Na Garagem: Rosberg declara guerra a Hamilton com batida no GP da Bélgica

As chances que a Mercedes tinha de reaver a paz e boa convivência nas garagens da equipe terminaram ali, na pista de Spa, há exatos cinco anos. Nico Rosberg não evitou a batida e quis mostrar a Lewis Hamilton que também tinha força

Há exatos cinco anos, num dia 24 de agosto como esse, acabaram as chances de Nico Rosberg e Lewis Hamilton viverem uma relação amistosa nos bastidores da Mercedes. Naquele dia, quando os dois brigavam pela liderança do campeonato, o alemão bateu no pneu traseiro esquerdo do rival e causou um furo durante a segunda volta do GP da Bélgica. A guerra estava deflagrada.
 
Para bem entender a situação de Spa-Francorchamps é necessário compreender o contexto daquele campeonato. Como tradicionalmente acontece, a Bélgica marcava a retomada do campeonato depois das férias de verão. Na corrida anterior, quase um mês antes, o GP da Hungria havia sido uma confusão. Hamilton ignorou ordens da equipe para deixar um Rosberg mais rápido passar e depois, no fim da prova, Lewis fechou a porta para Nico e os dois acabaram batendo e terminando no terceiro e quarto lugares. 
 
Rosberg chegava a Spa liderando por 11 pontos, mas o campeonato ainda tinha enorme carga de briga pela frente. A vitória de Daniel Ricciardo e da Red Bull na Hungria era completamente fora da normalidade por causa das características de Hungaroring.
 
A Mercedes apontava dominante naqueles dias. À frente nos treinos livres, sobrou no sábado: Rosberg fez a pole e Hamilton completou a primeira fila. Mas o dia iria esquentar rapidamente. Logo na largada, Sebastian Vettel superou Rosberg, que caiu para terceiro, e foi para cima de Hamilton. Uma leve escapada fez o australiano perder espaço e devolver a posição.
A batida entre Hamilton e Rosberg na Bélgica (Foto:Reprodução/Twitter)

Rosberg foi buscar Hamilton e encostou ainda na segunda volta. Tentou ultrapassar e acabou tocando a asa dianteira no pneu traseiro esquerdo do companheiro de equipe. Os dois sofreram danos, mas o de Lewis foi mais grave. No rádio da Mercedes, com pneu furado, lamentou: "Ele bateu em mim. Não posso acreditar que ele bateu em mim."

Um pedaço de carroceria voou e Hamilton, que ainda teve de andar bons metros, foi perdendo partes do carro. Tentou ainda voltar para a corrida na sequência, mas sem chances de brigar e com o equilíbrio da Flecha Prateada afetado, abandonou apenas na volta 39 e depois de muito pedir para a Mercedes permitir que estacionasse o carro. 
 
Rosberg ficou na corrida. Parou nos boxes após no fim da volta oito, quando trocou pneus e a asa dianteira, e voltou na 15ª colocação que virou quarta quando a janela de pit-stops se fechou. A estratégia havia sido atrapalhada com a parada feita cedo demais, então o alemão desgastava pneus e equipamento ao tentar ultrapassar Vettel. A variação de estratégias no grid ainda permitiu que Rosberg recuperasse posições e chegasse ao segundo posto. No fim, atacou Ricciardo, mas não chegou. Era a terceira vitória do australiano na temporada.
 
O fogo vinha mesmo após a prova. A Mercedes convocou uma reunião de emergência com a dupla e toda a chefia, representada sobretudo pelo diretor-executivo Toto Wolff e o diretor-técnico Paddy Lowe. Após alguns minutos, Hamilton apareceu com uma afirmação forte: "ele bateu em mim para provar um ponto."
 
Rosberg logo se defendeu. "Já me disseram que Lewis falou na imprensa e como ele deu a declaração sobre o evento. Tudo que posso dizer é que minha visão sobre o que aconteceu é diferente, mas o ponto é que agora eu não preciso falar sobre todos os detalhes e dar minhas opiniões assim. Prefiro manter interno", falou.
O acidente (Foto: Reprodução/Twitter/Sky Sports)

"Tivemos uma boa discussão, importante, depois da corrida. Quando coisas assim acontecem, devemos sentar e revisar tudo, e foi o que eu fiz. Todos deram suas opiniões e agora precisamos seguir em frente. Haverá outra discussão com certeza, porque precisamos ver se temos que mudar a abordagem no futuro. O bom é que temos ótima liderança na equipe, algo importante em situações assim", seguiu. E se desculpou, ainda no pós-corrida.

 
A equipe também garantiu que não foi proposital e marcou uma nova reunião para alguns dias depois, já na fábrica em Brackley, para ir mais a fundo na questão após marinar um pouco.
"Nico aceita a responsabilidade pelo contato que ocorreu na segunda volta do GP da Bélgica e se desculpou pelo erro de julgamento. Medidas disciplinarias foram tomadas", anunciou em comunicado.
 
"A Mercedes continua comprometida com as corridas disputadas e justas, porque é a forma certa de vencer campeonatos mundiais. É bom para o time, para os fãs e para a F1. Lewis e Nico entendem e aceitam a regra #1 do time: não pode haver contato entre o carro dos dois na pista. Deixamos claro que outro incidente assim não será tolerado, mas Nico e Lewis são nossos pilotos e nós acreditamos neles. Continuam livres para disputar o título mundial de 2014", disse.
 
Os pilotos voltaram a falar. Em comunicados separados, Rosberg e Hamilton encerraram publicamente o assunto.
 
"Desde o GP da Bélgica, passei muito tempo pensando no que aconteceu na corrida e conversando com a equipe. Já expressei meus lamentos sobre o incidente, mas, depois de conversar com Toto, Paddy e Lewis, gostaria de dar um passo adiante e admitir que houve um erro de julgamento da minha parte. A regra #1 para companheiros de equipes é que não podemos colidir, mas foi o que aconteceu. Por esse erro, peço desculpas a Lewis e ao time. Também digo aos fãs, que foram proibidos de ver nossa batalha na Bélgica, que sinto muito", falou Nico.
 
"Nico e eu aceitamos que cometemos erros, e acho que seria errado apontar dedos e dizer quais foram os piores. Hoje, Toto e Paddy nos disseram claramente como devemos correr um contra o outro de maneira justa e respeitosa. Será um caminho complicado daqui em diante, mas campeonatos já foram conquistados em situações piores do que tenho agora. Prometo dar tudo que eu tenho e ainda mais para vencer pelo meu time, minha família e meus fãs", finalizou Hamilton.
 
A briga continuou dura até o fim, tanto na pista quanto mentalmente, mas a relação dos dois jamais se recuperou. Hamilton confirmou o título de 2014 e repetiu em 2015, mas Rosberg levou a melhor em 2016. Dias depois, anunciou a aposentadoria. 

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