Presidente reitera “total confiança” em Binotto, mas prevê Ferrari no topo só em 2022

John Elkann torce para que o novo regulamento da Fórmula 1 possa proporcionar uma nova dinastia de títulos para a Ferrari, como a Juventus vem empreendendo nos últimos nove anos. Até lá, o mandatário acredita que vai ser um “longo caminho” e de sofrimento para os fãs

De um lado, a glória; do outro, o fracasso. John Elkann convive de perto com as duas faces da moeda. Neto de Gianni Agnelli, o ítalo-americano de 44 anos é o presidente e CEO da Exor, a holding controlada pela família e que detém participação majoritária na Juventus e na Ferrari. Em julho de 2018, depois da morte de Sergio Marchionne, Elkann foi nomeado presidente da equipe mais tradicional da Fórmula 1.

Ao mesmo tempo em que convive com a dinastia da Juventus, que no último fim de semana confirmou a conquista do seu nono título consecutivo no Campeonato Italiano de futebol, Elkann tem de lidar com as frustrações de uma Ferrari bem longe do caminho das vitórias em 2020.

Em entrevista ao jornal italiano La Gazzetta dello Sport, o executivo nascido em Nova York adotou um discurso muito cauteloso e desprovido de promessas. Na sua visão, a escuderia de Maranello só vai estar envolta nos louros da glória novamente na Fórmula 1 dentro de dois anos, na esteira da adoção da revolução que estava prevista para 2021 e foi adiada em razão da pandemia do novo coronavírus. Até lá, o dirigente deixa claro que Mattia Binotto, chefe da Ferrari, está prestigiado e é o escolhido para capitanear o barco vermelho.

“Que alegrias, as da Juventus, e que dor, os resultados da Ferrari”, comparou Elkann, que sublinhou o longo jejum de títulos da equipe italiana na Fórmula 1. A última vez que um piloto foi campeão vestindo o macacão vermelho de Maranello foi com Kimi Räikkönen, na decisão de 2007, no GP do Brasil, em Interlagos.

“A Ferrari está passando por um período difícil, que começa lá atrás. Não conquistamos um título do Mundial de Construtores desde 2008 e do Mundial de Pilotos desde 2007. Houve o ciclo de vitórias da Red Bull graças à capacidade aerodinâmica e, em seguida, o ciclo da Mercedes por sua grande habilidade em tecnologias de motores híbridos”, explicou.

“Neste ano, não somos competitivos graças a erros no projeto. Tivemos várias deficiências estruturais que existem há algum tempo na aerodinâmica e na dinâmica do veículo. E também perdemos a potência do motor”, admitiu o presidente da Ferrari, ciente de que vai esperar por um bom tempo para ver a marca do Cavallino Rampante de novo no topo do pódio.

JOHN ELKANN; FERRARI; PRESIDENTE;
John Elkann assumiu a presidência da Ferrari após a morte de Sergio Marchionne, em 2018 (Foto: Ferrari)

“A realidade é que nosso carro não é competitivo. Você o viu na pista e o verá novamente. Hoje, estamos lançando as bases para sermos competitivos e voltarmos a vencer quando as regras mudarem, em 2022. Estou convencido disso”, disse.

Na opinião de Elkann, o congelamento dos chassis e de boa parte dos componentes da unidade de potência é crucial para que a má fase da Ferrari se estenda até o fim do ano que vem. “Muito, já que começamos mal. Devemos ser realistas e conscientes das fraquezas estruturais com as quais vivemos há uma década, e que a transição para os motores híbridos sublinhou”.

No futebol e na Fórmula 1, o italiano é um verdadeiro apaixonado pelo esporte. E se, ao mesmo tempo, a maior torcida do país vibra com outra conquista da Vecchia Signora, por outro, lamenta por uma crise que parece não ter fim naquela que é uma paixão nacional, a Ferrari.

“Os fãs estão sofrendo tanto quanto nós, mas sabemos que eles estão perto de nós. Por isso mesmo é que é importante ser claro e sincero com eles. Um longo caminho nos espera”, avisou Elkann, que pediu paciência aos tifosi e lembrou que a fase mais vitoriosa da história da equipe também demorou um bom tempo para ser construído.

“Quando Jean Todt abriu esse ciclo histórico em 2000, viemos de um jejum que durou mais de 20 anos, desde 1979. Demorou um tempo para ele desembarcar em Maranello, em 1993, para o retorno da Ferrari ao sucesso”, lembrou Elkann. Depois de Todt, chegaram Michael Schumacher e Ross Brawn, em 1996. Juntos, os três formaram os pilares do sucesso dos anos de ouro da Ferrari na Fórmula 1, com títulos do Mundial de Pilotos, todos para Schumacher, e do Mundial de Construtores, entre 2000 e 2004.

“O importante, então, é trabalhar na pista e fora da pista, de maneira coesa, construindo a Ferrari que queremos, passo a passo”, complementou.

Mattia Binotto: garantido e prestigiado

Desde que foi promovido a chefe de equipe no lugar de Maurizio Arrivabene, em janeiro do ano passado, o engenheiro ítalo-suíço convive com a pressão que é levar a Ferrari de volta ao topo. Na Itália, por muitas vezes, rumores apontaram para sua saída do comando da escuderia. Contudo, de acordo com Elkann, a equipe está em boas mãos com o antigo responsável pelos motores. É Binotto, diz o presidente, o escolhido para conduzir a Ferrari de volta ao caminho do sucesso.

“Total confiança em Mattia Binotto. Acreditamos que ele tem as características e virtudes necessárias para levar a Ferrari a um novo ciclo vencedor. Ele já estava lá na era Todt e Schumacher e sabe conjugar ambições e realidade”, destacou.

“Temos as coisas claras, e com Binotto partimos desta base. Sabemos quais são os nossos pontos fracos e queremos superá-los para voltar a vencer com pilotos jovens e ambiciosos como os nossos”, assegurou o executivo.

O ítalo-americano também foi questionado sobre o fato de a Ferrari ter aprovado o teto orçamentário, que vai valer a partir da próxima temporada, mesmo tendo direito ao veto.

“Porque é necessário que a F1 tenha mais competitividade. Nós não vemos o teto de gastos como uma limitação às nossas capacidades de vencer, mas sim como um desafio. Nossos engenheiros, mecânicos e pilotos vão saber encontrar os vínculos de força e criatividade para colocar a Ferrari novamente no lugar mais alto. Pessoalmente, nunca vi, nos últimos dez anos, um espírito tão coeso e forte”, comentou.

Até que a Ferrari volte a vencer na Fórmula 1, a única promessa feita por John Elkann é que não vai faltar trabalho para que a equipe repita os passos da sua coirmã no futebol. “Vamos trabalhar como temos feito nesses dez últimos anos com a Juve”.

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