Análise: O tempo de Räikkönen passou? Ele depende apenas de si para seguir na F1

O erro de Kimi Räikkönen no GP do Canadá já o colocou no centro das especulações sobre a possível formação da Ferrari em 2016 e levanta a questão sobre a própria permanência do finlandês na F1. Atrás de Sebastian Vettel no Mundial, o nórdico também sido alvo de desconfiança, inclusive, do chefe ferrarista Maurizio Arrivabene

O erro de Kimi Räikkönen durante o GP do Canadá foi determinante para a perda do pódio e ainda gerou a ira do chefe Maurizio Arrivabene, que se mostrou mais irritado que o normal. Ao fim da corrida, o italiano ‘segurou os palavrões’ e bradou que ‘não é bom’ desperdiçar chances como essas. Como se não bastasse, também ajudou mais uma vez a colocar o finlandês na berlinda, alertando que, ou o campeão entrega os resultados que a Ferrari precisa, ou está fora.

Não é a primeira vez que tal discurso sai da boca de Arrivabene, embora Kimi esteja vivendo uma temporada muito mais forte daquela que disputou no ano passado, quando fazia seu primeiro campeonato no retorno à marca de Maranello e que foi batido por Fernando Alonso em um Mundial dos mais fracos da história da equipe.

De fato, o piloto de 35 anos faz um campeonato honesto, mas ainda longe da performance do colega alemão. Enquanto o tetracampeão pontuou em todas as sete provas até aqui, incluindo uma orgulhosa vitória e mais quatro pódios, Räikkönen tem no retrospecto o abandono na Austrália e apenas um pódio, na ótima corrida que fez no Bahrein, quando se colocou no meio dos pilotos da Mercedes.

Kimi Räikkönen conquista o primeiro pódio com a Ferrari no retorno à equipe no GP do Bahrein (Foto: AP)

Embora a Ferrari esteja adotando uma política de igualdade de condições, o desempenho de Vettel – em seu primeiro ano de esquadra – vem bem acima do esperado. E isso também se reflete na comparação com os números em termos de classificação. Até agora, Sebastian vai levando de 6 x 1.

Daí a preocupação cada vez maior da cúpula ferrarista. E a questão que fica é: será que este será mesmo o último ano de Räikkönen na F1? A resposta provavelmente é a mesma dada por Arrivabene quando lhe perguntaram sobre a renovação de contrato do nórdico: vai depender de seus resultados. Mas se há algo que pode contar a favor de Kimi é o fator surpresa.

O campeão de 2007 é totalmente imprevisível, seja na sala de imprensa, seja dentro do carro. No fim de 2009, Räikkönen foi totalmente colocado para escanteio quando a Ferrari decidiu apostar as fichas em Fernando Alonso. Havia mais um ano de contrato, mas a equipe italiana decidiu rescindir o acordo antes do tempo e dispensar o homem que havia vencido o primeiro campeonato depois da era Michael Schumacher. Kimi não choramingou. Recebeu sua (gorda) multa rescisória e foi procurar o que fazer longe da F1 – ele chegou a negociar com McLaren e Mercedes, mas as conversas não foram em frente.

Andou no Mundial de Rali em 2010 e 2011, ano em que também se aventurou nos EUA, disputando provas na então Nationwide e na Truck Series. Foi apenas diversão, entretanto. Até que pintou o convite da renovada Lotus. O nórdico não pensou duas vezes e traçou seu retorno ao Mundial em 2012.

Dentro de uma equipe bem menos conservadora e que soube entender a personalidade de Kimi, o negócio fluiu. O carro não era competitivo o suficiente para brigar pelo título, mas foi capaz de colocar Räikkönen em colocações fortes, culminando com a vitória em Abu Dhabi.

No ano seguinte, Kimi abriu a temporada com uma vitória em Melbourne. Depois, foram mais sete pódios. A briga pelo título não veio, especialmente depois que a Red Bull acertou a mão do carro, e Vettel faturou tudo na segunda fase do ano. Aliás, foi nesta segunda metade de temporada que o clima na Lotus começou a pesar. A equipe se viu endividada, e os pagamentos do finlandês também começaram a atrasar. Assim, o relacionamento de ambos foi ficando cada vez menos amistoso e, quando surgiu a proposta da Ferrari, foi Kimi para Maranello de novo. Sem ressentimentos.

O primeiro ano foi sofrível. O carro não correspondia, e o time italiano atravessava uma das piores fases de sua história. No fim, Alonso acabou saindo. Räikkönen ficou para ser parceiro de Vettel. E eis que 2015 apaga os maus resultados na temporada anterior. A Ferrari chega com um carro veloz e que cuida bem dos pneus. Vence com o recém-chegado tetracampeão. Mas o mais importante aí é o ambiente.

A esquadra está renovada, com novos engenheiros e novos chefes. Não há mais a política do primeiro piloto. E isso tudo serve para tirar o melhor de Räikkönen. Ele chega ao pódio no Bahrein, com um desempenho forte, utilizando inteligentemente a tática arriscada da Ferrari. Kimi brilha nessas horas e se sente seguro e totalmente à vontade na nova Ferrari. Na garagem, o chefe diz que ‘ele está de volta’.

Kimi Räikkönen rodou durante o GP do Canadá e perdeu a terceira posição (Foto AP)

Só que isso não é suficiente. A equipe italiana quer mais do finlandês. E pressiona. Deseja pontos, deseja uma performance próxima a de Vettel. Aí que mora o perigo.

Embora reaja bem à cobrança, como falou Arrivabene ainda no início do ano, quando disse que gostaria de aplicar em Kimi uma ‘tática psicológica’ para mantê-lo motivado, a pressão excessiva e um ambiente gradativamente mais pesado pode não ser uma combinação de sucesso para o gelado finlandês. Isso já se mostrou verdadeiro antes e pode acontecer de novo.

Ao fim e ao cabo, Räikkönen depende apenas de si. A frieza dos pontos é que vai contar no fim. E se perder a renovação com a Ferrari, a carreira de Kimi estará mais uma vez na berlinda, especialmente diante das poucas vagas que restariam no grid. E talvez sem a chance de um terceiro retorno.

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