Como uma ligação de Hamilton levou Mercedes a pintar W11 de preto para 2020

O gesto histórico da Mercedes ao trocar a tradicional cor prateada pelo preto em demonstração total de apoio à luta contra o racismo foi definido após Lewis Hamilton ligar para Toto Wolff e ressaltou que era preciso “ir além de dois posts no Instagram”, contou o austríaco

A Mercedes surpreendeu o mundo do esporte e, em um gesto histórico, anunciou que vai trocar a tradicional cor prata pelo preto no W11, carro com o qual Lewis Hamilton e Valtteri Bottas vão disputar a temporada 2020 do Mundial de Fórmula 1 a partir deste fim de semana, na Áustria. A ação representa a posição firme da equipe hexacampeã do mundo no apoio à luta contra o racismo e foi motivada depois que Hamilton ligou para Toto Wolff, chefe da Mercedes.

Hamilton tem sido a grande voz da Fórmula 1 a se posicionar de forma firme contra o racismo e a homofobia. O inglês de 35 anos protestou de forma contundente após o assassinato de George Floyd por Derek Chauvin, um policial branco de Minneapolis, nos Estados Unidos, em maio, e cobrou que seus pares da Fórmula 1 saíssem da letargia ao dizer que se sentia solitário.

Lewis foi além das redes sociais, se uniu a anônimos na luta contra o racismo e foi para manifestações nas ruas de Londres neste mês de junho. No último domingo (28), Dia Internacional do Orgulho LGBTI, Hamilton foi o único piloto da Fórmula 1 a se posicionar abertamente contra a homofobia.

Lewis Hamilton
Lewis Hamilton é a grande voz da Fórmula 1 na luta contra o racismo (Foto: Reprodução/Instagram)

Wolff contou que a iniciativa de Hamilton foi decisiva para que a Mercedes tomasse uma decisão sem precedentes na sua história.

“Lewis queria saber que tipo de exemplo podemos dar como equipe, algo que fosse ir mais além do que dois posts no Instagram. As boas ideias não são o bastante se permanecemos em silêncio, portanto queremos usar a nossa voz para defender o respeito e a igualdade”, contou o dirigente austríaco em videoconferência para veículos de comunicação locais.

“A Daimler — empresa dona da Mercedes — e os patrocinadores estiveram de acordo na hora”, acrescentou.

O dirigente revelou detalhes da conversa que teve com Hamilton. Uma conversa que fez Toto despertar para uma realidade que até então jamais havia se dado conta.

“Lewis usa o seu alcance para fazer a diferença. Ele quer uma mudança sustentável. Ele me perguntou quantas vezes pensei na cor da minha pele na minha vida e quantas vezes tive a sensação de estar em desvantagem. Fui sincero e disse que nunca”, comentou.

“Também nunca me questionei sobre como conciliar meu trabalho com ter um filho, que é algo que acontece com minha esposa o tempo todo. Não se trata somente da discriminação óbvia, mas também da sutil”, complementou o austríaco, que é casado com Susie Wolff, ex-pilota e atual chefe da equipe Venturi na Fórmula E.

Ciente de que há muito o que mudar para que a ação contra o racismo e a desigualdade seja realmente efetiva, Wolff lembrou que é preciso abrir portas e, na expressão do momento, construir pontes para garantir mais oportunidades a quem nunca as teve.

“Nossa equipe tem somente 3% de afro-americanos, e apenas 12% são mulheres. Essa é a falta de diversidade que mostra que precisamos de novas abordagens. Há muitos talentos aos quais a porta da Fórmula 1 foi fechada até agora por esses motivos. Mas queremos mudar isso”, concluiu.

Hamilton destacou que o gesto da Mercedes abre possibilidades para uma grande mudança na própria Fórmula 1 como um todo. “É muito importante que aproveitemos esse momento e o utilizemos para nos educar, seja você uma pessoa, marca ou empresa, para fazer mudanças realmente significativas quando se trata de garantir igualdade e inclusão”, apontou Hamilton. “Pessoalmente, vivenciei o racismo na minha vida e vi minha família e amigos vivenciando o racismo, então estou falando de coração quando apelo à mudança. Quando falei com Toto sobre as minhas esperanças em relação ao que poderíamos alcançar como equipe, disse que era muito importante que nos mantivéssemos unidos”, ressaltou.

“Gostaria de agradecer imensamente a Toto e ao Conselho da Mercedes por dedicarem tempo para ouvir, conversar e realmente entender as minhas experiências e paixões, e por fazer esta importante declaração de que estamos dispostos a mudar e melhorar o negócio. Queremos construir um legado que vai além do esporte e, se pudermos sermos os líderes e começarmos a construir mais diversidade em nosso negócio, isso vai enviar uma mensagem tão forte e vai dar aos outros a confiança necessária para começar um diálogo sobre como eles podem implementar mudança”, finalizou.

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