Abiteboul chama Ricciardo de “egoísta” por deixar Renault em 2020: “Levei para o pessoal”

Ex-diretor da Renault na Fórmula 1 entre 2016 e 2020, Cyril Abiteboul admitiu que ainda tem mágoa de Daniel Ricciardo por decisão de deixar a Renault após duas temporadas em 2020. Segundo ele, australiano foi "egoísta" e tem "problema de timing"

Três anos já se passaram desde que Daniel Ricciardo decidiu deixar a Renault para buscar uma nova história na McLaren, mas o então chefe da equipe francesa, Cyril Abiteboul, não fez questão de esconder que ainda sente mágoas da decisão do australiano. Segundo ele, faltou ao piloto “dar tempo” à escuderia, e o dirigente — hoje na Hyundai, que disputa o WRC — reconheceu que levou a decisão do piloto da AlphaTauri para o lado pessoal. Para ele, Ricciardo sentia que estava sendo “rebaixado” ao deixar a Red Bull para se juntar ao time que hoje atende pelo nome de Alpine.

“Ele tomou sua decisão em abril ou maio”, disse Abiteboul em entrevista ao podcast francês Dans La Boîte À Gants. “O mundo ainda estava parado [devido à pandemia], não sabíamos como e se voltaríamos à pista. De fato, acho que foi um movimento muito cedo e um pouco egoísta”, disparou.

“Porque, no fim das contas, ele deu uma chance à equipe por apenas uma temporada”, explicou. “Então, é verdade que foi uma decisão que não aceitei bem. Claro [que levei para o pessoal], porque pude ver que foi uma rejeição pessoal. Eu aceito, levei para o lado pessoal”, reconheceu. “E pude ver também quais seriam as consequências”, destacou.

“A equipe estava em processo de reestruturação e organização. Estávamos fazendo progresso, mas isso significava que não estávamos no nível da Red Bull. Ele veio da Red Bull, um ambiente padrão [para ele]. Então, inevitavelmente, houve a sensação de estar sendo rebaixado”, avaliou.

Abiteboul soltou o verbo sobre a saída de Ricciardo em 2020 (Foto: Renault)

Ricciardo chegou na Renault em 2019, depois de um ano complicado internamente na Red Bull, em que sentiu-se preterido pelo novato Max Verstappen. No entanto, sua primeira temporada com o time francês trouxe apenas 54 pontos em 21 corridas, o que resultou em um nono lugar sem nenhum destaque ao fim do ano. Abiteboul admitiu que aquele ano não apresentou uma boa versão do australiano.

“Psicologicamente, foi difícil para ele. O GP do Azerbaijão de 2019 foi particularmente horrendo, com ele cometendo erros atrás de erros. Resumindo, ele estava completamente perdido, e isso era complicado para nós”, apontou.

“Não achei que seria tão difícil em 2019 e, obviamente, não achei que fôssemos ter uma pandemia global que nos bloquearia em 2020, durante a qual ele decidiu terminar seu contrato ao fim do ano. Obviamente, não imaginei que isso fosse acontecer”, ressaltou.

FERNANDO ALONSO; RENAULT; CYRIL ABITEBOUL;
Para substituir Ricciardo, Fernando Alonso voltou à Renault (Foto: Renault/Divulgação)

Porém, no ano seguinte, as coisas evoluíram. Ricciardo conseguiu levar a Renault a dois pódios, terminou em quinto no campeonato e chegou a cobrar uma promessa de Abiteboul, que garantiu que faria uma tatuagem caso o australiano levasse o carro francês ao top-3. No entanto, já para o ano seguinte, Daniel resolveu partir para a McLaren e quebrou a relação com o dirigente.

“E também não imaginei que teríamos um ano tão bom em 2020, com pódios e um carro que, com menos erros, poderia ter terminado em terceiro na classificação. Depois disso, você precisa se recuperar. E é complicado, porque depois disso, emitimos comunicados frios e duros, onde você podia sentir o que havia. A Netflix estava gravando a série naquele momento, então ainda contariam tudo de forma diferente”, explicou.

“A temporada não foi como imaginávamos, foi muito melhor. Mas, ao mesmo tempo, pensamos em fazer algo diferente nos projetos [e assinamos] com Fernando Alonso. Mudamos completamente, e nunca tivemos a menor oportunidade de discutir se ele se arrependeu, se nós nos arrependemos. Uma vez que vou embora, vou embora”, afirmou.

Depois de deixar a Renault, Ricciardo passou por maus bocados na McLaren e hoje defende a AlphaTauri (Foto: Red Bull Content Pool)

Segundo o ex-chefe da Renault, Ricciardo tem “um problema de timing” na carreira. Para ele, assim como o australiano deveria ter permanecido com os franceses, também não deveria ter deixado a McLaren no ano passado, um ano antes de o time inglês se tornar um dos protagonistas da categoria.

“Não acho que ele tenha imaginado que o carro faria tanto progresso, nem nós. Também consigo entender sua estratégia: a McLaren vendeu a ele uma pequena lista de compras para levá-lo, mas isso é parte do jogo. Ricciardo sempre teve um problema de timing: ele nos deixou muito cedo e deixou a McLaren muito cedo”, cutucou.

Por fim, Abiteboul garantiu que já sabia que seria demitido da equipe alguns anos depois e afirmou que a contratação de Ricciardo foi feita mais cedo que o ideal. Ainda assim, o francês não demonstrou arrependimento pelas decisões tomadas enquanto esteve à frente da marca.

Australiano se despediu da Renault em 2020 após grande ano (Foto: Renault)

“Eu sei, lá no fundo, que foi cedo demais, mesmo que não pudéssemos dizer: ‘volte no ano que vem’. Naquela noite, fui a meu restaurante favorito de Marselha com minha parceira e disse: ‘hoje, brindamos a duas coisas: a primeira, por termos assinado com Ricciardo, um grande piloto. A segunda, ao fato de que, em dois anos, serei demitido”, revelou.

“Porque assinamos um contrato de dois anos, e sabia que isso ressaltaria o fato de que a equipe não estava no nível exigido ainda. E isso poderia ser interpretado como uma decisão ruim. Hoje, tenho sentimentos mistos, mas, por outro lado, não errei em minhas previsões”, finalizou.

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