Análise: medidas para mudar F1 são muito necessárias. Mas ainda são insuficientes

Depois do pacotão da F1, divulgado nesta sexta-feira, o GRANDE PRÊMIO analisou as medidas propostas e entende que, apesar de certa ousadia, o Mundial ainda ficou devendo. Ou seja, é cedo para dizer que as mudanças vão mesmo provocar uma recuperação na popularidade que a categoria tanto busca. Ainda não é o bastante

A longa e “construtiva” reunião entre a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), a FOM, a detentora dos direitos comerciais, e as seis principais equipes do grid resultou em uma série de medidas destinadas a tornar o espetáculo da F1 melhor, recuperar a audiência perdida dos últimos anos e cativar novos fãs. Não é de hoje que dirigentes, escuderias e pilotos temem as arquibancadas vazias nos autódromos pelo mundo afora, além do baixo número de espectadores televisivos. Nesse tempo, muitos outros encontros foram promovidos, os torcedores foram ouvidos, jornalistas, mas pouco foi feito. Agora, o Mundial parece ter entendido que algo realmente novo e ousado precisa ser feito imediatamente — especialmente depois da introdução do regulamento do ano passado, que acabou com o som dos carros e se apresentou mais complexo do que o imaginado para os times.

As propostas colocadas na mesa neste primeiro momento foram: a volta do reabastecimento durante as corridas, algo que estava proibido desde 2009 — por questões de segurança e também de logística —, além dos motores mais barulhentos e potentes e carros com o visual mais agressivos, pneus mais largos e demais esquisitices. Tudo isso são iniciativas para a temporada de 2017.

Como forma de já ir moldando o espectador, entrou-se em um acordo também para permitir que as equipes façam as escolhas dos tipos de pneus para cada corrida, só que isso entra em vigor um ano antes, em 2016. A ideia que é cada time tenha a chance de optar por dois dos quatro compostos disponíveis para pista seca a cada fim de semana. Sem qualquer tipo de dúvida, essa última medida se desenha como a mais atrevida de todas as indicadas durante o encontro desta semana.

Reabastecimento da Red Bull de David Coulthard em Barcelona, 2008 (Foto: Red Bull/Mathias Kniepeiss)

Mas a pergunta que ainda fica é: todas essas alterações são suficientes para tornar a F1 mais atrativa em curto prazo? Ou se trata apenas de recursos artificiais?

A permissão para escolha do tipo de pneu para cada corrida é a proposta que mais chama atenção. E de longe, a mais satisfatória. Porque realmente possui potencial para criar uma disputa ideal e em condições de igualdade. Se a F1 não tem mais a possibilidade de uma ‘guerra de pneus’, já que o fornecimento único é uma das exigências da Pirelli, tirar dela a responsabilidade por entregar determinados compostos e colocar a opção nas mãos das equipes é algo que de fato vai interferir na competitividade e na estratégia nas diferentes corridas.

Só aí já se abre um espaço para uma dinâmica de prova totalmente nova e nada artificial. A inteligência e o conhecimento de cada equipe ficarão cada vez mais evidentes nesse formato de disputa.

Do ponto de vista técnico, a segurança não deve ser comprometida, uma vez que as escuderias têm todas as informações disponíveis quanto ao desempenho dos pneus nas mais variadas pistas e temperaturas, apesar das preocupações externadas pelo diretor-esportivo da fabricante italiana.

Outro ponto do pacotão da F1, mas aí apenas para 2017, é o reabastecimento – a medida chocou a mídia, já que se trata de um recurso que foi proibido há pouco tempo. De qualquer forma, a questão do combustível entra como fator interessantíssimo com relação às táticas de pit-stops e deve pesar também na combinação dos pneus escolhidos para cada prova, se as escolhas livres dos compostos permanecerem por mais tempo.

Só que o reabastecimento tem seus contras também. E talvez o mais importante deles esteja justamente na estratégia das equipes. Aqui os times terão de ter mais cuidado com os motores. A tendência é que todos andem menos pesados e aí a exigência das unidades será maior, o que pode não ser tão eficiente, dada a limitação de propulsores por temporada.

Ainda assim, a introdução parece um ponto de acerto. E casa bem com as iniciativas que visam um melhor desempenho mecânico dos carros, já que uma das ideias é tornar os pneus mais largos a partir de 2017. Portanto, aí o ganho de aderência deve ser ainda maior, ajudada pela maior potência que as unidades de energia devem ganhar no futuro, aumentando o barulho e o consumo, claro.

Um terceiro item, mas ainda sem explicação clara, é a adoção de um visual mais agressivo para os carros. A nota enviada pela FIA fala em “evolução das regras aerodinâmicas”, mas cita que evolução será essa, se os engenheiros terão menos restrições de desenho ou recursos para trabalhar o downforce dos bólidos. Pode-se pensar em algo feito pela Ferrari no começo do ano.

Ferrari divulgou uma proposta radical para mudar a aparência dos carros de F1 (Foto: Reprodução)

A intenção, ainda segundo a entidade, é tornar os carros mais rápidos: a meta gira em torno de algo entre "cinco e seis segundos” mais velozes.

Houve ainda discussões sobre a pilotagem. Sem grandes esclarecimentos, os dirigentes querem deixar os pilotos mais livres e independentes dos boxes. É uma boa notícia, sem dúvida.

Há algumas semanas, o GRANDE PRÊMIO promoveu um debate sobre o que o poderia ser feito com a F1 nos anos futuros, com a intenção de melhorá-la e tornar mais próxima do público. Uma pequena fração do que foi apresentado na matéria veio publicado no comunicado da FIA, mas ainda ficou longe do que se espera e do que há de possibilidade.

Uma parte quase fundamental do que se vem discutindo na F1 tem relação com os altos custos. E nada disso foi adiantando nesta reunião que decidiu as medidas que serão submetidas ao Conselho e à Comissão em julho.

As equipes menores, com exceção da Force India, que ganhou o direito na pista de entrar no Grupo de Estratégia, não foram ouvidas ainda e dificilmente terão um papel decisivo mais tarde. E esse é uma lacuna que precisa ser rapidamente preenchida. Não adianta nada ter uma série de regras que privilegiem o espetáculo se não há artistas o bastante no palco.

Então, a resposta é não. Todas as mudanças ainda não são suficientes. Ainda há um longo caminho pela frente.

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