Na Garagem: GP da Bélgica encaminhou tri de Senna e viu Schumacher começar era

O GP da Bélgica de 1991 foi histórico por vários sentidos: primeiro, pelo fato de Ayrton Senna conseguir derrotar o ‘império’ da Williams e alcançar uma vitória que pavimentou de vez seu caminho rumo ao tri. E depois, por apresentar ao mundo da F1 aquele que viria a ser o maior vencedor de todos os tempos: Michael Schumacher

O GP da Bélgica já teve 60 edições, 48 delas no circuito de Spa-Francorchamps, na região de Ardennes. O traçado atual, que mede pouco mais de 7 km, é considerado pela maioria dos pilotos, do público e dos especialistas em automobilismo como o melhor da F1.

Na edição de 1991, Ayrton Senna conquistou sua quinta vitória no GP da Bélgica. Naquele ano, na prova ocorrida em 25 de agosto, Senna ultrapassou Jim Clark como o maior vencedor em terras belgas. Esse triunfo foi o segundo consecutivo de Senna e representou uma folga muito bem-vinda na tabela na luta pelo título contra Nigel Mansell, da Williams.

Após abrir 34 pontos de vantagem nas primeiras quatro etapas do campeonato, Senna viu o ‘Leão’ enfileirar três vitórias seguidas no mês de julho. No auge do verão europeu, o motor Honda não era páreo para a melhor relação peso/potência do motor Renault e, principalmente, contra a melhor aerodinâmica da Williams nos circuitos de média para alta velocidade.

Senna aproveitou as características do circuito da Hungria — retas curtas e desenho travado — para vencer e manter a distância em 12 pontos. Mas ainda faltavam seis etapas para o fim do ano, e todos contavam com uma dobradinha da Williams em Spa — a diferença poderia cair para apenas seis pontos mesmo se Ayrton fosse o terceiro colocado.

No entanto, quando a F1 aportou na Bélgica, o assunto mais discutido não era sobre as chances de Senna manter a diferença e conquistar o tricampeonato mesmo com um carro inferior aos Williams. A F1 estava nas páginas policiais por causa do belga Bertrand Gachot, piloto da estreante equipe irlandesa Jordan. Após uma briga de trânsito, Gachot jogou gás CS, um tipo de lacrimogêneo no rosto de um taxista londrino para evitar ser agredido.

O começo de uma era: Schumacher estreava na F1 há 24 anos (Foto: Forix)

Tal substância é proibida na Inglaterra, e Gachot não apenas foi preso, mas também julgado e condenado a cumprir seis meses de prisão na penitenciária de Brixton. Após recorrer da sentença, o belga foi solto após dois meses de xilindró. Com isso, a boa temporada de Gachot — três corridas na zona de pontuação e quatro pontos na tabela — foi para o espaço. Eddie Jordan, dono da equipe, precisava urgentemente de outro piloto para alinhar em Spa.

Um alemão de 22 anos, piloto do Mundial de Esporte-Protótipos pela equipe Sauber Mercedes, cujo resultado mais expressivo até então tinha sido o título da F3 alemã em 1990, conseguiu a vaga. Para conseguir o posto, o empresário Willi Weber pagou US$ 300 mil e omitiu uma informação.

Jordan perguntou se o guri tinha experiência na pista de Spa, uma das mais difíceis do mundo. Weber respondeu: “Claro que tem, ele nasceu a 80 km daqui”. A única experiência do rapaz em Spa era algumas voltas de bicicleta pela pista. O novato se chamava Michael Schumacher.

Schumacher colocou o carro #32 da Jordan num espantoso sétimo lugar no grid. Andrea de Cesaris, seu companheiro, tomou 0s8 e saiu em 11º. Em sua corrida de estreia, Schumacher já igualava o melhor grid da história da Jordan.

De Cesaris fez uma corrida soberba em Spa. Até o motor deixá-lo na mão (Foto: Forix)

Aproveitando a má largada de Alesi, O alemão já aparecia em quinto quando o câmbio quebrou: a estreia durou menos de 1 km. Mas a boa impressão ficou: na corrida seguinte, na Itália, ele foi contratado pela Benetton graças ao polêmico Flavio Briatore, que dispensou o brasileiro Roberto Pupo Moreno.

Ayrton manteve a ponta, trazendo com ele Prost, de Ferrari e Mansell. Nelson Piquet vinha em quarto, com sua Benetton. Gerhard Berger, com a outra McLaren, vinha em quinto. Prost abandonou logo na segunda volta, com o motor quebrado. Mansell, mais rápido, logo começou a pressionar Senna com o intuito de tomar a ponta.

Após as paradas nos boxes, Mansell voltou à frente e travava uma batalha pela liderança com Jean Alesi — o francês ainda não tinha ido aos pits.

A corrida daquele ano representou também a última de Moreno pela Benetton (Foto: Forix)

Porém, na volta 21, praticamente metade da prova, ocorreu o lance que decidiria a corrida e, talvez, o campeonato. O motor Renault de Mansell cruza a reta “fazendo barulho de liquidificador”, nas palavras do narrador Galvão Bueno. O motor do inglês não durou mais do que meia volta depois disso. Mansell estava fora da prova. Liquefeitas estavam as chances de título do inglês com um abandono num momento crucial do ano.

Mas ainda assim, o final de corrida não foi simples para Senna. De Cesaris, com o carro sensação do fim de semana, fazia uma enorme prova, vinha em segundo e se aproximava do líder. Para sorte do brasileiro, o motor do italiano estourou a apenas três voltas do fim. Protegido por Berger, que herdou o segundo lugar, Senna tratou de poupar o carro e embolsar os 10 pontos pela vitória.

Ayrton Senna venceu o GP da Bélgica e ficou perto do tri (Foto: Forix)

370 dias depois desse GP, a F1 voltou a Spa-Francorchamps e viu Schumacher largar em terceiro e vencer pela primeira vez na carreira. Assim como foi importante na carreira de Senna, o circuito belga foi marcante na carreira do alemão. Schumacher estreou, venceu pela primeira vez, conquistou o heptacampeonato em 2004 e é o maior vencedor da pista, superando seu ídolo Senna. Além disso, o lendário alemão cumpriu justamente em Spa sua 300ª corrida na carreira pela F1.

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