Pedido de desculpas é tentativa de blindagem da Mercedes contra mais uma dor de cabeça

Internamente, é fato que a pressão existe. O rádio de Toto Wolff para Lewis Hamilton no fim da corrida em Ímola serviu para tentar blindar a Mercedes, lidando com quiques e desempenho ruim, de mais e mais questionamentos externos - que já existem

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“Perdão pelo que você precisou pilotar hoje. Eu sei que é ‘inguiável’. Essa foi uma corrida terrível.”

“Não se preocupe, Toto. Vamos continuar trabalhando duro.”

“Sim. Nós vamos sair dessa.”

A interação entre Lewis Hamilton e Toto Wolff após o GP da Emília-Romanha, via rádio, foi sintomática. Sintomática de uma equipe desacostumada com o fracasso. Sintomática de um time que se vê obrigado a “jogar a toalha”, nas palavras de um heptacampeão mundial. Sintomática de um cenário completamente não-compatível a Mercedes, octacampeã de Construtores. 

Para entender como a conversa entre Hamilton e seu chefe nas Flechas de Prata é significativa para a opinião pública e pouco relevante para o desempenho interno da equipe alemã, é preciso voltar um pouco no tempo. Mais precisamente, ao dia 22 de abril deste ano, data do primeiro treino livre e da classificação para a corrida sprint em Ímola.

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Hamilton teve muitas dificuldades para ultrapassar em Ímola e não saiu do 13º lugar (Foto: Mercedes)

Logo no primeiro dia de ações no Autódromo Internacional Enzo e Dino Ferrari, a chuva e o clima frio escancaram – negativamente – a performance do W13. Sob condições climáticas adversas, o bólido mercedista encontrou uma dificuldade surreal em colocar temperatura nos pneus. Pior: os quiques, principal adversário da Mercedes na F1 2022, pioraram de tal maneira que causaram dores no peito em George Russell e obrigaram os pilotos da equipe alemã a diminuir intencionalmente de velocidades nas retas, tamanha a questão. 

Resultado? Fim de uma série de 187 provas da Mercedes indo ao Q3. Desde o GP do Japão, em 2012, a equipe alemã sempre emplacou ao menos um de seus pilotos na última parte do treino de classificação. Em Ímola 2022, isso não aconteceu. A frustração era evidente. Se nas três primeiras corridas do ano o psicológico de Hamilton parecia estar inabalado – com discursos de “estar aproveitando o desafio” -, na Emília-Romanha isso mudou. O impacto pessoal da má performance era notável. E deu suas caras.

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“Não foi uma grande sessão. Você vem com otimismo, todos trabalham duro na fábrica e nada funciona. Fomos inferiores como equipe. Há coisas que deveríamos ter feito que não fizemos. Vamos apenas continuar trabalhando”, disse Hamilton, após a tal eliminação no Q2. 

A decepção não parou por aí. Assim que chegou aos boxes, Hamilton teve uma conversa mais acalorada com Toto Wolff. Crise? Não. Mas a tensão passou a ser inegável. “São coisas internas, não vou compartilhar isso. Apenas digo que cada fim de semana é um resgate”, resumiu o heptacampeão mundial, desabituado a exercer tal papel. Tensão de fato inegável, até porque o próprio britânico jogou a toalha. Luta pelo título? Pode esquecer.

Toto Wolff negou qualquer clima de crise nas Flechas de Prata (Foto: Mercedes AMG-F1/Steve Etherington)

“Não acertamos este ano, mas todos estão dando o máximo possível para corrigir o carro. Lutamos para entender o carro, tentar melhorá-lo e progredir ao longo do ano. Isso é tudo o que podemos esperar agora.”

No domingo, panos quentes. Até mesmo sob o pretexto de foco na corrida, Wolff negou qualquer desencontro de sintonia com seu comandado. Rumores de crise no casamento, divórcio… tudo foi absolutamente rechaçado. O chefão da Mercedes e Hamilton não discutiram, e sim, “extravasaram a raiva”. “Compartilhávamos a frustração por não termos conseguido extrair desempenho e o quão irritante isso foi. Era basicamente o mesmo ponto de vista, pura raiva. Não há divisão, não há culpa ou algo assim. Há pressão, mas eu diria que é a pressão necessária para acertar as coisas.”

Toto falou a palavrinha mágica: pressão. A Mercedes reconhece – como você pôde conferir agora – que precisa melhorar o W13. É urgente. Por isso que o pedido de desculpas é pouco relevante para o aumento de performance da equipe. O mantra de “continuar trabalhando duro” é, de certa maneira, óbvio. Ironicamente, vale mais para Hamilton do que para George Russell. Não que o novato do time esteja imune às dificuldades, pelo contrário. Mas Russell parece – talvez pela experiência com carros ruins na Williams – lidar melhor com o W13. Prova disso é sua consistência na temporada.

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Portanto, as desculpas a Hamilton mais parecem uma arma de blindagem contra a pressão externa: seja de fãs, imprensa e/ou da opinião pública. Um sinal de que, mesmo ruins, as coisas estão sob controle e vão melhorar no futuro. Se isso de fato acontecerá, não sabemos. Mas o primeiro indício de resposta vem em Miami, para o próximo GP da temporada de 2022 da Fórmula 1

E se não vier nos Estados Unidos ou daqui quatro corridas, como prevê o planejamento de Wolff… aí resta contar com a esperança. Ao menos, nesse quesito, o heptacampeão mundial parece estar em dia. “Tenho a maior fé do que o meu time pode fazer. Isso não nos mata, apenas nos torna mais fortes. E encontraremos uma solução de uma forma ou de outra.” A ver, Hamilton. A ver.

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