alternativa para os caminhões entregarem as amostras”, disse o diretor.
“Então, assim, foram vários prejuízos de diferentes esferas. Os equipamentos são muito sensíveis, com sensores laser, então qualquer desalinhamento por trepidação, com movimentação de solo, pode causar dano na qualidade da análise, então nós tivemos de fazer muito mais calibrações e validações do processo de quantificação, já que ele está ligado a remuneração do leite e a qualidade do leite, e isso logicamente impacta nos nossos custos”, destacou Oliveira.
A universidade disse que alguns dos impactos só poderão ser sentidos “nos próximos dias”, mas, de acordo com Sandra, o prejuízo como instituição é “incalculável”. No que diz respeito ao aspecto financeiro, a expectativa para finalização do balanço é nas próximas semanas. Os números, portanto, não estão fechados, mas a estimativa é que os planos de mitigação chegaram “bem próximos de R$ 1 milhão” em custo.
A Stock Car retoma suas atividades entre os dias 6 e 8 de setembro com a etapa em Nova Santa Rita, Autódromo de Velopark.
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