Análise: como o escândalo da Volkswagen pode atingir o automobilismo?

A aventura da Volkswagen na F1 subiu no telhado antes mesmo de ser colocada no papel com a revelação de um escândalo mundial envolvendo as empresas do grupo. Mas a participação da VW no esporte a motor vai além do Mundial, e é natural que pontos de interrogação surjam

A Volkswagen vai entrar na F1. A Volkswagen não vai entrar na F1. A Volks não quer saber de F1. A Volkswagen quer pôr a Audi na F1 para fazer frente à Mercedes. A F1 é cara demais. A F1 não dá a liberdade tecnológica que o Grupo Volkswagen valoriza.

Há anos que se escuta comentários como estes a respeito dos planos do Grupo Volkswagen, um dos maiores da indústria automotiva mundial, com relação à maior categoria do planeta. E, há duas semanas, parecia que finalmente ia rolar, por meio da parceria com a Red Bull para 2018. Os ponteiros estavam acertados, segundo o ex-chefe de equipe Eddie Jordan e o jornal alemão 'Bild'.

Até que veio um escândalo que fez tudo subir pelo telhado.

A agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (EPA) revelou que a Volkswagen estava burlando intencionalmente os testes de emissão de poluentes com seus carros a diesel. Ao todo, mais de 11 milhões de veículos em todo o mundo estão envolvidos, e investigações devem se proliferar nos próximos meses. Só nos Estados Unidos, a multa pode chegar a até US$ 18 bilhões (R$ 74 bilhões) em valores atuais. O caso deve levar meses para ser resolvido, provavelmente terminando com um gordo acordo, e a VW já está separando US$ 7 bilhões (R$ 28 bi) para as indenizações.

A pergunta que fica para os fãs da velocidade: até que extensão isso pode atingir o automobilismo?

Um carro de F1 da Audi? Esse casamento parece difícil de sair (Foto: Reprodução)

Fora mesmo da F1?

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Foi o que já deu a entender Christian Horner, chefe da Red Bull, empresa que persuadiu a Volkswagen a mergulhar na F1. "Isso parece ter virado fumaça", disparou.

O tema ganhou força nos últimos meses também porque Martin Winterkorn, que era tido como o principal cabo eleitoral de um projeto envolvendo a F1 dentro da alta cúpula da VW. No dia 23 de setembro, ele renunciou ao seu cargo de diretor-executivo, um dos primeiros reflexos do escândalo.

Mas os motivos para os planos serem abortados vão além disso, claro, alcançando especialmente o âmbito financeiro. As ações da firma já despencaram, fora essa indenização bilionária. A reserva financeira da Volkswagen é polpuda, da ordem de US$ 24 bilhões, mas há a perspectiva de uma multa que seja até maior do que o lucro anual, US$ 14 bilhões.

Com danos enormes a serem reparados no caixa da companhia e um nome a ser reconquistado, convencer o conselho de que entrar na F1 é um bom negócio não será tarefa fácil. Ainda mais sabendo que a opinião vem sendo contrária a tal aventura há anos. O investimento precisaria ser enorme, e não há nenhuma garantia de que o pacote vai ser competitivo logo de cara. A Honda é o exemplo que cai muito bem para os mais reticentes.

Hoje, a Volkswagen dá as caras no automobilismo principalmente no Mundial de Rali (Foto: Volkswagen Motorsport)

No entanto…

Entrar na F1 e obter sucesso seria uma boa forma de passar um pano na história toda.

Este escândalo mancha a capacidade da Volkswagen de produzir carros de qualidade que estejam dentro das regras. Décadas serão necessárias para recuperar a reputação. Nisso, a F1 poderia ajudar. Se a VW, com o próprio nome ou então usando uma outra marca, como a Audi, ingressa no Mundial e consegue ter sucesso relativamente cedo, já levanta uma cortina de fumaça para abafar o caso. 

A F1 tem um alcance enorme no mundo todo, e o povo tem memória curta.

Rola, aqui, um outro dilema de relações públicas. Se por um lado, anunciar a entrada na F1 pode ser uma aposta em busca de publicidade positiva, a chance de as reações serem extremamente negativas também é grande. Afinal, como pode uma empresa que fez o que fez querer gastar uma dinheirama com corridas? 

Além da F1 (e das pistas)

Outras marcas ligadas à VW estão intimamente ligadas com o automobilismo. A Audi e a Porsche têm programas enormes no Mundial de Endurance. Uma domina as 24 Horas de Le Mans neste século, outra chegou no ano passado, conseguiu vencer em Sarthe e caminha para o título do Mundial neste segundo semestre.

E o endurance tem sua ligação com o escândalo em si, uma vez que a tecnologia TDI presente nos modelos de rua da Audi e da Volks foi desenvolvida em Le Mans.

A Volkswagen em si está mais ligada ao rali, onde foi bicampeã nos últimos dois anos com Sébastien Ogier e se aproxima do tri em 2015. A Skoda também é forte no off-road.

Foi em Le Mans que surgiu o agora controverso TDI da Audi (Foto: Facebook/Audi)

Audi e Lamborghini são bastante vistas em provas de GT ao redor do mundo, mas, na maioria dos casos, com a venda de carros para as equipes, não necessariamente um esforço de fábrica. Mas, no DTM, sim, são as quatro argolas que aparecem. Ainda, a Ducati é uma força na MotoGP, a Scania e a MAN aparecem em corridas de caminhões e em ralis, e a Seat tem alguns modelos em campeonatos menores de turismo.

Até o momento, os dirigentes das divisões esportivas vão mantendo o silêncio. Eles não falam abertamente sobre o caso, nem que reflexos ele pode ter nos negócios do dia a dia. Um corte de custos em algum canto não seria surpresa alguma.

Fora dos autódromos, podem ter certeza que também tem gente coçando a cabeça. Por exemplo: as empresas do grupo investem em 17 times da primeira e da segunda divisões do Campeonato Futebol, por exemplo, além de patrocinar também a Copa da Alemanha. Já tem gente com bastante medo do que vem por aí.

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