Retrospectiva 2024: Leclerc mostra constância e indica que pode sonhar mais alto

Charles Leclerc foi dono de uma consistência incrível na temporada 2024 e de vitórias que entraram para a história da Fórmula 1, como em Mônaco e na Itália. O monegasco amadureceu e se provou mais preparado do que nos anos anteriores para desafiar os rivais, mas uma queda brusca no desempenho da Ferrari em algumas etapas o impediram de ir mais longe

Um dos maiores talentos do atual grid da Fórmula 1, Charles Leclerc ainda não recebeu da Ferrari uma oportunidade real para, de fato, brigar pelo título do Mundial de Pilotos. Desde que estreou na categoria em 2018, com a então Alfa Romeo — atual Sauber —, o monegasco passou por altos e baixos, mas aos poucos vai se aproximando da chance de chegar ao topo do mundo do automobilismo. E tem total capacidade para isso.

Após um fim de temporada passada promissor, o time de Maranello continuou mostrando bons sinais de evolução sob o comando de Frédéric Vasseur em 2024. Embora a Red Bull e Max Verstappen tenham indicado nas primeiras corridas que planejavam repetir o domínio avassalador de 2023, a escuderia italiana se manteve por perto desde o início e assumiu o posto de segunda força, à frente, inclusive, da McLaren, que acabou conquistando o Mundial de Construtores meses mais tarde.

No GP do Bahrein, que abriu o ano, Leclerc mostrou as cartas logo na classificação e quase conquistou a pole-position, mas acabou tendo de se contentar com o segundo lugar. No dia seguinte, o monegasco sofreu com problemas nos freios durante a prova inteira e, por isso, acabou ficando atrás de Max, Sergio Pérez e Carlos Sainz. Na semana posterior, na Arábia Saudita, fez o que era possível e chegou ao top-3 — atrás somente da dupla da Red Bull.

Passados 15 dias, na Austrália, errou na classificação e ficou 0s520 atrás do melhor tempo, de Verstappen, mas conseguiu apresentar um bom ritmo no domingo e aproveitou o abandono do RB20 #1 para completar a dobradinha da Ferrari, atrás de Sainz. No GP do Japão, sofreu novamente na sessão que definiu o grid de largada e começou apenas em oitavo, mas novamente foi capaz de desempenhar bem e cruzou a linha de chegada em quarto — superado, mais uma vez, pela dupla taurina e por Carlos.

Charles Leclerc chegou perto da vitória na Austrália, mas ficou atrás de Carlos Sainz (Foto: AFP)

A Ferrari teve um fim de semana apagado no GP da China, o que acabou afetando as performances dos pilotos. Depois de um quarto lugar na sprint, conseguiu superar o companheiro de equipe pela primeira vez na temporada para receber a bandeira quadriculada na mesmíssima posição do dia anterior em Xangai. Desta forma, Leclerc chegou ao GP de Miami como terceiro colocado no Mundial de Construtores e teve um ótimo desempenho: terminou em segundo na sprint e em terceiro na corrida principal.

Após 15 dias, a Fórmula 1 desembarcou na Itália para o GP da Emília-Romanha, a primeira prova caseira da esquadra de Maranello em 2024. Como foi costume no início do certame, Charles foi bem mais uma vez e poderia ter sonhado com algo a mais, mas cometeu um erro enquanto se esforçava para alcançar Lando Norris na briga pelo segundo lugar e não foi capaz de ir além do terceiro posto.

Apesar da consistência absurda que vinha demonstrando na temporada, ao terminar todas as sete primeiras corridas dentro do top-4, o ponto alto do campeonato aconteceu mesmo na etapa seguinte, em Mônaco. Na tentativa de fugir dos fantasmas que o assombraram nos anos anteriores, Leclerc dominou os treinos livres e garantiu a pole-position. Em uma prova morna nas ruas de Monte Carlo, onde os dez primeiros colocados no grid cruzaram a linha de chegada exatamente nas mesmas posições, o ferrarista largou bem e soube administrar o ritmo para vencer com mais de 7s de vantagem sobre Oscar Piastri, segundo colocado. Vitória que entrou para a história, já que se tornou o primeiro monegasco a subir no degrau mais alto do pódio no GP de Mônaco.

Leclerc deixou o Principado com 138 pontos na classificação do Mundial de Pilotos, apenas 31 atrás do líder Verstappen. Mas a sequência seguinte, entre os GPs do Canadá e da Inglaterra, caiu como um balde de água fria nas pretensões do #16, que, naquela altura do campeonato, sonhava em tirar proveito da instabilidade da Red Bull para alcançar o primeiro título da carreira.

Charles Leclerc realizou sonho de infância e venceu o GP de Mônaco (Foto: Ferrari)

Após sofrer com problemas na unidade de potência da SF-24 em Montreal, Leclerc também virou vítima das atualizações erradas aplicadas pela Ferrari a partir da etapa em Barcelona. Os problemas se estenderam até as provas no Red Bull Ring e Silverstone e, por isso, conseguiu somar apenas 12 pontos durante esse período. A falta de resultados ao longo dessas quatro semanas acabou afetando as próprias pretensões de título e, também, o time de Maranello na briga contra a McLaren pelo troféu dos construtores — mas a culpa não foi exclusivamente do monegasco, já que Sainz também não fez muito melhor no mesmo intervalo de tempo.

As coisas começaram a normalizar na Hungria e na Bélgica, mas só pegaram no tranco mesmo depois das férias de verão na Europa. Após o terceiro lugar no GP dos Países Baixos, Leclerc teve uma atuação primorosa — talvez a maior da carreira — e venceu o GP da Itália. Com ritmo, velocidade e, principalmente, muita inteligência, o monegasco superou a favorita McLaren na estratégia e levou os tifosi ao delírio em Monza.

A sequência final da temporada foi muito positiva. O único ponto de observação possivelmente fica mesmo por conta do erro cometido no Q3 da classificação em Singapura, que custou muito à Ferrari na briga pelo título entre as equipes. Três semanas depois, venceu com autoridade nos Estados Unidos, e, em São Paulo, foi o único a realmente dificultar a vida de Verstappen debaixo da forte chuva que caía em Interlagos — só perdeu a posição pois foi chamado aos boxes precocemente.

E, por fim, o GP de Abu Dhabi: uma largada digna de cinema e uma reviravolta que aproximou a Ferrari de um milagre na disputa contra os rivais laranjinhas. Apesar da classificação ruim — que já seria prejudicada por causa da punição pela troca de bateria —, soube ficar longe de problemas e completou a corrida de maneira espetacular. Se tivesse começado ali em 11º ou 12º, teria a chance de tirar ainda mais proveito da confusão entre Verstappen e Piastri na largada e, desta forma, escalado mais o grid, entrando de vez na briga pela vitória e pelo vice-campeonato no Mundial de Pilotos — a diferença para Norris era de apenas 8 pontos naquele momento.

Charles Leclerc venceu o GP da Itália pela segunda vez na carreira (Foto: Reprodução/F1)

Leclerc ainda comete erros, mas é nítido que houve uma evolução na maneira como o monegasco encara um fim de semana de corrida. Mais maduro, deixou de ser mentalmente afetado por qualquer tipo de pressão e mostrou no circuito de Yas Marina, por exemplo, a resiliência, determinação e o talento que qualquer piloto que deseja ser campeão do mundo precisa ter para brigar até o fim por um campeonato. A imensa decepção presente em seu rosto por não ter alcançado o objetivo também é um sinal positivo, uma característica de alguém que não se contenta com pouco e que se cobra caso não alcance o melhor. Charles é muito parecido com Max nesse sentido.

E falando em Verstappen, o neerlandês deveria agradecer aos ceús por Leclerc não ter assumido o MCL38 em 2024. Com o carro que Norris teve em mãos, o monegasco teria triunfado em mais oportunidades e dificilmente passaria por um momento tão ruim como o que foi visto entre junho e julho. Levando em consideração a consistência que teve com uma SF-24 forte, mas irregular, o piloto de Monte Carlo teria uma grande chance de reverter o cenário contra o rival da Red Bull ou, pelo menos, levado a disputa até mais adiante.

Chegou em 2018 como uma grande promessa, evoluiu consideravelmente nos últimos sete anos e viu a Ferrari sobreviver aos altos e baixos durante o mesmo período. Agora, sob o comando de Frédéric Vasseur, a promessa é de um carro ainda mais competitivo para 2025, dando a Leclerc a oportunidade de começar do zero mais uma vez e só depender das próprias forças para desbancar Lewis Hamilton, o novo companheiro de equipe, e, principalmente, Verstappen, que chega como favorito ao penta por tudo que fez este ano. Há potencial para isso, e uma versão ainda mais aprimorada de Leclerc deve dar as caras em 2025.

Fórmula 1 agora entra oficialmente de férias e dá adeus a 2024. A próxima atividade é exatamente a sessão única de testes coletivos de pré-temporada, marcada para os dias 26, 27 e 28 de fevereiro, no Bahrein. A temporada 2025 começa com o GP da Austrália, nos dias 14-16 de março.

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