Substituto de Senna em 1994, Coulthard diz que sua carreira “de certa forma se deve à morte de Ayrton”

David Coulthard tinha 23 anos e era piloto de testes da Williams desde 1991, mas pensava em voltar a Escócia, pois o dinheiro estava acabando. Coube a ele o dever de guiar o carro #2 nas corridas seguintes ao GP de San Marino

David Coulthard teve uma carreira bonita na F1. Foram 247 GPs em 15 temporadas, de 1994 a 2008. O escocês conquistou 12 pole-positions e 13 vitórias com 62 pódios, vice-campeão mundial de 2001. Coulthard fez seu nome. Mas tudo começou em um momento conturbado. Ou mais que isso: trágico.
 
Em 1994, Coulthard era um jovem piloto regular da F3000 e de testes da Williams, que tinha em Ayrton Senna e Damon Hill seus pilotos principais, e dois títulos mundiais seguidos no bolso. O iniciante britânico testava para uma equipe que provavelmente não iria assumir, ao menos num futuro próximo.
 
"Eu era piloto de testes na época e tinha trabalhado com Senna durante o inverno. Ná época não existia e-mail, e no dia 1º recebi um fax assinado pelos membros principais da Williams me desejando sorte para a corrida na F3000. Achei aquilo demais", contou Coulthard em um depoimento no site da BBC. "A mensagem de Ayrton era: 'Te desejo o melhor.' Para mim, um fã, a frase se destacou", disse.
Coube a David Coulthard guiar a Williams de Senna após o GP de San Marino de 1994 (Foto: Divulgação)
A F1 estava em Ímola. Coulthard assitiu ao GP de San Marino aquele dia, viu o acidente fatal de Senna.
 
"Na hora pensei: 'Não parece bom'. Não me lembro quem me informou da morte, mas lembro de um jornalista de tablóide perguntar se eu ia ganhar a vaga de piloto", relembrou.
 
Na corrida seguinte, em Mônaco, a Williams mandou apenas Damon Hill à pista. A garagem que seria do outro carro, de Senna, ficou fechada, com um tributo. Bandeira do Brasil à porta. Eventualmente, porém, o luto da equipe de Frank Williams teria de terminar. Resolveu o chefe que seria em Barcelona, pelas mãos do jovem David.
 
"Eu costumava ir à fábrica da Williams toda semana, e em um momento Frank Williams me disse que estava pensando em testar pilotos no teste em Jerez para definir quem assumiria o carro em Barcelona. Nenhum outro piloto apareceu, mas Frank foi. E eu bati o carro numa chicane que tinham feito de blocos de palha para diminuir a velocidade", contou.
 
"Já tinha saído da pista, mas foi a primeira vez que bati com uma Williams em dois anos e meio de teste. Nunca tinha danificado o carro. Voltei aos boxes e vi Frank. Estava pensando: 'Ah, não!', mas ele veio a mim e disse: 'Não estou aqui para te repreender por ter batido com meu carro e me custado dinheiro. Estou aqui para te dizer que você vai assumir o carro em Barcelona'", revelou.
 
Nos primeiros momentos depois de assumir o carro #2, Coulthard se deparou com informações da tragédia, evidências, já que o caso estava sob investigação. Ao conversar com Patrick Head sobre o carro, viu a telemetria do acidente e que Senna passara reto a 220 km/h na Tamburello.
 
"A barra de direção tinha quebrado com o impacto da batida na solda, que foi de uma coluna fina em sua base para um diâmetro mais limitado nos pedais até chegar ao cockpit, o que era o padrão à época. Muitas pessoas que viram fotos da coluna de direção quebrada perto do carro de Senna acharam que ele foi reto por que o volante falhou. Mas você não pode ter uma carga e uma coluna quebrada ao memso tempo. O sensor é preto e branco. Então tudo que estava lá para dizer aos engenheiros que eles poderiam mandar o carro à pista com confiança", disse. 
 
"A dúvida de muita gente de que poderia acontecer comigo, nunca me ocorreu. Eu tinha 23 anos e não pensava em morte. A linha de pensamento é simples: não vai acontecer com você", resgatou. "Lembro de conversar com Damon Hill, que a preocupação dele com a segurança era muito maior. Ele estava com mais de 30 anos e tinha filhos", contou.
 
A chance na Williams foi providencial para Coulthard. Aos 23 anos e sem muito dinheiro disponível, as opções estavam se esgotando e ele pensava em voltar à Escócia.
 
"De certa forma, devo minha carreira à morte de Ayrton. Eu não tinha dinheiro. Minha família ajudava, mas as quantias cresciam e eles já tinham me avisado que teria de me virar. Estava pagando engenheiro do meu bolso", conta. "Pedi a Frank que ajudasse, pois seria melhor nos testes se estivesse correndo. Ele disse não. Não estava longe de voltar à Escócia, para trabalhar no negócio da minha família", afirmou.
 
Sobre Ayrton, Coulthard fala da admiração que tinha, lembra com carinho a memória do que soube que o brasileiro havia visto dele e do sentimento de quando assumiu seu carro.
 
"O Julian Jakobi, que estava envolvido no agenciamento do Senna, me disse quando assumi o carro, que ele (Senna) tinha ficado impressionado com meus testes e sugerido que eu seria uma boa opção para o futuro. Lembro de pensar em Ayrton como o melhor piloto do mundo, que não poderia ser como ele. E que a única coisa que eu poderia fazer era o carro com tudo que tinha. Foi o que fiz", encerrou.
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