Na Garagem: Brabham venceu na Alemanha em 1966 e encaminhou tri na F1

Ao deixar a Alemanha, Jack Brabham tinha 39 pontos contra apenas 17 de Graham Hill e 15 de Surtees e Rindt. Ainda não era o campeão, mas por conta dos descartes, apenas Surtees, que tinha uma vitória e um segundo lugar podia ultrapassá-lo. Brabham é até hoje o único piloto em 66 temporadas na F1 a vencer com um carro construído por ele mesmo

Assim como Juan Manuel Fangio, Jack Brabham era um outsider na F1. Neto de um londrino que emigrou para a Austrália em 1885, cresceu fascinado por motores, máquinas e todo o tipo de dispositivo ligado à mecânica. Essa habilidade de Brabham nos boxes seria decisiva para o futuro do australiano na F1: Jack é o único piloto a ser campeão com a própria equipe. E esse fato aconteceu no ano de 1966. 

Outro dado torna a conquista do piloto-construtor ainda mais relevante: somente Fangio e Giuseppe Farina chegaram ao título com mais idade que Brabham. Fangio foi pentacampeão em 1956, com inacreditáveis 46 anos de idade, enquanto Farina ganhou o primeiro campeonato da F1 em 1950, aos 43 anos e dez meses. Sir Jack está no pódio dos “velhinhos” por ganhar o tri em 1966, já com 40 anos e cinco meses de idade.

Brabham estreou na F1 em 1955 e assistiu à briga entre Mercedes e Ferrari sem poder lutar pelo título. Foram anos dominados por Fangio e por Mike Hawthorn. Na primeira oportunidade com um carro competitivo na Cooper, Jack desbancou Tony Brooks (Ferrari) e Stirling Moss (BRM) para ganhar o primeiro título mundial em 1959. Em 1960, com o melhor carro do grid, bateu Bruce McLaren para conquistar o bicampeonato.
 
Já consagrado, o australiano resolveu topar um novo desafio ao final da temporada de 1961: deixou a Cooper para criar a própria equipe: a Brabham Racing Organization. Os resultados não tardaram a aparecer: em 1963, segundo ano da esquadra, o time foi terceiro no Mundial de Construtores. Em 1964, quarta posição; em 1965, novamente terceiro lugar. Em apenas quatro anos competindo, a Brabham era uma equipe consolidada.
 
Na temporada seguinte, o pulo do gato. A FIA dobrou a capacidade dos motores para 3 litros e era difícil encontrar propulsores confiáveis com tamanha capacidade. Apareceu o gênio construtor de Brabham: ele pediu à empresa de engenharia Repco um motor de alumínio, baseado no Oldsmobile F85. O carro não era tão potente e poucos acreditavam no sucesso da equipe. Mas a combinação resistência e peso leve tornaram o carro competitivo.
Jack Brabham é até hoje o único a vencer na F1 com a própria equipe (Foto: Getty Images)
Com esse carro, Brabham se tornou o primeiro piloto a vencer uma corrida de F1 com um chassi próprio, no GP da França de 1966. Apenas Dan Gurney e Bruce McLaren repetiriam esse feito. A temporada daquele ano foi uma das mais disputadas da história do Mundial, com cinco pilotos de quatro equipes diferentes brigando pelo título. Após o GP francês, (o terceiro do ano) Brabham, Lorenzo Bandini (Ferrari), John Surtees e Jochen Rindt (Cooper) e Jack Stewart (BRM) estavam separados por apenas três pontos.
 
Dali em diante, a regularidade do carro e a pilotagem do australiano fizeram toda a diferença. Brabham emendou três vitórias seguidas e fez o difícil se tornar fácil. Quando a F1 chegou à Alemanha, os cinco concorrentes pelo título eram quase os mesmos. Mas Brabham tinha 30 pontos contra 14 de Graham Hill, 12 de Stewart e 11 de Bandini e Rindt. Eram todos contra Brabham no “inferno verde”. Até então, o australiano jamais havia vencido lá.
 
Jim Clark foi o pole com 8min16s500 com a Lotus, seguido por Surtees, Stewart, Ludovico Scarfiotti, da Ferrari. Brabham, com um motor menos potente, foi apenas quinto no grid, com 8min20s800 – quatro segundos e três décimos mais lento que Clark. Surgia a possibilidade dos rivais encurtarem a vantagem na tabela do campeonato.
 
Uma das críticas mais severas à Brabham era sobre a idade, e o australiano ficava furioso com isso. Certa feita vez, caminhou pelo grid com uma barba postiça, apoiado numa bengala para ironizar os repórteres que o questionavam. No domingo, a chuva deixou o velho Nürburgring ainda mais perigoso, e a experiência do ‘velhinho’ seria um fator decisivo.
 
Surtees tomou a ponta, seguido de Brabham e Bandini. Enquanto isso, um grave acidente aconteceu entre o inglês John Taylor da Matra e o belga Jacky Ickx, da BRM. Os dois carros pegaram fogo, e o piloto da Matra morreria um mês depois no hospital de Coblenz por conta das queimaduras. Ao fim da primeira volta, Brabham passou Surtees para não mais largar a dianteira.
Brabham conquistou o tri em 1966 (Foto: Getty Images)
A chuva e a imensa pista de 22 km dizimaram os concorrentes. Dos 19 carros da F1 (11 eram da antiga F2), apenas oito chegaram ao final da prova. Os abandonos de Clark e Hulme deixaram Brabham, Surtees e Rindt sem serem incomodados – Hill, o quarto colocado, chegou mais de quatro minutos atrás de Rindt.
 
Essa foi a única vitória de Brabham no GP alemão em 16 anos de F1. Mas certamente foi uma das mais decisivas da sua carreira. Ao deixar a Alemanha, ele tinha 39 pontos contra apenas 17 de Graham Hill e 15 de Surtees e Rindt. Ainda não era o campeão, mas por conta dos descartes, apenas Surtees, que tinha uma vitória e um segundo lugar podia ultrapassá-lo na tabela. Brabham é o único piloto em 66 temporadas na F1 a vencer com um carro construído por ele mesmo.
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