Na Garagem: No ‘troco’, Barrichello passa Schumacher sem querer para vencer

O GP dos EUA de 2002 indica um recorde conquistado por Rubens Barrichello e Michael Schumacher: é a menor diferença na chegada de um GP. Barrichello e Schumacher estavam separados por 0s011, tomando o feito de Ayrton Senna e Nigel Mansell, obtido no GP da Espanha de 1986. Com uma diferença: na ocasião, Senna e Mansell quase se mataram pela vitória na última volta

Com o Mundial de Pilotos garantido desde o GP da França, a Ferrari mudou o foco do GP da Hungria em diante. Michael Schumacher havia conquistado o pentacampeonato em 21 de julho, fazendo desse título o mais precoce da história. Com o troféu, o alemão igualou o lendário Juan Manuel Fangio, dono da F1 nos anos 1950. O time de Maranello resolveu, então, dar uma forcinha para Rubens Barrichello conquistar o vice-campeonato.
 
A Ferrari estava em dívida com o brasileiro desde o famigerado GP da Áustria, em 12 de maio. Na ocasião, Jean Todt mandou o brasileiro abrir a porta para Schumacher mesmo sem necessidade, pois o alemão tinha 21 pontos sobre Juan Pablo Montoya e abriria a vantagem para 23 pontos mesmo se terminasse atrás de Barrichello.
Depois do GP da Alemanha, o 12º da temporada, o certame entrava em seu terço final e as forças da equipe vermelha foram centradas no brasileiro. Barrichello venceu na Hungria e assumiu o segundo lugar na tabela de classificação. Na Bélgica, foi Schumacher quem triunfou e passou o recorde de vitórias de Ayrton Senna em Spa. A ajuda a Barrichello foi retomada na Itália, onde ele venceu pela primeira vez na casa da Ferrari e abriu 17 pontos de vantagem para Montoya na luta pelo vice.
O episódio no GP da Áustria de 2002 causou grande desconforto na Ferrari (Foto: AFP)
Mas faltava devolver a vitória tomada das mãos de Rubens em Zeltweg. A dupla da Ferrari ouviu vaias e apupos na Áustria, e a reputação de Barrichello ficou muito manchada – principalmente no Brasil – depois do episódio. Ordens de equipe são comuns na F1, mas a torcida brasileira, sedenta por títulos após a morte de Senna, jamais perdoou o piloto da Ferrari.
Na classificação, Schumacher foi o único a andar abaixo de 1min11s e marcou 1min10s790. Barrichello completou o 1-2 vermelho no grid com o tempo de 1min11s058. David Coulthard ficou a 0s7 do pole, com 1min11s413. Seu companheiro Kimi Räikk6onen foi o sexto, com a marca de 1min11s633. Entre eles, as duas Williams: Montoya foi o quarto e Ralf Schumacher foi quinto no grid. Para manter viva a luta pelo vice, Montoya precisava tirar oito pontos de Barrichelo. Ao brasileiro, bastava ser quarto colocado.
 
As Ferrari mantiveram a dianteira e partiram para mais uma dobradinha. O show foi providenciado pelas Williams: na volta 2, Montoya tentou recuperar a posição perdida para Ralf na largada e tocou o companheiro de equipe. Ralf perdeu a asa traseira, para desespero de Patrick Head. Montoya caiu para sétimo e o vice de Barrichello tornava-se questão de tempo.
Em Indianápolis, foi Barrichello quem passou Schumacher nos metros finais (Foto: Reprodução)
Schumacher liderou quase toda a corrida, só cedendo a primeira posição a Barrichello quando realizou seus dois pit-stops, nas voltas 27 e 49. A dupla mantinha uma segura vantagem de mais de 10s para David Coulthard, o primeiro do resto, e se divertiu trocando voltas mais rápidas. Barrichello estava sempre próximo ao alemão, mas não o suficiente para iniciar um ataque.
 
Na entrada da última curva da 73ª e última volta da prova, Schumacher tirou o pé. As duas Ferrari percorreram a reta lado a lado, a mais de 200km/h. “Michael diminuiu o ritmo na reta final e eu emparelhei. Não sabia o que ele queria, e fiquei olhando pra ele. De repente, o Michael freou. Então, eu percebi que ele queria mesmo me dar a vitória.”, disse Barrichello.
 
O clima no pódio e na coletiva de imprensa foi pesado assim como ocorreu na Áustria. Jean Todt se apressou em negar nova marmelada, temendo uma punição da FIA – a entidade proibira as ordens de equipe após o incidente em Zeltweg. “Michael decidiu isso na hora. Nada foi combinado, nada foi acertado antes", afirmou o francês para a imprensa italiana.
Rubens Barrichello foi coadjuvante em meio ao domínio de Schumacher em 2002 (Foto: Forix)
Já o alemão ironizou a situação: "Tentamos terminar empatados. Havia essa chance, mas falhamos”, disse o alemão, fazendo graça da situação. Schumacher não estava mais interessado em vencer e tramou sozinho a entrega da posição: “Acho que Rubens merecia essa vitória, pois se sacrifica muito por mim e pela equipe e acho que tudo deve ter retribuição”.
 
Foi uma corrida cheia de recordes. A dobradinha nos EUA foi a 14ª da dupla Schumacher-Barrichello, igualando a marca da dupla Senna-Alain Prost na McLaren. Na corrida seguinte, em Suzuka, os ferraristas bateram o recorde. A dupla também bateu os pontos conquistados pela equipe McLaren em 1988. O ano de 2002 marcou uma outra conquista pela Ferrari: foi a primeira vez, desde 1979, que a equipe fez dobradinha entre os pilotos e ganhou o Mundial de Construtores.
 
Por fim, o GP dos EUA de 2002 indica um outro recorde conquistado por esses dois pilotos: é a menor diferença na chegada de um GP. Barrichello e Schumacher estavam separados por 0s011, tomando o feito de Senna e Nigel Mansell, obtido no GP da Espanha de 1986. Com uma diferença: na ocasião, Senna e Mansell quase se mataram pela vitória na última volta.

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