Depois de uma maratona tão intensa como foi essa edição da ‘24 Horas de Daytona’, eu me vejo diante dessa tela de computador muito emocionado. É uma enxurrada de emoções que envolveu todo mundo nesses últimos dias e culmina agora, com um resultado que vamos levar para casa com orgulho.
Mas não estaria sendo verdadeiro comigo mesmo se começasse essa coluna falando de outra coisa que não fosse o drama das famílias de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Eu, como pai de duas maravilhosas filhas adolescentes, fico tentando me colocar no lugar de tantos pais e mães que viram seus filhos saindo no sábado a noite para um momento de diversão e, depois, só encontrá-los na relação das vítimas fatais. Triste, muito triste.
Bom, vamos falar da corrida. Há dois aspectos aqui muito reservados e íntimos que quero dividir com vocês. O primeiro deles é técnico, e o outro, pessoal. Eu não quero parecer pretensioso, mas assim como no ano passado, tínhamos todas as condições de vencer agora novamente. O trabalho da equipe é fantástico, o comprometimento de todos é uma inspiração para muita gente e, no time de pilotos, tivemos a felicidade de ter o Marcos Ambrose a somar com o quarteto da vitória de 2012: eu e os meus ‘brothers’ A.J. Allmendinger, Justin Wilson e John Pew, esse também o meu parceirão do ano todo.
O A.J. largou e se manteve na posição de origem nas primeiras voltas, a sexta, mas andando num ritmo tão forte que na quinta volta ele assinalou a passagem mais rápida que o nosso carro #60 daria durante todas as 24 horas. Ainda na primeira hora, já em quinto, ele precisou parar nos pits para reparos. Os mecânicos viram que o problema estava na suspensão, mas precisamente num tirante na dianteira direita. Dos males o menor porque, de princípio, deu a impressão de ser algo de transmissão, tipo câmbio ou diferencial, o que seria muito pior.
Os mecânicos trabalharam muito rápido, mas mesmo assim, quando o A.J. entrou de volta na pista, estava sete voltas atrás do líder. Aí, o que fazer numa situação dessas? Logo foi traçado um planejamento de emergência para reverter o quadro. Como aconteceu o problema no início da prova, quando estávamos embolados, caímos bem para trás. Para vocês terem uma ideia, quando eu entrei no carro (fui o segundo na escala) no início da terceira hora da corrida, a gente estava em 34° na geral e 14° na categoria DP, que quer dizer Daytona Prototype.
Na minha vez no carro, fiz o melhor que estava ao meu alcance e ‘cansei’ de fazer ultrapassagens para poder alinhar o carro mais ou menos no bolo dianteiro, dos carros DP. Pilotei por cerca de uma hora, completei umas 30 voltas e entreguei o carro para o John Pew em 14° na geral. Isso aconteceu lá pelas 18h45, 21h45 no Brasil. O engraçado é que, durante a minha pilotagem, eu estava tão concentrado que não sentia qualquer tipo de dor. Só quando eu desci do carro eu senti a perna incomodando por causa da musculatura que deu uma atrofiada por falta de exercícios nesse período de recuperação.
Durante o stint, o pessoal da equipe ia me perguntando se eu estava bem ou se precisava parar. Como estava tudo legal, fui até o tanque terminar. Saí do carro tão contente com minha performance e por ter superado tudo aquilo que eu me sentia maravilhosamente bem. Se me perguntassem na hora, certamente iria dizer que poderia fazer mais dois ou três stints.
Só que é nessas horas que a gente tem de ser profissional, deixar a emoção de lado. Minhas atitudes na sequência foram pensando na equipe, pensando naquela nossa família, não de forma egoísta. Com a estratégia de fazer volta de classificação sempre que fosse possível e retardar ao máximo as paradas após os líderes, fomos descontando volta atrás de volta. Lá pelas 9h00 (meio dia de domingo no Brasil), era hora de eu voltar para o carro e cumprir um double-stint. Isso significa pilotar dois tanques completos.
Foi aí que eu fiz uma avaliação muito fria e abri mão. Pelo esforço do primeiro stint, receei colocar o trabalho de todos a perder tendo alguma dificuldade de aguentar o tranco. Já tinha feito minha parte na pista muito bem, a equipe estava feliz e eu me concentrei a ajudar na estratégia. Chegamos a liderar com o Ambrose e o A.J., já tendo descontado todas as voltas. Faltou pouquinho para a vitória, mas esse terceiro lugar foi importantíssimo e vou voltar para casa, em Miami, com uma sensação deliciosa.
Desculpe se eu estou meio confuso ao colocar essas ideias aqui, é que realmente agora bateu um cansaço daqueles. Na coluna de amanhã, a derradeira dessa cobertura para o Grande Prêmio, vou contar outros detalhes. Por agora, preciso de uma cama! Até mais!