Coluna Superpole, por Victor Martins: Quem é melhor: Alonso ou Vettel?

Não adianta, agora, Alonso atribuir somente a Newey suas novas derrotas. Vettel, é bom sempre refrescar a memória seletiva, ganhou corrida de ponta a ponta com uma Toro Rosso quando esta andava no mesmo ritmo lento da Red Bull. Seu desenvolvimento é notável. E trabalhando com a realidade dos fatos, deveriam se curvar àquele que, com o tricampeonato na mão, passa a ser nos números e estatísticas maior que Alonso cinco anos mais jovem

Um campeonato que vai ter um perdedor entre Fernando Alonso e Sebastian Vettel suscita a dúvida que parecia eterna a comparar Ayrton Senna e Michael Schumacher – ainda bem. Agora que o alemão engatou a sétima rumo ao terceiro título, os rivais alegam que o pavimento para a glória do alemão é feito pela máquina engenhosa de Adrian Newey e pela sorte. Sendo que Vettel é igualmente genial e não deve em nada em termos de talento a Alonso.

Sebastian Vettel (Foto: Red Bull/Getty Images)
 
A F1 permite que se faça a pergunta de quem é melhor entre os dois, e uma pesquisa pública sem margem de erro daria a vitória a Alonso. Só que a resposta do povo se baseia em sua maioria num exercício de imaginação: o de que Vettel nada faria com este carro da Ferrari ou que Alonso já seria campeão com a Red Bull na Hungria, por exemplo. Menos. Vettel está longe de ser apenas um comensal de carros perfeitos. O erro desta avaliação está em não pensar em outras linhas de raciocínio que levam a crer que Vettel trabalha melhor que Alonso para construir um carro perfeito. Assim, por que não questionar a eficácia de Alonso enquanto acertador ou por que não averiguar que os carros que o espanhol guia não evoluem como os demais? Por que um piloto só deve ser avaliado pelo que meramente faz em pista durante treinos e corridas?
 
Alonso conquistou seu último título em 2006 com uma Renault a priori pior que a Ferrari de Schumacher. Ali estava por surgir o grande nome da F1, aquele que bateu duas vezes no maior de todos. Mas ao mudar para a McLaren e perder todas as infinitas regalias conquistadas pelo nada ilibado e ético Flavio Briatore, Alonso não se encontrou. Ao entrar em conflito com Hamilton, fez a McLaren perder um título fácil para Raikkonen. De volta à Renault em 2008, ganhou uma corrida na maracutaia de Cingapura, outra no braço no Japão e passou 2009 em branco. Depois pulou para a Ferrari. Mais três anos de seca. Não bateu a Red Bull em 2010 porque tinha um Petrov no meio do caminho em Abu Dhabi – e quem perde um título empacado em um Petrov, no fundo merece não ganhar. E no ano passado, não teve chance nenhuma contra um Vettel empolgado pela conquista inesperada do ano anterior. 
 
2012 começou com a Ferrari tomando tempo até de Sauber, Mercedes, Lotus e Force India. Ali, a McLaren tinha sobrando o melhor equipamento e a Red Bull se apresentava em média 0s5 pior. O que significa dizer que os taurinos tinham um trabalho levemente complicado para quem estava acostumado a andar na frente e a Ferrari, uma montanha mais do íngreme. Com sorte e competência, Alonso foi se aproveitando das oscilações e quebras dos rivais para chegar à liderança da tabela com um carro que melhorou muito em relação ao início, até porque tinha um espaço de evolução muito maior do que os outros. Na miúda, a Red Bull alcançou a McLaren, que esboçou uma reação e passou a dominar novamente durante algumas provas. Mas Hamilton novamente não tirou proveito e Button, capenga durante umas sete etapas, estava longe demais para querer sonhar alto. 
 
Aí chegaram as férias da F1, e a Red Bull fez seu trabalho. Sabendo que sua eficiência estava na aerodinâmica e nas curvas, Bélgica e Itália serviram para extrair o maior número de pontos possível até que chegasse a fase asiática, com pistas diferentes entre si, mas que exigiam da precisão do carro. Pronto. O trabalho desenvolvido por Vettel e entregue a Newey surtiu efeito. Notem que Webber também se aproveitou disso, beliscando segundos ou terceiros lugares, mas é evidente que não se espera que Webber tenha a última palavra ali na garagem para se definir onde se deve mexer numa aleta ou na altura de uma asa ou como usar eficientemente os pneus. Num campeonato que se iniciou com sete vencedores diferentes, Vettel tirou a a graça com quatro vitórias seguidas e uma recuperação formidável em Abu Dhabi, terminando logo atrás de Alonso largando dos boxes.
 
Em outras palavras, Vettel construiu e ergueu a Red Bull ao topo em quatro anos. Alonso nunca fez isso com a Ferrari em três.
 
O mestre técnico Ricardo Divila apontou algumas histórias e fatores sobre a relação piloto/engenheiro que sustentam a tese de que falta a Alonso a sintonia fina. “Por mais que se olhe os dados e telemetria, a interpretação do que o piloto sente é primordial, especialmente quando o piloto pode identificar o que ele quer para andar mais rápido”, disse. “Há o que se chama de carro perfeito, pelas leis da Física, mas cada piloto guia de sua própria maneira – não necessariamente a mais rápida teoricamente possível, mas a mais rápida na realidade.”
 
Cada piloto, então, ajusta o carro da maneira que crê ser melhor. É claro que a Red Bull e a Ferrari desenvolvem seus modelos de acordo com o estilo de seus primeiros pilotos, como acontecia com Schumacher – que prefere uma frente agressiva – ou Alain Prost – adepto de um carro traseiro mais estável. Divila, aliás, lembrou do contraste entre o francês e Keke Rosberg. “Keke era um malabarista, com um senso de equilíbrio incrível, e rapidissimo. Mas quando estava na McLaren ao lado do Prost andava sempre atrás, pois John Barnard se apoiava no Prost para o acerto do carro e obrigava o Keke a correr com o mesmo acerto”, falou. “Discutindo o assunto com o Keke na época, ele se queixava de um carro que tinha uma dianteira mole, difícil e lerdo nas curvas. Ele detestava guiar contra os seus instintos e reflexos. Foi só no fim de seu ultimo ano que trocaram de engenheiro de pista do Keke, acertando o carro na sua maneira de guiar, quando passou a igualar ou andar na frente do Prost.”
 
A habilidade de desenvolver um carro para a sua maneira de guiar também é exemplificada ao extremo quando a Ferrari deu o deslanche com Schumacher, salientou Divila. “Carro, aerodinâmica e pneus foram desenvolvidos estreitamente a tal ponto de ele dominar por um período enorme de tempo. Na sua retirada, o carro ficou difícil de guiar para os pilotos seguintes”, apontou, para então falar que falta entrosamento entre Michael, Ross Brawn e Rory Byrne, o “verdadeiro engenheiro na Ferrari”. 
 
Então falando da questão atual, Divila ressaltou que Alonso é um dos maiores de todos os tempos “nos quesitos agressividade, habilidade e garra”, mas que lhe falta “um pouco de capacidade técnica”. Algo que sobra no concorrente alemão. “Pelos comentários do Newey, Vettel tem isso, é tão rápido quanto Alonso, mas tem um pouco de dificuldade em tráfego, por ser menos agressivo. Mas na balança, o conjunto habilidade-técnica da Red Bull é superior ao da Ferrari”, avaliou. 
 
Divila não deixou de elogiar o trabalho de Newey, com quem trabalhou. “Devo dizer que ele é bem melhor que eu em aerodinâmica”, confessou e encerrou. 
 
Por fim, não adianta, agora, Alonso atribuir somente a Newey suas novas derrotas. Vettel, é bom sempre refrescar a memória seletiva, ganhou corrida de ponta a ponta com uma Toro Rosso quando esta andava no mesmo ritmo lento da Red Bull. Seu desenvolvimento é notável. E trabalhando com a realidade dos fatos, deveriam se curvar àquele que, com o tricampeonato na mão, passa a ser nos números e estatísticas maior que Alonso cinco anos mais jovem. E que já é um dos melhores de todos os tempos.
 
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