Caminhos opostos e muito criticados: como Indy se tornou mais leve que Fórmula 1

Em levantamento feito pelo engenheiro Tino Belli, Indy largou em St. Pete mais leve que a F1 em Jedá — algo inédito nos últimos 40 anos

A Fórmula 1 e a Indy possuem propostas bem diferentes de campeonatos. Apesar de serem duas categorias de monopostos, as competições são bem distintas entre si. Sem entrar na velha polêmica sobre qual é melhor e qual não é, o fato é que uma delas é o pináculo da tecnologia quando o assunto é automobilismo, com uma busca desenfreada pelo desenvolvimento de chassis, peças e motores, limitadas por especificações do regulamento e pelo teto de gastos somente — como é o caso da F1. Do outro lado, a Indy, que preza pela competitividade e equilíbrio financeiro para ter mais carros no grid, possui chassi único, motores equivalentes e peças praticamente iguais a todos, com uma evolução lenta.

Quando lemos essa descrição, se alguém perguntar qual desses carros é mais leve, a teoria seria indicar a Fórmula 1 pela gradativa evolução — e a resposta estaria certa até o início dessa temporada. No final de semana entre os dias 8 e 10 de março, enquanto a F1 disputava o GP da Arábia Saudita, a Indy abriu o campeonato em São Petersburgo com um conjunto mais leve.

De acordo com levantamento feito por Tino Belli, diretor de desenvolvimento aerodinâmico da Indy, essa foi a primeira vez em pelo menos 40 anos que a categoria largou com menos peso em um circuito misto do que um carro de Fórmula 1 — considerando o carro, piloto e com combustível no tanque. Em circuito oval, essa marca foi superada em algumas ocasiões, por conta de um pacote aerodinâmico cerca de 40 quilos mais leve.

Em Jedá, o conjunto completo da F1 pesou 2.000 lbs — aproximadamente 907 kg —, incluindo o combustível no tanque para completar o GP da Arábia Saudita. Os carros da Indy partiram em St. Pete com um pouco menos de peso: 1.990 lbs, cerca de 900 kg.

Gráfico desenvolvido por Tino Belli, engenheiro com mais de 40 anos de atuação no automobilismo (Foto: Reprodução/LinkedIn)

De imediato, ressalta-se que a Indy tem um tanque de combustível limitado a 70 litros e possui reabastecimento, além da categoria ter trabalhado nessa virada de temporada para reduzir em 13 kg o peso do chassi, pensando em comportar os componentes híbridos, que farão parte da unidade de potência a partir do GP de Detroit, marcado para o dia 2 de junho.

Essa “virada” vai muito além dessas mudanças, mas que passam por um caminho repleto de críticas — do público e até de pilotos —, sobretudo, a partir da década de 2010.

O ponto-chave dessa discussão se inicia pela adoção do chassi DW12 por parte na Indy. O monocoque introduzido em 2012 é praticamente o mesmo utilizado pela categoria até os dias de hoje. Desde então, a Dallara fez alguns ajustes nos pacotes aerodinâmicos, com uma grande mudança para 2018, renomeando o projeto para IR-18 — nomenclatura atual —, com direito a um facelift.

Em 2012, o conjunto tinha 857 kg, já considerado o piloto, seus equipamentos e o tanque cheio. Com o facelift e as mudanças no pacote aerodinâmico para fazer o DW12 se tornar IR-18, o peso carro/piloto/combustível saltou para aproximadamente 880 kg.

Como a Dallara fornece o mesmo chassi para todas as equipes, o desenvolvimento, naturalmente, não é desenfreado como na Fórmula 1. Para completar, os times até operam no “azul”, mas estão financeiramente muito distantes dacategoria comandada pela Liberty Media. Com isso, não há fôlego — e até uma falta de interesse de alguns chefes de equipes — para acelerar uma troca. O próprio DW12 teve rejeitada a introdução de uma série de apêndices aerodinâmicos para o primeiro ano em pista.

Outra prova disso foi para a chegada do aeroscreen, dispositivo de segurança que protege a cabeça do piloto. Em um mundo ideal, o chassi deveria passar por mudanças para uma melhor adequação da peça, mas esta foi simplesmente inserida no carro construído em 2011 e que não foi preparado para ter este mecanismo. O resultado foi uma alteração no comportamento do bólido, modificando quase todos os acertos desenvolvidos pelas equipes e, claro, causando chiadeira pelo paddock — principalmente dos pilotos que andavam na frente e passaram a ter dificuldades logo de cara.

Largada do primeiro GP de Indianápolis de 2020, ano de introdução do aeroscreen (Foto: Indycar)

O aeroscreen também adicionou peso considerável. Durante as largadas em circuitos mistos, o conjunto da Indy pesava aproximadamente 910 kg entre 2020 e 2023, baixando para os 900 kg nesse ano — valores que aumentarão consideravelmente no meio da temporada, com o ingresso dos componentes híbridos.

Em resumo, a Indy manteve o peso com o passar dos anos, sem grande variação. O problema é que isso se deu por não evoluir o chassi, o que é alvo de crítica dos fãs e também dos pilotos. Na abertura da temporada de 2022, Scott Dixon considerou que a Indy corre com um monocoque de “categoria de base” e pediu por mudanças urgente. Os indícios indicam que a Dallara prepara uma troca para a temporada de 2027, na mais otimista das previsões.

A Fórmula 1 vai na contramão da Indy. As equipes seguem sua busca por melhorias, mas algumas mudanças no regulamento fizeram o carro saltar de 642 kg para 798 kg nesse mesmo período — sem contar o combustível no tanque.

Em 2012, já com a introdução do KERS e com o reservatório de combustível cheio, os carros de Fórmula 1 pesavam 748 kg — 50 quilos a menos do que o carro atual com tanque vazio. Em 2014, um salto de 49 kg com a introdução do motor V6 turbo híbrido e o conjunto subiu para 797 kg.

A partir disso, os carros de Fórmula 1 passaram a ganhar peso de maneira desenfreada e quase que anualmente. Seja por adequações das unidades de potência ou por questão de segurança, mas os bólidos, praticamente, não pararam de crescer e “engordar”.

Em 2015, mais 13 kg para ajustes devido ao peso introduzido com os componentes híbridos. Em 2017, o regulamento da Fórmula 1 fez com que a Pirelli adotasse pneus mais largos e carro/piloto/tanque cheio passou a ter 840 kg. No ano seguinte, mais seis quilos com a introdução do halo e outros nove em 2019, com a nova dimensão das asas e a adoção de um peso mínimo de 80 kg para o piloto. Não perca as contas: estamos em 853 kg.

Lewis Hamilton em 2020: conjunto tinha 853 kg (Foto: Mercedes)

Em 2020, um segundo medidor de fluxo de combustível aumentou o peso em mais 3 kg. Em 2021, a Fórmula 1 ampliou o limite em mais nove quilos, incentivando as equipes a utilizarem materiais renováveis. Com isso, o conjunto saltou para 865 kg.

Em 2022, o novo regulamento técnico — em vigência até os dias de hoje. Carros mais largos e muito mais pesados, chegando aos cerca de 907 kg no momento da largada. O desejo de todos os envolvidos — pilotos, equipes, organização e até a Federação Internacional de Automobilismo [FIA] — é que os carros sejam mais leves no futuro regulamento, que entra em vigência em 2026. O foco da categoria é diminuir em 50 kg os bólidos até lá, mas são soluções que a Fórmula 1 ainda discute sobre como vai chegar até lá. Uma equação que, pelo histórico dos últimos anos, não será tão simples de se resolver.

Fórmula 1 volta entre os dias 22 24 de março com o GP da Austrália, terceira etapa da temporada 2024. Já Indy retorna no próximo dia 24 com a Corrida All-Star, que não vale pontos para o campeonato, e acontece no circuito privado The Thermal Club, na Califórnia. GRANDE PRÊMIO faz a cobertura completa das duas categorias.

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