Van der Garde fala em decisão difícil, mas decide "respeitar interesses da FIA, Sauber, Nasr e Ericsson"

Após chegar a um acordo temporário com Sauber, Giedo van der Garde decidiu não disputar o GP da Austrália. Todavia, o holandês garante que vai continuar as negociações para chegar a “uma solução aceitável para ambas as partes”

Uma das novelas mais tensas da F1 nos últimos parece estar perto de um fim. Pelo menos por enquanto. Giedo van der Garde chegou a um acordo com a Sauber, o que confirma – por ora – Felipe Nasr e Marcus Ericsson como titulares. Mas isso não significa que o holandês está satisfeito. Pelo contrário: Van der Garde se mostrou descontente com o desfecho da história.
 
"Como eu sou um piloto muito passional, a decisão foi bem difícil para mim", disse. "Mas eu também desejo respeitar os interesses da FIA e da Sauber, bem como de Nasr e Ericsson. Meus agentes vão continuar as conversas com a Sauber no começo da semana que vem para achar uma solução aceitável para ambas as partes", completou.
 
O acordo entre Sauber e Van der Garde garante uma situação mais tranquila para os suíços. Com sua dupla original de pilotos confirmada no GP da Austrália de amanhã (14), Monisha Kaltenborn e seus advogados terão mais tempo para encontrar uma solução permanente, para resolver de vez os problemas com o batavo.
Quanto aos próximos episódios do entrave, Van der Garde garantiu que voltará a dar notícias em breve.
 
"Eu estou confiante de que vamos encontrar uma solução e vou informar à imprensa assim que a tiver", afirmou.
Giedo van der Garde entrou em acordo com a Sauber (Foto: Getty Images)
Por volta do meio-dia no horário australiano, a Sauber emitiu um comunicado em que corrobora o acordo feito com o piloto que "o retira do GP da Austrália, o que mantém o plano original". "A Sauber, Van der Garde e seus agentes vão continuar mantendo conversas construtivas a fim de achar uma solução aceitável", repetindo, assim, as palavras ditas pelo holandês.

A Sauber promete dar mais informações na semana que vem. 

Entenda o 'caso Van der Garde'

A história remonta o fim do ano passado. Ainda com o campeonato em andamento, a Sauber anunciou a contratação de Marcus Ericsson, então sem poder correr pela Caterham— que se ausentou de duas das últimas três provas temporada. Era o primeiro sinal de que a equipe não honraria um dos contratos então em vigor. Tanto Adrian Sutil quanto Giedo van der Garde tinham acordos válidos para 2015. Os dois pilotos tiveram a exata noção de que não serviam mais quando Felipe Nasr foi confirmado.

Sutil e Van der Garde foram devidamente comunicados. Por SMS. O alemão reclamou, mas deixou quieto; o segundo, não. O segundo foi levar o desaforo à Justiça suíça. Em dezembro, os tribunais helvéticos deram ganho de causa ao holandês. Mas em nenhum momento a Sauber fez qualquer menção para cumprir a ordem.

Van der Garde, então, iniciou uma preparação física como nunca fizera em sua vida. Sem poder guiar carro algum, aguardou calado a pré-temporada da F1 e notou que a Sauber não errou a mão de novo como fez em 2014. Se o azul e amarelo C34 não é o mais rápido do grid, ao menos anda no meio do pelotão. 

No fim de semana passado, Van der Garde, pessoas próximas e seu advogado viajaram para Melbourne. Na segunda-feira, deram entrada com uma

ação na Corte do estado de Victoria para tentar garantir o que lhe era de direito e havia sido confirmado pela Justiça da Suíça.

Foi quando a Sauber mostrou ao mundo claramente que tinha feito algo de muito errado. Em vez de questionar alguma brecha no contrato que Van der Garde não haveria cumprido, o advogado de defesa partiu para alegações pueris, da qual a maior se evidenciava num "inaceitável risco de morte" que o piloto corria por nunca ter andado no carro. Ali também levantou-se a questão da superlicença que Giedo não tinha, mas o próprio havia confirmado que pedira à Federação Nacional de Automobilismo da Holanda.  

A Corte australiana deu evidente ganho de causa a Van der Garde. Depois de pensar, a Sauber resolveu apelar do resultado

Na quinta-feira, a tal apelação da equipe repetiu exatamente a mesma linha de defesa. Os advogados de Van der Garde deitaram e rolaram e trouxeram mais detalhes do caso: tanto o acordo do piloto era válido que a Sauber escreveu para o Quadro de Reconhecimento de Contratos — órgão da FIA que regula a questão — que ele fora encerrado em 6 de fevereiro deste ano, isto é, a Sauber negociou e anunciou Nasr e Ericsson quando Van der Garde ainda era seu piloto de fato.

Mas este comunicado de término de contrato acabou tendo valor no caso.

Novamente vitorioso nesta segunda instância, Van der Garde entrou com outra ação na Corte australiana: o chamado 'contempt of court' era o pedido para que a Sauber cumprisse devidamente o que foi estabelecido. A solicitação foi pesada: se o time de Monisha Kaltenborn não obedecesse, os carros e outros itens seriam confiscados nos boxes do circuito Albert Park e a chefe poderia ser presa.

O julgamento acabou arrastado para o sábado em Melbourne, e neste ínterim, Van der Garde apareceu no circuito à paisana, não conseguiu entrar no paddock com a credencial que tinha, esperou 25 minutos até passar pela catraca, foi à garagem da Sauber, viu os mecânicos lhe darem as costas e saírem em debandada, vestiu o macacão de Ericsson e ficou do lado do seu carro, tirou a roupa e foi embora: justamente porque a sua superlicença não havia sido emitida, já que o QRC ainda entendia que o piloto não tinha um contrato.

O choque da Sauber ao receber Van der Garde (Charge: Rodrigo Berton)
Precavida, Monisha deu ordem para que os carros não deixassem os boxes no treino livre 1; no segundo, Nasr e o sueco puderam ir à pista.

Nos bastidores, Sauber e Van der Garde iniciaram tratativas para chegar a um acordo. E por trás de toda história, há o interesse do sogro de Van der Garde, Marcel Boekhoorn, em comprar a Sauber. Em novembro, o empresário cuja fortuna é avaliada em quase R$ 6 bilhões esteve na sede da equipe suíça para negociar. Voltou em seu helicóptero de luxo com um não na cara e uma meta a cumprir.

QUEM É QUEM

Na terceira parte do Guia F1 2015, o GRANDE PRÊMIO faz um raio-X de cada uma das dez equipes do grid para o Mundial que começa neste fim de semana na Austrália, na pista de Melbourne, e que marca a 66ª temporada da história da F1.

O especial também traz as fichas completas dos 22 (!!!) pilotos que vão disputar o título mundial nas 19 ou 20 corridas previstas pelo calendário deste ano. 

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