Hamilton encerra espera e cai nos braços do povo com vitória em GP da Inglaterra de gala

Lewis Hamilton venceu. Foram demorados, longos e excruciantes três anos de uma espera que acabou em frente ao público dele, nas arquibancadas de casa para um GP da Inglaterra memorável

Quando alguém questionar qual a melhor corrida da temporada 2024 do Mundial de Fórmula 1, dificilmente a resposta vai fugir da ponta da língua de qualquer um que acompanhou o campeonato. Ainda há metade da disputa pela frente, mas é difícil imaginar uma corrida mais eletrizante que o GP da Inglaterra deste domingo (7). Auxiliado pelo sempre gostoso – para o público – chove-e-para, o GP inglês ofereceu grandes momentos de diferentes pilotos, equipes e estratégias. Alternativas de monte e três pilotos brigando pela vitória até os instantes derradeiros. No fim, o tão esperado retorno de Lewis Hamilton às vitórias. Em dia de gala, o heptacampeão venceu pela 104ª vez.

Quase 3 anos de espera ficaram no retrovisor. Fazia muito tempo desde aquela noite de Jedá, no GP da Arábia Saudita de 2021, num mundo ainda pandêmico, estranho e distante. Sem o apupo do público, sem o calor das 100 vitórias. Sem o que Hamilton merecia. A espera acabou com toda a ternura que aqueles recordes pediam. Hamilton, nos braços do público, vencedor outra vez.

E numa corrida memorável. A largada e a chegada foram no seco, mas as duas pancadas de chuva no meio do caminho mexeram em tudo. A McLaren parecia assumir o controle de tudo no começo da chuva, quando Lando Norris e Oscar Piastri tomaram as duas primeiras posições de assalto. Quando a água apertou mesmo, a equipe demorou a chamar Piastri e o jogou para trás.

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Lewis Hamilton parou nos momentos certos e se beneficiou (Foto: Reprodução/F1)

Norris seguia na frente, mas entrou uma volta depois que deveria para tirar os intermediários quando a chuva acabou. Por culpa dele e da equipe, a parada foi lenta e permitiu que Lewis tomasse a ponta no undercut. Então, para a sequência final, Hamilton e Norris tinham pneus macios, Verstappen estava de duros.

Os três chegaram para as últimas voltas separados por menos de 4s. Hamilton parecia ser o mais lento, mas nas últimas seis voltas reforçou a posição de líder que tinha. Verstappen passou Norris, mas estava longe demais de impedir o que parecia um golpe do destino. Era dia de Lewis. Verstappen terminou na segunda colocação, seguido por Norris.

Piastri foi o quarto, logo à frente de Carlos Sainz, ainda dono da volta mais rápida, com Nico Hülkenberg, Lance Stroll, Fernando Alonso, Alexander Albon e Yuki Tsunoda nos pontos. Pole-position, Russell abandonou com um problema que a Mercedes suspeitava ser de pressão no sistema de água.

A Fórmula 1 continua a temporada 2024 entre os dias 19 e 21 de julho, em Hungaroring, com o GP da Hungria.

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Confira como foi o GP da Inglaterra:

A ameaça de chuva continuava a pairar sobre Silverstone para o GP da Inglaterra. Se no sábado a previsão mostrava 70% de chances de chuva para o horário da corrida, agora a FIA informava que a chance era de 60%. O céu tinha espaços de sol entre nuvens carregadas, e o asfalto tinha 28°C de temperatura. A chuva, aliás, já tinha aparecido horas antes, durante a corrida na F3.

Pierre Gasly largava no último lugar na pista após decidir trocar todos os componentes do motor para a prova e era o último, mas Sergio Pérez, após erro na classificação, também mexeu no motor em Parque Fechado e largava do pit-lane.

Com relação às escolhas de estratégia, Guanyu Zhou e Esteban Ocon preferiam sair de pneus macios, enquanto Pérez ia de duros. De resto, todos com pneus médios. Inclusive os dez primeiros colocados: George Russell, Lewis Hamilton, Lando Norris, Max Verstappen, Oscar Piastri, Nico Hülkenberg, Carlos Sainz, Lance Stroll, Alexander Albon e Fernando Alonso. Bem como Charles Leclerc, o 11º.

George Russell largou e manteve a frente nas primeiras voltas (Foto: Mercedes)

Antes mesmo da largada, quando os carros terminavam a volta de apresentação e alinhava para partir, Gasly entrou no pit-lane. Tinha problemas e, mesmo após trocar tudo no motor, sequer partiu. O abandono lastimável chegou sem nem largou. O problema, conforme a Alpine informou mais tarde, foi de câmbio.

Russell partiu para defender a posição e Hamilton também saiu em bom ritmo, mas não forçou mergulhar para cima do companheiro. Recolheu para evitar o ataque de Norris ao lado, uma vez que, num primeiro momento, o piloto da McLaren se colocou na linha de dentro para ameaçar. Verstappen ficou por fora e esperou o momento certo para entrar na conversa e, quando esteve na linha de dentro da pistas sem o bloqueio imediato de uma Mercedes, deixou Norris para trás e assumiu a terceira colocação.

Sainz pulou para sexto, atrás de Piastri, seguido por Stroll e Leclerc, ganhador de três posições. Hülkenberg caía para nono, atrás de Alonso. A queda maior era de Albon, de nono para 12º. Mas o replay aéreo mostrou a razão. Hülkenberg deu leve escapada na saída e voltou à pista em cima de Alonso, que se moveu de lado e acabou fazendo Albon sacudir rapidamente, quase chicotear em Yuki Tsunoda. O incidente estava sob observação dos comissários.

Os primeiros avisos de chuva surgiam rapidamente. A McLaren avisou Norris que podia cair uma garoa na curva 15 apenas durante a sexta volta, mas o papo geral é de que a água vinha mesmo na região da 16ª volta. Durante a oitava volta, a FIA informava esperar chuva em 10min.

A Mercedes respondia bem na pista mais fria. Russell seguia na dianteira e fazia a volta mais rápida, com 1s5 de frente para Hamilton após 10 voltas. Para Verstappen, 3s. O tricampeão não fazia qualquer movimento para grudar nas Mercedes ainda, mas era mais rápido que Norris, atrás dele.

“Quando chover, será uma questão de escolher a hora certa para tomar decisões”, avisava a McLaren a Norris. A expectativa era de duas pancadas diferentes de chuva. Uma delas estava chegando e devia durar cerca de 5min; a segunda, 10min depois disso, mais forte.

Foi na 13ª volta que o primeiro pit-stop apareceu. Zhou, um dos que largou de macios, fez a parada dele. Dá para dizer que a aposta não se pagou muito, porque estava em 18º antes da parada. Ocon, outro de macios, em 17º.

Na pista, uma ultrapassagem em condições de corrida, finalmente: Leclerc mergulhou para cima de Stroll na Copse e tomou o sétimo posto. E Norris também dava uma resposta: após a 10ª volta, passou a ser mais rápido que Max pela primeira vez. Na 14ª, atacava enquanto os primeiros pingos d’água apareciam. Uma volta depois, na Stowe, nem negociou: freou tarde, jogou o carro por dentro e tomou o terceiro lugar de volta. Verstappen nem fez força para evitar o inevitável. E já tirava vantagem das Mercedes.

Lando Norris ultrapassou Max Verstappen (Foto: Reprodução/F1)

A chuva começou como garoa, mas virou pancada rapidamente. Com a chuva forte, Hamilton passou a voar. Antes que fizesse qualquer coisa, Piastri foi o próximo a superar Verstappen, de pneus extremamente desgastados. Aí, mudança na liderança da prova: Hamilton, como nos velhos tempos, chegou como um foguete para cima de Russell e mergulhou no fim da reta para tomar a dianteira. Com asfalto cada vez mais úmido, os dois passaram fora do traçado e na área de escape em seguida.

Norris também seguia extremamente veloz. Ignorou a presença de Russell, assumiu o segundo posto e encostou no caminho de Hamilton. Piastri, enquanto isso, passou Russell. Os carros laranja disparavam na corrida.

Na tomada da 20ª volta, Norris alinhou atrás de Hamilton na reta e, de maneira inapelável, ultrapassou. Não era só isso, porque na volta seguinte, mesmo sem DRS permitido em pista molhada, Piastri chegou em Hamilton, passou e armou uma dobradinha da McLaren.

“Achamos que a pista está molhada o suficiente para pneus intermediários”, disse a Mercedes para Hamilton. Mas o heptacampeão negou. “A pista está seca em vários lugares”, respondeu. Mesmo assim, Leclerc e Pérez pararam para colocar os intermediários. Uma vez de volta na pista, perderam rendimento. Estava claro que realmente não era hora para os pneus para pista molhada.

Lando Norris assumiu a frente assim que a chuva começou. Naquele momento, equipe parecia imbatível (Foto: McLaren)

Conforme a expectativa da previsão do tempo, a força diminuiu logo. Mas a notícia boa para quem gosta de corrida na chuva era que a próxima pancada de chuva viria em quatro minutos, pelas voltas 25 ou 26 de 52 – metade, portanto.

Norris e Piastri mantinham as duas primeiras posições, seguidos por Hamilton e Russell. Verstappen, Sainz, Hülkenberg, Alongo, Stroll e Tsunoda. Segundo a McLaren, seriam 30 minutos de chuva em breve. Praticamente todo o restante da prova.

Ocon foi outro a colocar pneus intermediários e, vendo que o resultado foi ruim, parou outra vez para pneus médios. Zhou, que tinha sido o primeiro a mudar, entrava de novo para intermediários. No meio dessa bagunça, as McLaren davam volta em Pérez na pista.

Totalmente de volta, a chuva abriu o caminho para que os primeiros colocados parassem, agora, sim, para pneus intermediários. Verstappen esperou até o giro 27 e entrou, assim como Sainz. Voltaram voando, ambos.

A McLaren chamou Norris na volta seguinte, mas Piastri ficou na pista. Mercedes, por outro lado, chamou os dois pilotos. Achou melhor fazer Russell estacionar e esperar que dar outra volta de slicks desgastados. Aparentemente, decisão certa. Piastri se deu mal. Quando finalmente parou, o retorno foi numa absurda sexta posição.

Verstappen ganhou a posição de Russell e a de Piastri, se restabelecendo no terceiro posto. Ainda recebeu apupo da Red Bull. “Ótima decisão de colocar os intermediários”, ouviu no rádio. A previsão era de que a chuva ficaria constante até a volta 40.

Após as paradas, Norris, Hamilton e Verstappen eram os três primeiros. Russell, Sainz, Piastri, Hülkenberg, Stroll, Alonso e Tsunoda completavam o top-10.

Após ser informado sobre a permanência da chuva por mais algum tempo, Hamilton responde que “não chovia mais”. Mas em determinadas partes do circuito, chovia, sim. Era no setor intermediário que a água parava. Mas era o suficiente para desgastar extremamente os pneus intermediários de Hamilton e Verstappen.

Sergio Pérez, enquanto isso, tomou volta ainda na primeira metade da corrida (Foto: Red Bull Content Pool)

De surpresa e para decepção tremenda da Mercedes na volta 34, a Mercedes mandou mensagem de rádio ordenando que Russell parasse o carro nos boxes e abandonasse. O problema, ao menos a suspeita da Mercedes, era no sistema de pressão da água. Era o fim. A resposta de George foi com dois ou três xingamentos para a situação.

Enquanto isso, na pista, Magnussen subiu na zebra após o fim da tomada da Club e quase bateu de frente na entrada do pit-lane, mas segurou o carro da Haas.

O momento de voar na pista era de Hamilton, que consistentemente tirava vantagem de Norris. A 15 voltas do fim, estava somente 1s5 atrás ao passo que o sol aparecia na pista. Verstappen seguia mais de 10s atrás.

Para evitar o ímpeto de Hamilton, Norris ia ao limite com o carro da McLaren e chegava a balançar na reta. Mas funcionava, porque voltava a esticar um pouco a corda nas voltas seguintes. A chuva parava, enfim.

A volta 39 era decisiva na corrida, porque abria a janela para colocar pneus slick. Magnussen e Ricciardo foram os primeiros e puseram pneus macios, mas Verstappen entrou em seguida e colocou duros. Hamilton, macios. A McLaren voltou a demorar a tomar decisão. Foi Norris quem precisou pedir para trocar e trocou, é verdade. Colocou pneus macios, mas numa parada 2s mais lenta que a de Hamilton, muito por parar à frente de onde devia no colchete. O resultado foi que voltou atrás. Hamilton, para a loucura da galera, assumia a liderança.

Hamilton tinha 2s de frente para Norris e 5s5 para Verstappen. De pneus médios, Piastri voava atrás, fazia a melhor volta e tentava tirar a desvantagem para Verstappen.

Mas que não se animasse muito, porque Verstappen aumentava o passo e tirava dele a melhor volta. Norris crescia também e ia para captura de Hamilton. Os três estavam separados por 2s7 a dez voltas do fim, como um verdadeiro thriller. Na volta seguinte, Norris foi quem fez a melhor volta da corrida.

A Red Bull avisava a Verstappen que já notava desgaste nos pneus dianteiros esquerdos de Hamilton e Norris. De duros, o tricampeão não tinha o mesmo problema. Mas Hamilton fazia a melhor volta dele na corrida a seis do fim.

Lewis Hamilton com a bandeira em punho (Foto: Reprodução/F1)

Estava claro que Norris já não tinha mais condições de segurar os pneus. Assim foi. Verstappen aproximou, aproximou e passou na volta 49. Tinha mais algumas para tirar 3s2 de desvantagem para Hamilton. Mas o desgaste também atingia Max, que não tirava grande tempo em relação a Lewis. Não ia dar.

A Verstappen, um segundo lugar que chegou a parecer improvável; a Norris, um decepcionante terceiro posto. A Hamilton, as lágrimas dum dia que tanto esperou nos últimos três anos. Pela 104ª vez na carreira, vitória na F1, mas jamais teve de aguardar tanto tempo. Pediu a bandeira britânica à Senna, desfilou em glória e chorou por baixo do capacete, abraçou o pai e correu para o público. O momento chegou.

F1 2024, GP da Inglaterra, Silverstone, Resultado final:

1L HAMILTONMercedes52 voltas 
2M VERSTAPPENRed Bull Honda+1.465 
3L NORRISMcLaren Mercedes+7.547 
4O PIASTRIMcLaren Mercedes+12.429 
5C SAINZFerrari+47.318 
6N HÜLKENBERGHaas Ferrari+55.722 
7L STROLLAston Martin Mercedes+56.569 
8F ALONSOAston Martin Mercedes+1:03.577  
9A ALBONWilliams Mercedes+1:08.387  
10Y TSUNODARB Honda+1:19.303  
11L SARGEANTWilliams Mercedes+1:28.960  
12K MAGNUSSENHaas Ferrari+1:30.153  
13D RICCIARDORB Honda+1 volta  
14C LECLERCFerrari+1 volta  
15V BOTTASSauber Ferrari+1 volta  
16E OCONAlpine+2 voltas 
17S PÉREZRed Bull Honda+2 voltas 
18G ZHOUSauber Ferrari+2 voltas 
19G RUSSELLMercedesNC 
20P GASLYAlpineNC 
      
VMRC SAINZFerrari1:28.293Volta 52
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