Na Garagem: Monza é palco de título de Andretti, mas chora morte de Peterson

Em 11 de setembro de 1978, o mundo do esporte viu a coroação de Mario Andretti como novo campeão da F1. O título conquistado pelo ítalo-americano, porém, veio em meio às lágrimas pela trágica morte do promissor e provável campeão do mundo, Ronnie Peterson

Quando a F1 chegou a Monza, em 10 de setembro de 1978, havia disputa monopolizada pela Lotus. Ou o título ficaria com o norte-americano Mario Andretti ou com o sueco Ronnie Peterson, ambos pilotos da escuderia de Colin Chapman. O carro-asa, inventado pela Lotus, varreu a concorrência sem piedade.

Naquele ponto do campeonato, o ítalo-americano tinha 63 pontos contra 51 do sueco. Niki Lauda, com a Brabham, vinha em terceiro com apenas 35 pontos. Uma vitória de Andretti com Peterson chegando de terceiro para baixo, resolveria a contenda em favor de Mario. Outra combinação possível era Andretti chegar em segundo e o sueco não pontuar. Resumindo: ele estava com uma das mãos na taça.

O fim de semana em Monza começou agitado fora da pista. Jochen Mass quebrou a perna ao testar o novo carro da ATS em Silverstone. O alemão foi substituído pelo austríaco Harald Ertl. A equipe Surtees também tinha mudanças na escalação: Rupert Keegan machucou o pulso no GP anterior, na Holanda, e em seu lugar a escuderia do ex-campeão mundial colocou o italiano Carlo Franchi — piloto pagante e conhecido pela curiosa alcunha de Gimax.

Outro piloto também ficou de fora do GP da Itália de 1978: era o promissor francês René Arnoux. Com a falência da equipe Martini, ele ficou sem carro para aquela corrida. Mas o desenrolar dos acontecimentos daquele fim de semana em Monza dariam a ele outra chance na F1.

Durante os treinos, Andretti fez valer o favoritismo da Lotus e cravou a pole: 1min37s520. Em segundo, com a Ferrari, um novato de nome Gilles Villeneuve marcou 1min37s866. Jean-Pierre Jabouille, com a Renault, marcou 1min37s930 e ficou com o terceiro posto, dividindo a segunda fila com Lauda. Peterson não treinou bem e foi apenas o quinto no grid.

Peterson estava insatisfeito com o status de segundo piloto e confidenciou a alguns amigos que havia assinado com a McLaren. Com um contrato de três anos, ele iria substituir o amigo James Hunt na equipe britânica. O sueco queria uma chance real de ser campeão do mundo.

Segundo a opinião de muita gente à época, Peterson deveria esquecer as ordens de equipe e o acordo firmado com Chapman e partir para cima do norte-americano. Mas o sueco rebateu esses conselhos de forma muito elegante: “Eu sabia o que estava no papel quando assinei o contrato. Se eu descumprir o prometido, quem irá confiar em mim depois disso?”.

Ronnie teve um fim de semana conturbado e estava descontente com sua posição de largada: ia partir atrás da Renault de Jabouille, não muito rápida nas largadas — isso poderia deixá-lo encaixotado no meio do grid e prejudicar sua corrida. No warmup, uma falha nos freios causa uma batida e seu Lotus fica destruído. O sueco foi obrigado a largar com um modelo antigo, mais frágil.

A F1 estreava uma novidade naquele GP: foi o primeiro no qual a largada foi feita com uso das luzes de semáforo. A inexperiência com o sistema de largada custaria caro. A partida deveria acontecer com todos os carros parados no grid, mas Gianni Restelli, diretor de prova, acionou a luz verde com apenas os oito primeiros carros estacionados no grid.

Acidente gravíssimo em Monza resultou na morte de Peterson em 11 de setembro de 1978 (Foto: Forix)

Com isso, os pilotos que estavam no fundo, ao verem a luz verde, aceleraram os carros e partiram em movimento. Assim, quando os carros chegaram para a chicane ao fim da reta, os carros estavam embolados na entrada da variante. O acidente era inevitável. Os quatro primeiros conseguiram escapar, mas o pelotão composto por Alan Jones, John Watson, Jacques Laffite, Jody Scheckter, Ronnie Peterson, James Hunt e Riccardo Patrese iria causar um strike na chicane.

Patrese, então em seu primeiro ano de F1, resolveu usar a linha de fora para tentar ganhar posições. Mas com a chegada da chicane, precisou voltar para dentro e virar para a esquerda, de modo a contornar a chicane. Quando tentou se encaixar no pelotão, tocou a McLaren de Hunt. O toque fez com que Hunt jogasse Peterson para fora da pista, colidindo com o guard-rail a quase 200 km/h.

Em seguida ao acidente, os pilotos correram a resgatar Peterson do seu Lotus em chamas. Hunt, com ajuda de Clay Regazzoni, arrancou o volante do carro e puxou o sueco dos destroços. Com a frente do carro destruída, as pernas de Peterson estavam muito afetadas — contudo, ele estava vivo. Além de Peterson, Hunt e Patrese, o acidente tira da prova os carros de Hans Stuck, Brett Lunger, Didier Pironi e o italiano Vittorio Brambilla, que também se lesionou na batida, porém sem gravidade.

Regazzoni, Carlos Reutemann e Patrick Depailler também são envolvidos no acidente, mas conseguem alinhar para a segunda largada. Ao todo, a batida afetou 10 dos 26 carros do grid. Tamanha confusão fez com que a segunda largada só acontecesse duas horas depois do acidente. Com a segunda largada ocorrendo às 16h locais, a corrida foi reduzida para 40 voltas.

Villeneuve, assim como ocorreu na primeira largada, pulou na ponta e tomou a liderança de Andretti. No entanto, ambos queimaram a largada e foram punidos com o acréscimo de um minuto no tempo final de prova. O norte-americano só retomou a liderança na volta 35, quando o canadense da Ferrari sofria com o desgaste de pneus e de freios.

Mario Andretti foi campeão mundial de F1 com a Lotus em 1978 (Foto: Forix)

Jabouille sofreu uma quebra de motor logo na volta seis e, com isso, as Brabham de Lauda e Watson ocuparam o terceiro e quarto lugares. A punição jogou Andretti e Villeneuve para a sexta e a sétima posições, e a dupla da Brabham viu a dobradinha cair no colo.

Andretti, com o sexto lugar e o abandono de Peterson, sagrava-se campeão mundial — 17 anos depois da conquista de Phill Hill, os EUA novamente conquistavam o Mundial de F1. Uma coincidência trágica une esses dois títulos: os companheiros dos campeões se acidentaram em Monza e foram vice-campeões nesses Mundiais. Na oportunidade, o conde Wolfgang von Trips, ícone alemão no automobilismo, morrera em um gravíssimo acidente em 10 de setembro de 1961.

Peterson não resistiu à embolia, em virtude da fratura sofrida, e morreu em 11 de setembro de 1978 (Foto: Forix)

O título de Andretti marca outra coincidência. O norte-americano é um dos quatro pilotos a serem campeões da F1 e da Indy. O feito seria repetido depois por Emerson Fittipaldi, Nigel Mansell e Jacques Villeneuve.

Removido ao hospital, Peterson tinha como problema maior as lesões nas pernas, mas suas funções vitais funcionavam bem. Mas o quadro, que se desenvolvia de forma promissora, regrediu drasticamente depois que o piloto enfrentou dificuldades para respirar. Após exames, foi detectada uma embolia, que acabou por matar Ronnie poucas horas depois.

Morria ali, sem dúvidas, um potencial campeão do mundo.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.