Um ano após morte de Marchionne, Ferrari ainda busca quem tome decisões

Sergio Marchionne chegou à presidência da Ferrari com o objetivo de mudar ares e comandar um chacoalhão em posições diretivas e desenvolver um projeto que recolocasse a marca italiana na puxada do futuro da Fórmula 1 e caminho das vitórias. A morte dele deixou um buraco que a Ferrari ainda tenta preencher

O desenrolar do caso foi repentino. O estado de saúde de Sergio Marchionne, presidente do Grupo Fiat Chrysler e da Ferrari a tiracolo, era ruim. O público não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas a semana começou com a troca de comando na equipe italiano e, logo na quarta-feira posterior, a notícia fatídica: morrera Marchionne. Mais de um ano depois, a Ferrari ainda busca retomar o caminho pavimentado pelo ex-chefão e sente falta de quem tome decisões na Fórmula 1.
Marchionne já era o presidente do Grupo FCA, companhia-mãe da Ferrari, antes de assumir também o cargo na marca do Cavallino Rampante. Foi logo em 2014, quando Luca di Montezemolo quis deixar o posto e abriu uma porta de mudança que não era vista na Ferrari há mais de 20 anos. 
 
Uma vez no comando, buscou a formação com a qual a Ferrari seguiria ao futuro. Marco Mattiacci entrou e logo saiu da chefia, Sebastian Vettel já estava contratado para 2015 e James Allison, por motivos trágicos, logo deixou o time. Pouco mais de um ano depois a equipe mudara todas as pessoas em posição de direção.
 
Marchionne identificou em Mattia Binotto o melhor responsável possível para desenvolver os motores e tinha Maurizio Arrivabene como a figura para chefiar as operações gerais. Como hoje é de domínio público, havia uma constante queda de braço entre Arrivabene e Binotto – entre os dois, durante anos, era o presidente quem funcionava como a camada protetora que evitasse uma situação de pedra arrastando em tijolo. 
Sebastian Vettel (Foto: Ferrari)

Era Marchionne quem oferecia a oportunidade para que os dois fossem Yin-yang no dia a dia ferrarista. Equilibrados e fazendo a roda gerar ainda que com sabidos desencontros. No fim das contas, as decisões eram dele. 

 
Ademais dos resultados da Ferrari, foi Marchionne quem pesou a mão para a Alfa Romeo voltar para a F1, algo que aconteceu ainda ano passado como parceira da Sauber – e assumiu a equipe em 2019. Também foi ele quem costurou o acordo de cessão de partes para a Haas, algo novo na F1, e ainda tinha outro plano para a Haas: fazer com que a Maserati voltasse ao grid por meio dela – segundo o jornal italiano 'La Gazzetta della Sport'. Alfa e Maserati estão ambas sob o guarda-chuva do Grupo FCA. Ainda esteve à frente da discussão para o pacote de regras em 2021.
Que cortemos para um ano no futuro. O futuro de Arrivabene era incerto caso Marchionne continuasse à frente da Ferrari, uma vez que a estrutura já estava posta há três anos e ainda não havia rendido um título, embora tenha colocado os italianos na posição de lutar. Mas Binotto acabou vencendo a queda de braços e recebeu a chefia da equipe em vez de continuar na supervisão dos motores.
 
Em Binotto, a Ferrari tem uma figura diferente daquela com que está acostumada. E isso está em uma causa específica: John Elkann, neto do antigo todo-poderoso da Fiat, Gianni Agnelli, assumiu a presidência da Ferrari e de todo o Grupo FCA. Elkann está preocupado com os negócios no macro, que, aliás, estão de vento em popa e tentou até uma fusão com a Renault, algo travado pelo governo francês. 
 
Se nos últimos 30 anos todos os chefes de equipe da Ferrari, até Jean Todt, tiveram presidentes atuantes por trás – fosse Montezemolo ou Marchionne -, mas Binotto, um marinheiro de primeira viagem em lidar com pessoas, tem carta branca para tratar a condução da equipe da forma como bem entender.
Sergio Marchionne (Foto: Ferrari)

Só que a Ferrari mostra um problema flagrante na gestão de pessoas e já mostrou diversas vezes como lidar com um tetracampeão em crise e um novato em crescimento. Além disso, Binotto ainda erra de forma grave na estratégia em diversas situações e ainda comandou uma mudança que transformou o carro ferrarista num conjunto que vive do motor forte. Nesse caminho, mostra bastante possibilidade de cair atrás de uma mais profissional Red Bull.

 
Não dá para ser assim. Binotto erra demais em seu primeiro ano e sob sua supervisão o carro e a operação estão piores. Falta quem possa intermediar os poderes de um sujeito que há tempos é visto como um talento da chefia. Talvez Binotto tenha, mesmo, o talento para ser um grande chefe, mas não está pronto para ser um todo-poderoso. Binotto não tem cacife e experiência para centralizar todas as decisões e caminhos da Ferrari. Precisa da ajuda que Marchionne – ou Montezemolo antes dele – puderam oferecer.

Hoje, falta quem saiba tomar decisões e ajuda a deliberar sobre certos assuntos. Um ano depois da morte de Marchionne, Binotto, despreparado para isso, comanda sozinho um navio perdido.

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