Na Garagem: primeiro filho de campeão da F1 a repetir feito, Hill nascia há 55 anos

Filho do bicampeão mundial Graham Hill, Damon Hill é o único filho de campeão a repetir o feito paterno. A família Hill tinha uma situação financeira confortável, pois o patriarca era um dos ingleses mais famosos no início dos anos 1970

Damon Graham Deveraux Hill nasceu em 17 de setembro de 1960. Filho do bicampeão mundial Graham Hill é o único filho de campeão a repetir o feito paterno. A família Hill tinha uma situação financeira confortável, pois o patriarca era um dos ingleses mais famosos no início dos anos 1970 por toda sua história.
 
Mas um lance mudou drasticamente essa condição: um acidente aéreo ao norte de Londres matou Graham e outras cinco pessoas em 29 de novembro de 1975. No entanto, a seguradora recusou-se a pagar as indenizações do acidente alegando que Graham não havia renovado sua licença como piloto de aviões.
 
Assim, a viúva Bette e seus três filhos – Damon, Samantha e Brigitte – deixaram a mansão de 25 quartos em Shenley e mudaram para uma casa mais modesta no bairro de St. Albans. Com apenas 15 anos, o jovem Hill precisou trabalhar como peão e entregador em motocicletas para custear os estudos.
Damon Hill repetiu o feito de seu pai e também foi campeão da F1 (Foto: Getty Images)
Em 1981, ele resolveu profissionalizar a paixão pelas duas rodas, iniciando a carreira no motociclismo. Por quatro anos, disputou provas de motociclismo e até obteve algumas vitórias, mas sem maior sucesso no geral. Por conselho da mãe, Hill decidiu trocar as duas pelas quatro rodas e procurou a Winfield Racing School ainda em 1982 – a escola revelou muitos talentos do automobilismo inglês.
Sem dinheiro, Hill teve uma trajetória parecida com a de outro piloto da F1: o austríaco Niki Lauda. Para conseguir entrar na West Surrey Racing e competir na F3 inglesa, ele pediu um elevado empréstimo de 100 mil libras e cavou uma vaga na equipe de Dick Bennetts em 1986. Nessa mesma escuderia correram Jonathan Palmer, Maurício Gugelmin e Ayrton Senna – todos chegaram à F1.
 
Porém, uma tragédia mudou os planos da equipe e, por tabela, de Hill. O canadense Bertrand Fabi, companheiro de Hill, morreu em um acidente. Assim, a equipe resolveu correr na F3000 e Hill foi correr pela Murray Taylor na F3 inglesa. Hill terminou o campeonato na nona posição, empatado com outro piloto de sobrenome famoso – David Hunt, irmão mais novo de James Hunt, campeão da F1 em 1976.
Damon Hill conquistou sua primeira vitória na F1 no GP da Hungria de 1993 (Foto: LAT Photographic)
Na temporada seguinte, em 1987, Hill venceu duas corridas e repetiu a dose em 1988, também conquistando dois triunfos. Sem dinheiro para subir de degrau e disputar a temporada completa da F3000, ele disputou várias categorias: BTCC, 24 Horas de Le Mans e correu cinco das 11 provas da F3000 pela modesta Footwork.

Já em 1990, na Middlebridge, um desempenho mais consistente: um pódio e três poles. No ano seguinte, pela Jordan, Hill obteve outro pódio e o sétimo posto no campeonato. Mas a grande conquista de Hill em 1991 aconteceu fora da pista: ele entrou na mira das equipes da F1 e acertou para ser piloto de testes da Williams.
 
Com Nigell Mansell e Riccardo Patrese confirmados para 1992, Hill se contentou em assinar com a decadente Brabham, guiando ao lado da italiana Giovanna Amati. O inglês trouxe patrocinadores, mas o desempenho do carro azul-rosa era pífio: na Inglaterra, Hill chegou em 16o e último lugar, quatro voltas atrás do vencedor Mansell.
Damon Hill e seu histórico carro #0 (Foto: Rainer Nyberg/Forix/Reprodução)
Frank Williams buscava um parceiro para Mansell – Patrese aceitou a oferta da Benneton e foi correr ao lado de um jovem alemão – Michael Schumacher. Intimidado pela contratação de Alain Prost, Mansell foi correr nos EUA e a Williams agora tinha um assento vago. Com um salário de 300 mil libras anuais, o “velho” Damon foi o escolhido para ser segundo piloto de Prost aos 32 anos. A mesma idade do seu pai Graham ao entrar na BRM.
 
Uma outra coincidência envolvendo a carreira de Hill na F1 é a numeração. Como Mansell havia ido para a Cart, o número 1 não podia ser usado. Prost escolheu o 2 e Hill optou pelo 0. Somente um outro piloto na história da F1 havia escolhido esse número: Jody Scheckter. Ambos estrearam “zerados” e acabariam campeões do mundo.

O desempenho de Hill foi de altos e baixos, mas adequado para um novato. Ele foi segundo no GP do Brasil, no GP da Europa, no GP de Mônaco e no GP da França e obteve um terceiro lugar no Canadá. A primeira vitória veio na Hungria, após abandonos na Inglaterra e na Alemanha – corridas nas quais liderava com folga. A consagração veio em Budapeste, em pista onde ele disputou a última prova com a péssima Brabham. O inglês emendou vitórias na Bélgica e na Itália, terminando o campeonato em terceiro, com 69 pontos – apenas quatro atrás de Senna.
Michael Schumacher e Damon Hill no GP da Austrália de 1994 (Foto: Getty Images)
Com a morte de Senna em Ímola 1994, Hill se viu na obrigação de liderar a Williams contra Schumacher. Junto com Mika Häkkinen, o inglês é um dos poucos que pode se orgulhar de ter sido páreo para o alemão. Aqui, há outra semelhança com o pai – o Hill sênior também enfrentou a morte de um companheiro de equipe (Jim Clark, morto em 1968).
Hill equilibrou um campeonato quase perdido – após o GP da França, a tabela apontava 66 x 29 para o piloto da Benneton. Contando com a desclassificação de Schumacher na Bélgica e a exclusão do alemão na Itália e em Portugal, Hill venceu quatro das últimas seis provas e chegou em Adelaide apenas um ponto atrás na tabela. Schumacher jogou o carro de propósito em cima de Hill na curva East Terrace, tirando ambos da prova. Um desconsolado Hill chorou nos boxes após abandonar.
 
No ano seguinte, 1995, a Williams parecia disposta a contestar o domínio da Benneton sobre a F1. Hill tinha bom desempenho – quando terminava as provas. Com seis abandonos nas 14 primeiras provas, o inglês viu o rival abrir vantagem aos poucos e fechar a disputa já no GP do Pacífico, em Aida, com duas corridas de antecipação. As quatro vitórias não bastaram contra a regularidade de Schumacher e Hill se contentou com o segundo vice-campeonato.
Hill comemora segundo lugar como se fosse vitória na Hungria (Foto: Getty Images)
Em 1996, Schumacher aceitou o desafio de reerguer a Ferrari e David Coulthard se mudou para a McLaren. Com o melhor carro do grid, Hill disputou o título contra um novato também filho de um piloto de F1: Jacques Villenueve. Hill começou o ano com tudo, vencendo as três primeiras corridas – Austrália, Argentina e Brasil.
 
A situação era inversa o que ocorreu entre ele e Prost: ele era o veterano e usava da experiência contra a velocidade do filho de Gilles. Jacques era impetuoso e inconsistente como o pai. Aproveitando os abandonos do rival no Brasil e em San Marino, Hill abriu 21 pontos de vantagem em apenas cinco provas.
 
Hill controlou bem a vantagem sobre o canadense e, mesmo com os abandonos na Espanha, em Mônaco, na Inglaterra e na Itália, a diferença só ficou abaixo dos dez pontos em Portugal, já na penúltima etapa da temporada. Em Suzuka, derradeira corrida da temporada de 1996, Hill só perderia o título se não pontuasse e Villeneuve vencesse. Aconteceu justamente o oposto e Hill foi campeão com 19 pontos sobre Jacques. Pela primeira vez, a F1 assistia ao título de um filho de ex-campeão. A dinastia Hill é a única na história da categoria.
Damon Hill e a Jordan amarela. Um carro clássico (Foto: Getty Images)
Mas a grande corrida da vida de Hill aconteceu numa equipe pequena. Frank Williams dispensou o campeão e contratou o jovem Heinz-Harald Fretzen, revelação alemã da Sauber. Com propostas da Ferrari e da McLaren, Hill decidiu correr pela Arrows, de Tom Walkinshaw.
 
Nas primeiras seis corridas, Hill amargou seis abandonos. Na corrida seguinte, no Canadá, o primeiro término, no nono lugar. O carro progredia a olhos vistos e no GP da Inglaterra, o nono do certame, o primeiro ponto, obtido com o sexto lugar.
 
Duas corridas depois, em Hungaroring, quando todos esperavam mais um round da luta Villeneuve x Schumacher pelo título, o inglês roubou o show. No sábado, colocou a Arrows equipada com motor Yamaha em terceiro no grid, apenas 0s3 atrás do pole Schumacher e de Villeneuve. Na corrida, Hill largou bem e foi para segundo, atrás somente do alemão da Ferrari.
Na Terra do Sol Nascente, Damon Hill conquistou o título mundial de 1996 (Foto: LAT Photographic)
Na volta 11, Hill emparelhou com Schumacher no fim da reta e passou o desafeto sem a menor cerimônia. Era a primeira vez, desde 1989, que uma Arrows liderava uma corrida de F1. Os pneus Bridgestone funcionavam melhor que os Goodyear de Schumacher e Villeneuve – Hill passeava em Hungaroring – na volta 48, o inglês tinha 25s de vantagem.
 
O paddock estava atônito, pois na volta 74, a apenas dois giros do fim, Hill tinha inacreditáveis 35s de frente sobre Villeneuve. Com uma Arrows-Yamaha, Hill iria conseguir uma vitória sobre seus dois rivais na F1. Mas um problema hidráulico travou o acelerador e causou problemas também no motor do carro. Era o fim do sonho da Arrows de conseguir a sua primeira vitória na F1. Para Hill, restou o consolo do segundo lugar, resultado que pôs a equipe em um honroso oitavo lugar no Mundial de Construtores.
 
Coube a Hill uma outra façanha na F1: é dele a primeira vitória da Jordan, conquistada na Bélgica, em 1998. Apesar disso, ele não teve bom desempenho no ano, ficando fora dos pontos nas 10 primeiras corridas. Descontente com as mudanças técnicas na categoria, ele deixou a F1 em 1999. Depois de deixar a F1, ele foi presidente do British Racing Drivers Club, trabalhando para que Silverstone mantivesse seu GP. Pai de uma criança com síndrome de Down, ele e sua esposa Susie são patronos da Associação de Síndrome de Down na Inglaterra.

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