Na Garagem: Schumacher faz último pódio em dia de vitória épica de Alonso em Valência

Foi há exatos 10 anos, no dia 24 de junho de 2012, que Michael Schumacher subiu pela última vez em um pódio da Fórmula 1, no histórico GP da Europa - que contou com performance memorável de Fernando Alonso

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Vou começar este texto pedindo licença poética a você. Gostaria de relembrar uma fala do personagem Andy Bernard, interpretado por Ed Helms, na série americana The Office. No último episódio do sitcom, Andy olha para a câmera e afirma que “gostaria que houvesse uma maneira de saber que você estava nos bons velhos tempos antes de realmente deixá-los”. É possível adaptar essa frase para o 24 de junho de 2012, há exatos 10 anos.

Naquele dia, a Fórmula 1 vivia uma das corridas mais caóticas de sua recente história. Em Valência, para o GP da Europa, Fernando Alonso venceu sua segunda prova no ano – o primeiro piloto a atingir tal feito na temporada, que chegava a sua oitava etapa (!!!!!!!!!). E foi um triunfo conquistado de maneira heroica: o então ferrarista largou em 11º, fez ultrapassagem atrás de ultrapassagem em uma pista complicadíssima e contou com abandono de Sebastian Vettel na volta 33 para vencer.

Alonso teve uma atuação memorável. A melhor de sua carreira, segundo o próprio, a melhor daquela temporada, com certeza. Há quem diga que é uma das cinco melhores performances do século na Fórmula 1. Fato é que enquanto o piloto da Ferrari ia às lágrimas ao ouvir o hino de sua terra natal após um improvável triunfo, ao seu lado estava um rosto conhecido, familiar, no posto de terceiro colocado.

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Michael Schumacher comemorando seu último pódio na F1 (Foto: Daimler)

Quis o destino que, em uma corrida especial, aquele fosse um dos pódios mais especiais da história da Fórmula 1. Ali, naquele degrau de terceiro colocado, estava Michael Schumacher, em seu 155º pódio. O último.

Foi o primeiro e único do heptacampeão mundial na Mercedes. E aquela temporada de 2012 não estava sendo exatamente tranquila para Schumacher. Muito pelo contrário. Seu companheiro de equipe Nico Rosberg já havia vencido uma corrida no campeonato, no GP da China. Ou seja: o bólido mercedista era capaz, portanto, de alçar voos maiores em comparação aos anos anteriores. Mas o experiente alemão não conseguia extrair o melhor do W03.

Naquela mesma corrida, na China, enquanto Rosberg havia garantido a pole-position, Schumacher tinha assegurado a terceira posição no grid de largada. O alemão vinha bem, era promessa de pódio. Mas, no 12º giro da corrida, um pneu solto após seu primeiro pit-stop forçou o abandono. Em Mônaco, o heptacampeão foi o pole-position, mas uma punição da corrida anterior, na Espanha, o derrubou para a sexta posição. No fim, pouco importou: Schumacher também teve que abandonar a disputa nas ruas de Monte Carlo. Pontos, mesmo, só dois: um na Malásia e outro no Bahrein.

Rosberg vinha melhor que Schumacher na F1 2012 (Foto: Mercedes)

Chegamos, então, a Valência. A oportunidade de dar uma volta por cima na temporada se apresentou e Schumacher aproveitou – não, sem antes, muito drama. No treino classificatório, após um Q1 sem problemas, veio o problemático Q2. O heptacampeão mundial errou em sua primeira tentativa de volta e, na segunda rodada, foi visivelmente mais cauteloso. Conclusão: tempo de 1min38s770 e a 12ª posição no grid de largada – enquanto o companheiro de equipe Rosberg, mais uma vez, carimbava passaporte para a parte final da classificação. 

Para a corrida, Schumacher largaria ao lado justamente de Alonso, o 11º, na sexta fila. E, assim como o espanhol, se valeu do caos à frente – não sem antes sobreviver a ligeiro toque de Bruno Senna em sua Mercedes. Depois de ser ultrapassado por Jenson Button e cair para 13º, o heptacampeão mundial viu a equipe alemã mudar a estratégia: de uma para duas paradas nos boxes. 

Foi isso que salvou a corrida de Schumacher. Motivo? Na volta 27, Jean-Éric Vergne usou o DRS para ultrapassar Heikki Kovalainen na curva 12. Até aí, tudo certo. Mas o francês achou que sua Toro Rosso já estava completamente à frente da Caterham rival, quando não estava. Conclusão: colisão, muitos detritos na pista e safety-car. 

Corrida de Schumacher em Valência mudou completamente na volta 27 (Foto: Mercedes)

Como havia parado 10 voltas antes, não fazia sentido Schumacher ir aos boxes – como grande parte do grid fez, aproveitando o carro de segurança. Isso fez com que o alemão subisse para sétimo. E o sétimo lugar logo virou sexto, quando o líder Sebastian Vettel – que tinha aberto vantagem de 20s para o segundo colocado antes do safety-car – foi forçado a abandonar por problemas no alternador. 

Assim que Daniel Ricciardo – que não tinha parado durante o safety-car – enfim foi aos boxes, Schumacher passou a andar atrás de Mark Webber, em quinto. Tanto o piloto da Mercedes quanto o da Red Bull logo partiram para suas respectivas segundas paradas. Assim sendo, com 16 voltas para o fim da épica corrida em Valência, Schumi era o 11º – à frente do australiano. 

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Com novos pneus macios, tanto Schumacher quanto Webber passaram a voar na pista. Vitaly Petrov, Button, Sergio Pérez, Paul di Resta, Nico Rosberg (que realizou pit-stop no fim) e Nico Hülkenberg: todos ficaram para trás. A duas voltas do fim, o top-5 da prova em Valência tinha Alonso-Hamilton-Räikkönen-Maldonado-Schumacher.

Mas na penúltima volta… o pódio caiu no colo de Schumi. Ao melhor estilo Maldonado, o piloto da Williams usou o DRS para ultrapassar Hamilton na curva 13, mas o então membro da McLaren fechou a porta e tomou a linha do traçado para si. Quando o venezuelando tentou voltar à pista, acabou acertando o britânico em cheio, jogando o adversário para o muro. Essencialmente, fim de prova para os dois: Hamilton, obviamente, abandonou, enquanto Maldonado carregou danos em sua asa dianteira e, mesmo caindo no grid, conseguiu terminar a prova (não que importasse, afinal, tomou punição de 20s após o fim da disputa).

Dia épico para Alonso e Schumacher (Foto: Ferrari)

E assim foi. Alonso venceu – e com o triunfo, o espanhol ficou responsável por somar 111 dos 122 pontos da Ferrari na temporada (sim, você não leu errado). Diz muito sobre a capacidade do piloto bicampeão mundial que seu melhor ano na F1 não resultou em título; afinal, aquela F2012 da escuderia italiana recebeu, não injustamente, a alcunha de um dos piores carros a ser postulante à conquista do campeonato na história da F1. Räikkönen foi o segundo. Schumacher, o terceiro. Média de idade do pódio? 35 anos, 8 meses e 8 dias. Todos, com ligações profundas com a escuderia italiana. 

“Eu realmente não pensei que tinha conseguido o pódio no final da corrida. Foi cruzando a linha que eu perguntei ao pessoal da garagem: ‘onde terminamos?’ Quando eles me disseram ‘pódio’, não pude acreditar. É algo que eu realmente não esperava. Você meio que perde a conta, porque eu estava muito ocupado nos últimos estágios da corrida”, afirmou o surpreso Schumacher.

“São momentos como esse, definitivamente, que você gosta profundamente. É uma sensação maravilhosa voltar (ao pódio) depois de tanto tempo. Nós estivemos algumas vezes perto disso. Aconteceu de uma forma bastante espetacular, em uma pista onde é difícil passar, mas devido a várias estratégias e diferenças na pista foi bem emocionante e essa é obviamente a melhor forma de se conseguir. Te faz inesperadamente mais feliz”, resumiu o heptacampeão mundial.

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