Coluna Wild Card, por Juliana Tesser: É de partir o coração

Ler a entrevista de Joan Lascorz na revista espanhola ‘Solo Moto’ faz qualquer um se sentir impotente. É duro saber que nada pode ser feito para rebobinar essa fita e devolver o espanhol à condição em que ele estava antes daquele fatídico treino no circuito de Ímola

 

Sou uma pessoa que chora fácil, mas tenho certeza que qualquer um que veja Joan Lascorz falar sobre seu acidente em Ímola concordaria que não é tão fácil assim conter as lágrimas. A primeira coluna Wild Card da temporada 2013 vai fugir um pouquinho da MotoGP – tema principal deste espaço – para lembrar o que aconteceu com o espanhol. 
 
Em 2 de abril do ano passado, Joan sofreu uma queda durante um treino oficial do Mundial de Superbike no circuito de Ímola, na Itália. O piloto da Kawasaki sofreu uma séria lesão na coluna, que resultou em uma paralisia que se estende da região do tórax até a extremidade inferior de seu corpo. 
Acidente em Ímola deixou Lascorz em uma cadeira de rodas (Foto: Facebook/ Joan Lascorz)
Graças ao trabalho dos médicos – inclusive do Dr. Claudio Costa, um dos responsáveis pela Clínica Móvel da MotoGP – os movimentos dos braços do piloto foram preservados, mas ele não tem sensibilidade nos dedos. De um atleta saudável, Joan passou a ter dificuldades para fazer tarefas básicas e agora precisa da ajuda de uma enfermeira para se vestir, tomar banho e cozinhar.
 
Lascorz, entretanto, segue correndo. Desta vez contra tempo. Joan choca por sua lucidez. Consciente de que sua nova condição resulta em um volume maior de gastos, o piloto tenta encontrar uma nova forma de ganhar dinheiro. 
 
Como a maioria dos pilotos e, provavelmente, a maior parte dos atletas, Lascorz nunca soube fazer outra coisa da vida. Passou parte de sua infância e juventude envolvido com o mundo das motos e, como muitos de seus pares, nunca aprendeu outra profissão. 
 
Sabendo que o dinheiro de seu seguro não vai durar para sempre, Joan decidiu aprender sobre a bolsa de valores e busca uma maneira de garantir seu futuro logo. 
 
Além de se preocupar com sua condição financeira, o espanhol segue lutando para melhorar seu estado físico. Joan tenta ganhar força para poder conquistar certa dose de autonomia e, apaixonado pela velocidade, trabalha em um projeto para poder correr de kart. O piloto, entretanto, ressalta que não será fácil, já que ainda não sabe como adaptar o veículo para sua nova condição física. 
 
Ver Joan falar sobre seu acidente escancara a fraqueza do ser humano. Ele se lembra de cada detalhe de seu acidente. Lembra da dor de colidir com o muro a 200 km/h. Lembra de não sentir seu corpo ainda no asfalto de Ímola. Lembra do resgate e sabe da importância da ação dos médico que, ainda que pouco tenham podido fazer, agiram rápido para preservar o movimento de seus braços.
 
Parece pouco. E é. O próprio Joan diz que é muito pior não poder sentir os dedos, do que não poder mover as pernas. Sim, cada piloto que sobe em uma moto e alinha em um grid sabe muito bem dos riscos aos quais está exposto. Todos sabem a fina margem que separa vida e morte. Mas quando a vida muda tão rápido, é difícil não pensar que tudo poderia e deveria ser diferente. 
 
Lascorz relata que, preocupado com sua recuperação, nunca parou para ver a telemetria e entender o que o fez cair. Joan sabe apenas que seu acidente poderia ter sido evitado. E é bem provável que pudesse mesmo. Em corridas de moto as quedas são coisas normais e é por isso que as exigências de segurança são ainda mais rígidas do que em categorias como a F1, por exemplo. 
 
Falando à publicação espanhola, Lascorz lembra que muitos circuitos que antigamente recebiam corridas de moto sem problemas, hoje não têm condições de comportar as máquinas atuais. O risco aumentou exponencialmente e as medidas de segurança nem sempre acompanharam essa evolução. 
 
É claro que as corridas de moto não são totalmente seguras. E elas nunca serão. Mas é preciso reduzir as variáveis. Joan venceu sua primeira batalha e sobreviveu ao acidente que podia tê-lo matado, mas agora ele tem de buscar uma forma de viver com sua nova condição. 
 
Enquanto isso, fica a lição para todos os circuitos. Na Itália, na Espanha, na Inglaterra, nos Estados Unidos e, também, no Brasil. 
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