MCL39, defesa do título e Norris renovado: 5 desafios da McLaren na Fórmula 1 2025
A McLaren abriu mão de um lançamento pomposo após o título de 2024 e, ao contrário, apenas levou o modelo novo para um dia de filmagens em Silverstone na última quinta-feira (13), saindo na frente das rivais. E mesmo com uma pintura camuflada, foi possível notar certa evolução em relação ao carro de 2024, para uma temporada que promete ser desafiadora para os papaias. O GRANDE PRÊMIO lista os principais pontos do campeonato que começa em março, na Austrália
A McLaren dispensou uma apresentação mais formal para a temporada 2025 e vai revelar as cores reais do MCL39 apenas no lançamento conjunto da Fórmula 1 nesta terça-feira, dia 18. Ainda assim, a atual campeã do mundo levou seu novo modelo à pista na última semana, abrindo oficialmente os trabalhos para o campeonato que começa em março, na Austrália. O carro, camuflado em figuras geométricas em preto e laranja, foi guiado pelos dois pilotos, Lando Norris e Oscar Piastri, em um dia chuvoso em Silverstone. Apesar da tentativa de manter o suspense, deu para perceber que a esquadra chefiada por Andrea Stella seguiu o conceito aerodinâmico vencedor de 2024. Mas há outros desafios pela frente.
Entre eles, a defesa do título. A McLaren entra o ano como favorita, depois do poder de recuperação demonstrado na temporada passada. Além disso, há também o papel de Norris, agora escaldado pela batalha ferrenha de 2024. O inglês prometeu ir à luta e não ceder centímetro algum ao adversário Max Verstappen. Só que a concorrência externa parece ser maior desta vez, com uma Ferrari ainda forte e uma Red Bull renovada. E tudo isso sem contar a disputa interna, com um Piastri melhor acomodado nas garagens papaias e já falando em chance de ser campeão.
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MCL39: camuflado e cheio de pequenas surpresas
O novo projeto de Rob Marshall e Peter Prodromou desembarcou em Silverstone em um clima de mistério. A McLaren lançou mão de uma pintura excêntrica para disfarçar as linhas do novo carro. Não dá para dizer que é um erro, uma vez que as principais rivais ainda não revelaram suas criações. De toda forma, foi interessante notar que a equipe laranja aparentemente seguiu o conceito vencedor do ano passado em muitos aspectos, diferente do que Andrea Stella havia dito há algumas semanas, quando deu a entender que o time estava em uma linha diferente de desenvolvimento.
É claro que não foi possível notar todos os detalhes. As imagens e vídeos divulgados pela esquadra procuraram afastar olhares curiosos, especialmente na parte traseira do carro. Quer dizer, talvez tenha algo diferente ali ou o toque inovador, como disse Stella aos jornalistas durante a quinta-feira. “Estou muito satisfeito que conseguimos manter esse ritmo de desenvolvimento nos últimos anos. O carro de 2025 no papel deve ser um bom passo à frente.”
“Avaliamos tudo com muito cuidado. Precisávamos ser conscientes do quanto queríamos inovar e optamos por uma abordagem um pouco desafiadora em termos de inovação nesse carro. Principalmente sobre a eficiência aerodinâmica”, completou o italiano.
É um ponto para ficar de olho no momento em que o carro ganhar a pista do Bahrein no fim do mês. No entanto, deu para perceber que a parte dianteira do carro ainda é muito semelhante às soluções que a McLaren empregou na reta final da temporada passada, especialmente a asa, muito embora a suspensão tenha surgido em um layout distinto (mesmo mantendo o sistema pull-rod), assim como o bico do carro — algo que se viu depois na Williams. A ideia é manter o carro equilibrado e controlar melhor o fluxo de ar, garantindo o downforce. Os engenheiros também promoveram mudanças nas laterais, agora com um redesenho dos sidepods e entradas de ar. A parte inferior também pareceu uma evolução. Um dos objetivos, de acordo com Stella, foi criar “eficiência aerodinâmica e interação com os pneus”.
Mas há uma ressalva importante em tudo isso. Em 2024, a flexibilidade das asas foi tema polêmico e alvo de reclamações. A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) decidiu examinar de perto e ficou satisfeita com os resultados. Mas isso durou pouco, porque a entidade voltou atrás e optou por reduzir a tolerância, além de mudar os sistemas de medição. Isso deve acontecer a partir de junho, após o GP da Espanha, oitava etapa da temporada. Ou seja, as equipes vão precisar mexer na asa dianteira ao longo do campeonato com potencial para mudar o cursos das coisas.
Apesar disso, o chefe da McLaren descartou qualquer preocupação. “Será necessário um pequeno ajuste a partir da nona corrida. Mas nenhuma dor de cabeça com relação a isso. E não vamos precisar fazer muitos ajustes para o início da temporada.”
“Sei que isso virou um grande assunto, mas em termos do que nos mantém ocupados e do que nos dá dores de cabeça, na verdade, há tópicos completamente diferentes que têm muito mais a ver com ganhar aqueles décimos de segundo, que eu poderia ter feito parecer simples”, emendou.

A defesa do título entre os construtores e o fim do ‘Papaya rules’
A McLaren tem ainda como principal desafio permanecer como equipe a ser batida e repetir o sucesso de 2024 no Mundial de Construtores. Desde que revolucionou seu projeto a partir do GP de Miami, os ingleses passaram a ter nas mãos um carro altamente competitivo e com inovações que a concorrência demorou a acompanhar. Por isso, se espera tanto da esquadra laranja. E de fato, as primeiras imagens do MCL39 revelaram que o time de engenharia trabalhou duro para manter ao menos o mesmo nível competitivo.
Ao falar sobre o novo carro e a expectativa pelo campeonato, Norris deu a deixa: “Eles mudaram mais do que você pode pensar quando olha para o carro, o que é uma coisa legal. Quero dizer, você tenta melhorar em todas as áreas, certo?”. É isso, do ponto de vista técnico, é imperativo que a McLaren siga ditando tendência, mas, diferentemente do ano passado, é também essencial começar na frente desde a primeira corrida.
E para isso, também terá de tomar decisões esportivas mais sérias e difíceis. Não é segredo que muitas das oportunidades perdidas em 2024 foram resultados de um comando que oscilou em momentos importantes. Talvez por isso a equipe tenha agora chamado a responsabilidade para si — e se esse for o caso mesmo, é sinal de que a lição de casa foi bem feita.
“Lando definitivamente tem as qualidades, habilidades e a mentalidade para se tornar campeão mundial. A pressão está na equipe, temos de dar a eles um carro que permita lutar por pódios e vitórias desde o início”, garantiu Stella, que também assegurou chances iguais aos dois pilotos. Outro ponto que será fundamental: saber lidar com a dupla, para não dar espaço aos rivais. Portanto, o fim do famigerado ‘Papaya rules’ precisar ser para ontem.

Uma nova versão de Norris
Lando Norris viveu um 2024 em que a linha entre o céu e o inferno foi tênue. Mesmo tendo nas mãos o melhor carro do grid por grande parte da temporada, o britânico não soube como aproveitar as oportunidades. Sucumbiu à pressão da disputa pelo título com um fortíssimo Max Verstappen e agora precisa provar que aprendeu também lições valiosas, porque a lógica diz que a nova temporada deve reeditar as batalhas do último ano, talvez em doses ainda maiores e extremas. Afinal, não há qualquer indicação de que o tetracampeão vá tirar o pé em algum momento.
É claro que Lando não pode fugir das perguntas sobre uma nova disputa com o neerlandês. Mas garantiu ter a receita para lidar com Max. “Preciso mostrar a ele que não vou ceder posição de bom grado, mas também tenho de ser inteligente. Para derrotar Max, a inteligência é necessária”, afirmou Norris à imprensa britânica. O inglês da McLaren e o piloto da Red Bull protagonizaram diversas disputas roda a roda no ano passado, quando a equipe laranja passou a ter um carro vencedor. A maior parte das batalhas acabou em polêmica.
“Não tenho nada a provar. Não preciso correr riscos desnecessários. E não acho que você precise fazer nada de especial para vencer Max”, comentou o piloto da McLaren. “Ele é rápido, agressivo e um dos melhores de todos os tempos, mas a maneira mais fácil [de derrotá-lo] é ser um pouco mais rápido e ficar na frente. Só tem que ser inteligente e pensar a longo prazo às vezes.”
Aqui também há uma ressalva importante. Embora a rivalidade com Verstappen e o desejo de revanche sejam uma mola motivadora, o grid parece bem mais competitivo do que há 12 meses. A Ferrari e até mesmo a Mercedes podem entrar na equação, então Norris entra na mais crucial temporada de sua carreira, levando em consideração a experiência e o trabalho técnico da McLaren.

Piastri: a ‘dor de cabeça’ que a McLaren precisa
Parece estranho dizer isso, mas a McLaren precisa também de um incômodo interno, certa tensão nas garagens, para ter de agir e provar que aprendeu com os erros de 2024. E nada melhor do que uma rivalidade caseira para isso. Oscar Piastri vai entrar em sua terceira temporada neste ano e é hora de mostrar a que veio. A performance oscilante na última temporada o afastou da briga, mas o australiano também soube se impor em alguns momentos. A meta agora é elevar o sarrafo.
Aos jornalistas em Silverstone, Piastri afirmou que, no início do campeonato passado, lidava ainda algumas fraquezas que precisavam ser eliminadas. Agora, um ano depois, já entende que esses pontos fracos já não são mais um obstáculo para a disputa do título. “Sim, houve algumas situações em que acabei ajudando o Lando ano passado, mas também houve algumas em que ele me ajudou. Então, não foi tão simples assim”, explicou o piloto.
“Mas sim, definitivamente estamos começando uma página em branco e realmente acho que posso ser campeão este ano. Sinto que, há 12 meses, eu estava entrando na temporada ainda com algumas fraquezas. Acho que, durante a temporada passada, trabalhei para resolvê-las”, garantiu.
Sem dúvida, será interessante acompanhar a dinâmica dos boxes papaias.

Rivais mais fortes pedem perfeição
2024 se mostrou um belo exercício do que é preciso para se vencer um campeonato na Fórmula 1. Embora tenha sido capaz de reverter um início de temporada aquém para se tornar a equipe a ser batida, a McLaren levou tempo até ocupar o posto de liderança. Isso aconteceu em grande parte devido às oportunidades perdidas ao longo do ano e derrotas doídas em corridas que poderia ter vencido. É bem verdade que conseguiu encerrar um jejum que já durava mais de 20 anos com o Mundial de Construtores, mas é igualmente certo dizer que flertou com o fracasso na parte final da disputa. Porque a Ferrari também chegou forte e se colocou como ameaça.
Portanto, não dá para esconder: diante do que se viu no ano passado, a ascensão dos italianos, empurrados agora por um faminto Lewis Hamilton, e sem contar o desejo de vingança da Red Bull, o campeonato tende ser ainda mais parellho, obrigando o time laranja a ser perfeito. Nem mais nem menos.
A Fórmula 1 se aproxima do retorno das férias. A próxima atividade é exatamente a sessão única de testes coletivos de pré-temporada, marcada para os dias 26, 27 e 28 de fevereiro, no Bahrein. A temporada 2025 começa com o GP da Austrália, nos dias 14-16 de março.
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