Daniel Ricciardo vive um 2020 curioso. O projeto de ajudar a Renault a virar uma potência na Fórmula 1 foi abortado tão logo uma vaga na McLaren para 2021 se abriu. O australiano já está de malas prontas, mas ainda precisa completar a temporada vigente pela escuderia amarelada. Só que sem muito pelo que competir ou o que conquistar: o R.S.20 segue pouco capaz de brigar por posições de destaque, isso enquanto o companheiro Esteban Ocon faz retorno conturbado ao grid.
Por mais que a F1 tenha realizado apenas três GPs e uma análise dessas pode parecer precipitada, é difícil acreditar em uma mudança radical nos próximos meses.
Do ponto de vista da Renault, porque não é fácil ganhar terreno contra rivais mais sólidas, como Ferrari, McLaren e Racing Point. Se não conseguiu desde 2016, como acreditar que vai chegar lá até o fim de 2020? Do ponto de vista de Ocon, é alguém que passou um ano sem correr e que volta justamente com um carro desconhecido. O talento do francês existe, fato, mas não é do dia para a noite que se chega ao nível de Daniel. Basta lembrar do antecessor Nico Hülkenberg: subestimado e em Enstone desde 2017, terminou perdendo a briga interna em 2019 mesmo assim.
Desse jeito, o 2020 de Ricciardo é um ano tampão, com função exclusiva de seguir na ativa enquanto não é hora de partir para a McLaren. Qualquer ganho que os franceses façam com o R.S.20 não será aproveitado por Daniel em 2021. Pelo contrário: já que a equipe britânica planeja economizar dinheiro no desenvolvimento do MCL35, é possível que a disputa entre as duas equipes fique apertada. Isso, claro, lembrando que os carros atuais serão reaproveitados em 2021, com a grande mudança de regulamento ficando para 2022.
Ricciardo nunca criticou abertamente a Renault, mas a situação parece frustrante para quem vê de fora. O piloto que até dois anos atrás precisava ir ao limite para desafiar Max Verstappen, tendo como recompensa a luta por pódios e vitórias, agora se vê bem menos exigido. Superar Ocon é muito mais fácil, e as brigas atuais são por sétimo ou oitavo nos domingos. Ir além depende de torcer por quebras de Mercedes, Red Bull, Ferrari, Racing Point e McLaren. Briga de verdade com outra equipe, talvez só contra a AlphaTauri em condições normais.
É ruim para Ricciardo, mas é ruim também para a Fórmula 1 como um todo. Faz tempo que não vemos o australiano fazendo ultrapassagens arrojadas, freando mais tarde que todos, como muitas vezes vimos nos dias de Red Bull. Por mais que o australiano faça um trabalho digno ao pontuar com frequência na Renault, é um trabalho que se tornou menos digno de nota.
Talvez ainda seja precipitado falar que a McLaren vai trazer o Ricciardo que conhecemos de volta. Os alaranjados voltaram a fazer pódio, mas em circunstâncias específicas. Bom, já seria melhor do que lutar apenas para superar Ocon na Renault.