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Fórmula 1

Um ano e meio depois de implementado, caso Maldonado mostra como sistema de pontos na carteira da FIA é falho

Caso de Pastor Maldonado mostra como sistema de pontos na carteira acabam sendo depósito de pecados dos pilotos, sem render sequer a chance de uma intervenção real e às vezes necessária. As três punições durante o GP da Hungria sublinham que uma suspensão a Pastor passaram da hora de acontecer

 
Eis que a FIA decidiu mudar o sistema de punições da F1, dois anos atrás, criando uma contagem de acúmulo de pontos frente a erros cometidos pelos pilotos durante as temporadas. Dependendo da gravidade dos erros, os pilotos recebem de um a três pontos. Chegando a 12, os tentos causam uma corrida de suspensão. 
 
Em tese, a ideia era boa: acabar com a subjetividade das punições mais graves. Romain Grosjean foi impedido de correr no GP da Itália de 2012 após causar um acidente bizarro com diversos pilotos na prova anterior, o GP da Bélgica. O histórico recente do francês, até então, fez com que a FIA tomasse uma atitude. A ideia era fazer a conta dos erros clara para todos.
 
Com o começo da temporada 2014, a primeira sensação era de que alguns pilotos, no plural, perderiam corridas. Nas primeiras seis provas do ano, 17 pontos foram distribuídos entre sete pilotos. Individualmente, quatro para Pastor Maldonado e para Jules Bianchi, dois para Valtteri Bottas, Marcus Ericsson, Kevin Magnussen, Adrian Sutil e um para Jean-Éric Vergne.  
 
Parecia que a FIA estava até rigorosa demais, naquele momento. E esse talvez tenha sido o julgamento que a própria federação fez. Depois disso, foram apenas oito punições nas 13 últimas corridas do ano. 
Nas primeiras dez corridas de 2015, até aqui, foram 14 punições para 11 pilotos. Os números parecem cantar em conluio com a forma maníaca com a qual a F1 pune nas pistas por motivos banais. Mas acaba funcionando como um método de extrema inoperância. 
 
Vamos recuperar dois 'cases' que colocam o sistema em reflexão: o punido Grosjean de 2012 e o não-punido Maldonado dos dias atuais.
Romain Grosjean fez o grid tremer – e acabou suspenso – em 2012 (AP Photo/Claude Paris)
Grosjean de 2012 como exemplo
 
Para avaliar os problemas do método de punição da F1, precisamos voltar três anos no tempo. Em 2012, Grosjean surgia como um piloto veloz, mas que ainda errava muito. Seus erros lhe custaram o apelido de ‘Maníaco da primeira volta’.
 
E, de fato, os acidentes na primeira volta eram constantes. Teve na Austrália, Malásia, Mônaco, Inglaterra, Alemanha… Em nenhuma dessas oportunidades, Grosjean foi punido – e é provável que nem merecesse, erros acontecem e todos os pilotos do grid já cometeram em alguma escala.
 
O acidente mais famoso protagonizados por Romain em 2012 foi o do GP da Bélgica, que acabou com cinco carros destruídos logo na primeira curva. Aí sim, Grosjean foi punido – e logo da forma mais severa de todas: suspensão por uma corrida, algo raríssimo no esporte e que, desde então, não aconteceu novamente.
 
Os episódios de Grosjean em 2012 mostram que o forte da FIA nunca foi aplicar punições. Parece óbvio que, antes de punições severas, atletas precisam ser advertidos, receber punições leves. E isso nunca aconteceu com Romain.
 
Logo na segunda corrida após o retorno, em Suzuka, o piloto da Lotus voltou a aprontar. Novamente afobado, Romain atingiu a traseira de Mark Webber, que rodou. A FIA decidiu punir Grosjean com um Stop & Go de 10s. Talvez o mais adequado fosse, depois de alguma punição em Spa, suspender o francês da prova que sucedia Suzuka.
Pastor Maldonado é 'Maldonator' em 'homenagem' (Foto: Reprodução)

A carteira de Maldonado

 
Hoje, Maldonado soma 6 pontos na carteira. Atualmente é o número mais alto – empatado justamente com Grosjean, seu companheiro de equipe.
 
Desses pontos, apenas dois são relacionados com toques em outros pilotos – por causa do acidente com Sérgio Pérez no GP da Hungria deste ano. Os outros quatro, também por bobagens de Maldonado, foram por excesso de velocidade em período de Safety-Car – um nos Estados Unidos, em 2014; três na Malásia, em 2015.
 
Como se nota, ainda falta bastante para o limite de 12 pontos, número que prevê a suspensão do piloto, ser alcançado. E tem um fato que ajuda Pastor: como os pontos tem uma validade de 12 meses, em novembro deste ano o venezuelano volta a ter apenas cinco – sete abaixo do limite, portanto. Com isso, dá para afirmar: é preciso muita vontade para ser suspenso.
 
Mesmo somando os pontos já vencidos, Pastor ainda não chegou aos 12. Na primeira metade de 2014 foram três pontos por causa do incrível acidente com Esteban Gutiérrez no Bahrein e um por causa de um toque com Marcus Ericsson em Barcelona. Somando, seriam apenas dez.
 
Quem acompanha F1 com maior frequência nota que é um número baixo para o número de trapalhadas de Pastor. Em 2015, o venezuelano tem desempenho melhor que em 2014, chegando até a pontuar duas vezes seguidas. 
Maldonado cometeu um erro e bateu forte no primeiro treino livre do GP da Bélgica (Foto: Reprodução)

Como punir?

Se por tantas vezes critica-se o nervosismo da mão pesada que tem a direção de prova da F1 para punir pilotos durante a corrida em situações completamente normais, por quê criticar um método que tanto restringe as chances de punições mais graves? Não se trata de uma perseguição a Pastor, o grande pivô de toda essa reflexão. Mas uma constatação: a quantidade grotesca de falhas passou do nível de ser apenas folclórica.
 
Fora os problemas que saltam à mente, como o toque em Gutiérrez, as pequenas coisas e erros se acumulam em doses cavalares. Na última prova, na Hungria, foram três. Por tocar Pérez, por ultrapassar durante safety-car e por exceder o limite de velocidade no pit-lane.
 
Primeiro, sempre que alguém receber três punições em uma mesma corrida, deve sofrer algum tipo de consequência para a sequência. Os pontos na carteira? No fim das contas, eles se somam e se perdem. Depois desses três problemas, Pastor recebeu apenas dois pontos em sua licença.

Os erros no caso do venezuelano acabam por serem depositados numa conta que deveria render juros e as atitudes necessárias. Mas o que acontece de verdade é uma grande luz verde que libera o piloto de seus pecados. Se em 2012, com seu hoje companheiro, Grosjean, a FIA sentiu que deveria tomar uma atitude e afastou o francês depois de um acidente bizarro – e mais grave dos que os cometidos por Maldonado, diga-se – e que coroava uma sequência difícil do piloto, hoje não mostra a mesma preocupação. Põe na conta e, como se diz popularmente, 'deixa arder'.

Em uma carreira sempre afeita aos excessos, o que Maldonado conseguiu nos últimos dois anos especialmente foi colocar seu nome na história da F1 onde estão Aguri Suzuki e Satoru Nakajima, por exemplo, causadores lendários de problemas. E precisa ser punido. Não pelos excessos apenas, é bom que se entenda, mas por nunca aprender. Após a tripleta em Hungaroring, ele voltou a errar e bater no primeiro dia de atividades na Bélgica. 

A FIA precisa sair do sistema por um momento e decretar uma corrida de punição para Maldonado. Se faz necessário, porque apesar de tudo, somados pontos válidos e os já expirados na carteira, ele ainda não chega aos 12 para o banimento. Mas numa boa, já deu.  E para o ano que vem, é bom que a FIA reveja sua forma de punir. Porque o que passa do razoável nas atitudes de pista, falta quando o assunto é cruzar os limites.