Conta-giro: “Curtindo cada volta”, Fittipaldi celebra entrosamento ‘utópico’ da equipe no bi da United SportsCar

Em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO, Christian Fittipaldi falou da conquista do bicampeonato da United SportsCar, destacando o trabalho da equipe Action Express e o entrosamento com o português João Barbosa como fundamentais para o sucesso no endurance norte-americano. Tal condição o faz curtir o automobilismo mais do que nunca na carreira

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É claro que Christian Fittipaldi leva muito a sério o campeonato da United SportsCar. Não fosse assim, não teria conquistado, no último fim de semana, o segundo título consecutivo na categoria. Por outro lado, ele diz que jamais conseguiu curtir tanto uma fase da carreira quanto hoje.
 
Aos 44 anos, e depois de rodar pelo automobilismo mundial, Christian cravou o pé no endurance norte-americano. Já venceu as 24 Horas de Daytona duas vezes e as 12 Horas de Sebring, as duas provas mais importantes da modalidade em solo americano, e festeja agora o bicampeonato.
 
“Estou mais tranquilo do que nunca. Essa é a época mais ‘enjoying’ da minha carreira, que eu mais estou curtindo”, fala o piloto em entrevista ao GRANDE PRÊMIO. “Estou curtindo cada volta dentro do carro. Óbvio que levo a sério, que quero ganhar. Mas passei perto de ter isso na Indy. Agora, em uma das melhores equipes, um dos melhores carros, estou curtindo mais do que nunca.”
Christian Fittipaldi na edição 2015 das 24 Horas de Daytona (Foto: José Mário Dias)

Para tal, mistura-se à oportunidade de andar na frente, a experiência de quem já sabe bem onde vale a pena concentrar os esforços. “Mais velho, você enxerga a coisa com outros olhos. Antigamente, um treino era uma corrida. Queria estar sempre no top-3, competitivo o tempo todo. Hoje em dia, penso só na corrida. Se fico em oitavo, décimo, no treino, não estou nem aí”, fala.

 
E, pensando na corrida, as horas de voo também contam. Muito.
 
“Situações de mudança, como uma chuva, me deixavam mais tenso, hoje não. Já andei umas 15 vezes em Daytona, sei quando tenho que ir 4-wide na curva, não tem alguém me falando. É a sensibilidade. E sei quando não posso ir, porque o carro de baixo pode desestabilizar e acabar batendo em mim”, relata.
 
“Na brincadeira de fim de ano da Granja Viana: a minha equipe e a do Rubinho raramente têm os karts mais rápidos, mas estamos ali com as muitas horas de voo”, cita. O time que Christian monta todo ano para as 500 Milhas de Kart já ganhou a prova cinco vezes.
 
É com esta mesma tranquilidade que Christian conversa com a reportagem do GP para tratar da temporada que o levou ao bi da United SportsCar. As vitórias, um princípio de crise que se instaurou após uma jornada à Costa Oeste dos EUA e a dramática corrida decisiva em Road Atlanta.
Ponto alto da temporada foi a vitória nas 12 Horas de Sebring (Foto: José Mário Dias)
A campanha
 
A United SportsCar nasceu em 2014 após a fusão de dois campeonatos, a ALMS e a Grand-Am. Fittipaldi e o português João Barbosa, com a companhia de Sébastien Bourdais nas provas mais longas, venceram já na primeira corrida: as 24 Horas de Daytona. Foram mais duas vitórias no restante do ano para assegurar a taça.
 
Neste ano, a missão se tornou um pouco mais complicada. Em Daytona, o trio terminou na segunda posição. Um mês e meio depois, em Sebring, venceu pela primeira vez. “Este foi o ponto alto da temporada, sem dúvida”, avalia Christian.
 
O problema foi o que veio depois. Em Long Beach, a dupla luso-brasileira ficou na quinta posição. E, em Laguna Seca, terminou no quarto posto, mas quase levando uma volta dos vencedores, Michael Valiante e Richard Westbrook. O desempenho ruim em duas provas seguidas gerou um princípio de crise e foi tratado com uma longa reunião de emergência.
 
“Este foi um ponto extremamente baixo. Em Laguna Seca, quase levamos uma volta ‘on speed’, na velocidade. Sem problema mecânico, sem erro, nada disso. Na terça-feira, o telefone estava esquentando… Teve um conference call gigante, e fomos treinar em Road Atlanta com o mesmo acerto para tentar entender o que estava errado. Percebemos algumas coisas, e quando mexemos no carro, a evolução foi muito grande. A gente estava dando um tiro no nosso pé”, conta.
 
Na corrida seguinte, em Detroit, Christian fez a pole. A dupla emendou terceiros lugares em Detroit e Watkins Glen e sofreu, em Mosport Park, com um furo de pneu a poucas voltas do final. “A minha vó terminava aquela corrida”, lamenta o brasileiro. Após um novo pódio em Elkhart Lake, um incidente envolvendo Barbosa e um retardatário deixaram o protótipo #5 da Action Express na sexta posição. Chegando à Road Atlanta para a final, na tradicional ‘Petit Le Mans’, eles tinham seis pontos de desvantagem para Valiante e Westbrook. “Queria ter saído de Austin pau a pau, para que quem chegasse à frente ganhasse”, fala Christian.
Christian, João Barbosa e Sébastien Bourdais comemoram a vitória na Petit Le Mans. E o título (Foto: José Mário Dias)
A agitada decisão
 
Ainda assim, Fittipaldi afirma que chegou ao palco da finalíssima “super confiante de que pudesse ganhar a prova”. Para ficar com o título, o #90 de Valiante e Westbrook não poderia ficar no pódio. O pensamento remetia a um bom e velho ditado do automobilismo: “It’s only over when it’s over” — o famoso ‘só termina quando acaba’.
 
“Ninguém foi desanimado. Nós fomos pensando que conseguimos controlar o que fazemos, e fizemos o nosso papel”, destaca.
 
A tarefa ficou mais desafiadora graças à chuva. Um temporal desabou no último sábado na Geórgia, provocando diversas bandeiras amarelas e, finalmente, a interrupção precoce da disputa. O que acabou por jogar a favor de Christian, Barbosa e Bourdais. “Esse tipo de competição é muito difícil. Não é como ninguém gosta de resolver um campeonato, pois não depende de ninguém”, fala.
Chuva forte marcou a última etapa, vencida por Christian, Barbosa e Bourdais (Foto: José Mário Dias)
“O circuito fica no meio de dois vales, a água escorria toda para ele. O carro virava um submarino na parte mais baixa. É difícil em todos os sentidos. A chuva continuou por oito horas, escureceu, e aí chegou um momento em que a gente não segurava o ritmo do pace-car”, relata. A prova ficou tão atípica que os carros da classe GTLM, com pneus Michelin, conseguiram andar no ritmo dos protótipos — a vitória foi do Porsche de Nick Tandy, Patrick Pilet e Richard Lietz.
 
Após a primeira bandeira amarela, Christian já sabia que a posição de pista poderia decidir a vitória. Estar na frente no momento certo seria fundamental, afinal, o risco de a prova não ser disputada na íntegra existia. “Sim, isso passou pela nossa cabeça. Na primeira amarela, eu já tinha passado da entrada do box, então voltei em quarto ou quinto. Isso dividiu a estratégia da corrida. O carro #31, que também tinha chance, estava sempre com meio tanque de diferente para a gente.” 
O status de bicampeão
 
Ganhar um título é um feito importante. Ganhar dois títulos consecutivos é algo que serve para consolidar o trabalho de um piloto — no caso, de uma dupla/trio — e de uma equipe.
 
“O primeiro título foi menos difícil em alguns aspectos. Estou andando aqui desde 2011, em tempo integral, desde 2013, e devo dizer que é gritante a diferença”, salienta Christian. “A gente procurou melhorar o que fazia certo, aprender com os erros. A hora que foi juntando tudo, pacote técnico, os mecânicos, o motor, eu e o João nos dando extremamente bem… Até a posição do banco que usamos é a mesma, o que deixa os pit-stops mais rápidos. É uma utopia.” 
 
Ele admite que observar a Ganassi, então equipe mais forte do grid, contribuiu para o crescimento. O que mais lhe chamava a atenção na rival era o poder de reação diante de situações adversas. “Isso, tanto na performance, quanto com um problema mecânico. Como reagir sem perder tempo, estar preparado para todas as situações possíveis”, elogia.
Christian Fittipaldi foi bicampeão da United SportsCar em 2014 e 2015 (Foto: José Mário Dias)
O grau de detalhe ao qual a Action Express chegou foi grande. Antes da corrida de Laguna Seca, por exemplo, no deserto, a equipe traçou um plano para o caso de uma interferência repentina da chuva. A probabilidade era de menos de 10%.
 
“O Gary Nelson, nosso ‘team manager’, sempre diz algo que, em português, é como ‘espere vencer’. ‘Expect to win’. Não é arrogante. É que a gente tem que estar sempre preparado para quando não estiver no melhor dia, não tiver no melhor dia, conseguir aproveitar o que cair no colo”, conta.
 
E o que vem depois?
 
Em 2016, Fittipaldi vai seguir com a Action Express no que será o último ano dos DP (Daytona Prototypes). Algumas equipes vão migrar para os LMP2, que passarão a ser os principais carros da United SportsCar em 2017, mas Christian acredita que a opção por seguir com os DP será importante principalmente nas duas primeiras etapas do campeonato, as mais longas. A longo prazo, como “está claro que o P2 é mais rápido”, ele acredita que algum desses outros times pode até mesmo almejar o título. É a partir do segundo trimestre de 2016 que a Action Express pretende iniciar a preparação para o ano seguinte.
 
Fora da categoria, Fittipaldi consideraria convites para eventualmente disputar uma ou outra corrida. O desejo: Le Mans. “Mas só com chance de ganhar. Não importa a categoria, se protótipo, GT. Já andei três vezes, não quero só fazer número para falar que andei a quarta vez.”
Nelsinho Piquet celebra seu feito histórico na F-E em Londres (Foto: F-E)
O Brasil no exterior em 2015
 

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Se em 2014 a única grande conquista do automobilismo brasileiro no exterior foi a do próprio Christian, neste ano ele ganhou companhia com o título de Nelsinho Piquet na F-E. Foi um campeonato, aliás, que teve outro brasileiro fechando no top-3, Lucas Di Grassi.

 
Nos Estados Unidos, em um campeonato de base de menor expressão, Vinícius Papareli foi campeão da F-Lites. O piloto terminou com oito vitórias em 12 provas, e um total de 272 pontos, 81 a mais que os adversários mais próximos, o mexicano José Armida e o chinês Jackie Ding. “Tivemos uma temporada dos sonhos, com um desempenho muito bom em todas as pistas. Para o ano que vem, estamos analisando algumas opções e devemos prosseguir no automobilismo americano”, disse.

Além dele, a AutoGP suspendeu o restante da temporada com Antonio Pizzonia na liderança. Como o campeonato não deve ter sequência, o manauara teoricamente fica com a taça.

 
Para os últimos meses, ainda há a perspectiva de outros títulos. Dois deles, no Japão com João Paulo de Oliveira. Correndo junto de Hironobu Yasuda, JP é o líder do Super GT após seis de oito etapas. São apenas dois pontos de vantagem para Takuya Izawa e Naoki Yamamoto. Mas chama a atenção o equilíbrio do campeonato: a diferença para a dupla que está na sexta posição, formada por Daisuke Ito e James Rossiter, é de oito pontos. Este seria o seu primeiro título na categoria. A final será disputada em 15 de novembro, em Motegi.
 
Fora isso, JP é o terceiro colocado na Super Formula. Ele já foi campeão do campeonato quando o nome ainda era F-Nippon, em 2010. São 14 pontos de desvantagem em relação a Hiroaki Ishiura com três de oito provas restando. Kazuki Nakajima é o vice-líder no momento. A decisão acontecerá no dia 8 de novembro com rodada dupla em Suzuka.

No Mundial de Endurance, Pipo Derani briga pelo título na classe LMP2. Ele, Sam Bird e Gustavo Yacamán estão na terceira posição com 104 pontos, 18 a menos que os líderes, Matthew Howson, Richard Bradley e Julien Canal. Restam três etapas, sendo que a próxima é neste fim de semana, em Fuji.

 
Já nas categorias de base europeias, quem está próximo de colocar as mãos em um caneco é Vitor Baptista. Disputando a EuroFormula Open, o piloto venceu seis de 14 provas e tem 32 pontos de vantagem antes da última rodada do ano, marcada para os dias 31 de outubro e 1º de novembro. O único com chances de superá-lo é o russo Konstantin Tereschenko.
 
Baptista admite que ficou surpreso pela rápida adaptação à categoria. “Para ser honesto, eu esperava ter um ano de muito aprendizado, porém sem os resultados obtidos tão no início. Sem dúvida, estou em uma das três melhores equipes. Além disso, como eu já disse, me preparei para estar na frente, foi o que aconteceu e sou grato por todas as escolhas que tomei”, fala ao GP.
Vitor Baptista é o líder do EuroFormula Open (Foto: Fotospeedy)
No ano passado, o piloto participou do campeonato da F3 Brasil, uma experiência que considera importante. “Na minha opinião, a F3 Brasil prepara sim o piloto para andar na frente na Europa. O que vai diferenciar é o modo que esse piloto irá trabalhar a parte física, psicológica e quais profissionais terão ao seu lado para estar devidamente preparado”, diz.
 
“Restando agora apenas a etapa em Barcelona, tenho uma vantagem para o segundo colocado, mas muitos pontos ainda estão em jogo. Procuro não me preocupar com quantos pontos devo fazer, e, sim, em estar o mais preparado possível e chegar na frente. O resto vem.” 

Mais remota é a probabilidade de Thiago Vivacqua ser o campeão da ALPS. A última rodada dupla é neste fim de semana, em Jerez, e ele tem chances matemáticas. No entanto, em quinto na pontuação, ele está 37 pontos atrás do líder Jake Hughes com 50 em jogo.

Por fim, aqui na América do Sul, Pedro Cardoso lidera a F4 Sudam com quatro corridas restando. A vantagem para o uruguaio Juan Manuel Casella é de 31 pontos.

 
No kart
 
Há duas semanas, não foi o título, mas foi o fim de um longo jejum: Caio Collet foi ao pódio na categoria KFJ e encerrou a seca de pódios do Brasil no Mundial de Kart. O título da KFJ ficou com o norte-americano Logan Sargeant, e o francês Clément Novalak ficou em segundo. O último pódio de um brasileiro no Mundial havia sido conquistado em 1998, há 17 anos, quando Ruben Carrapatoso sagrou-se campeão.
Caio Collet faz festa com a equipe pelo pódio no Mundial de Kart (Foto: KSP)
 

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"Curtindo cada volta", Christian Fittipaldi festeja carreira nos EUA com tí…

Posted by Grande Prêmio on Sexta, 9 de outubro de 2015

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