Retrospectiva 2023: Pourchaire leva título da F2 de pódio em pódio, mas é esnobado por F1
Théo Pourchaire se valeu da regularidade para soltar o grito de campeão da Fórmula 2 que estava entalado na garganta desde 2022. Mas nada disso foi suficiente para seduzir a Fórmula 1
O currículo que Théo Pourchaire possui nas categorias de base do automobilismo é para poucos. Já em seu ano de estreia nos monopostos, em 2018, foi campeão júnior da F4 Francesa. Na temporada seguinte, foi para a F4 Alemã e também fechou o campeonato com o título. O avanço para a Fórmula 3, portanto, já era esperado, tudo isso com 17 anos de idade ainda para serem completados. E por três pontos, também não terminou com mais um caneco, perdendo para outra joia que surgia também naquela época: Oscar Piastri.
Pourchaire, então, foi para a Fórmula 2 disputar a temporada integral em 2021, porém teve uma estreia mais discreta que avassaladora, fechando em quinto na classificação geral. A expectativa, portanto, era que o francês deslanchasse para valer em seu segundo ano de competição, mais experiente, apesar da ainda juventude. E de fato, foi Théo quem brigou até onde foi possível contra Felipe Drugovich, mas os erros em momentos cruciais acabaram lançando sobre o piloto da ART a semente da dúvida: era Pourchaire de fato o fenômeno que prometera?
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Mais um ano veio, e novamente Théo teria a chance de provar o seu valor. E o script de 2023 repetiu o começo de 2022, com o francês vencendo a corrida principal na rodada do Bahrein, de abertura. Só que ao contrário da temporada do vice, Pourchaire não soube mais em 2023 o que era subir ao degrau mais alto do pódio.
Acontece que o pódio é feito de outros dois degraus, tão valiosos quanto num campeonato que permite ao piloto somar até 39 pontos. Coincidentemente, Pourchaire se valeu da mesma experiência que jogou a favor de Drugovich em 2022, mas outro detalhe foi determinante para a conquista: a consistência.
“Acho que estivemos muito perto de vencer umas duas ou três vezes e merecíamos vencer. Mas não estou preocupado com isso. Estou dando o meu melhor, e se não conseguir vencer por algum motivo, tento buscar o melhor resultado possível. Em comparação com o ano passado, estou mais frequente no top-3 da classificação, no top-3 das corridas, nas corridas principais, especialmente, o que é muito importante na F2. Então é um grande passo adiante, isso é o mais importante. Se você quer ser campeão, tem de ser consistente. O resto realmente não importa. O mais importante é ser consistente”, frisou o membro da academia da Sauber em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO pouco antes da final em Abu Dhabi.
Foi, de fato, uma regularidade impressionante. Contando com a única vitória de 2023, no Bahrein, foram dez pódios ao todo. Destes, seis segundos lugares. A pior colocação dentro da zona de pontos obtida por Théo foi na sprint de Mônaco, quando cruzou a linha de chegada em oitavo, marcando apenas um tento. Um desempenho, inclusive, muito semelhante ao visto no ano em que venceu a F4 Alemã: foram 12 pódios em 20 corridas, sendo quatro vitórias. Apenas em três ocasiões deixou de pontuar.
Pourchaire mostrou frieza e soube jogar com muita inteligência contra um adversário que, na opinião de muitos, era quem realmente merecia o título, Frederik Vesti. Ao contrário do campeão, o piloto da Prema foi o que mais vezes recebeu a bandeira quadriculada em primeiro na temporada: seis vezes, quatro em sprints e duas nas corridas de domingo, mais valiosas. O dinamarquês formou ao lado do novato Oliver Bearman um dos duos mais fortes do grid, mas que sucumbiu aos próprios erros — dos pilotos e da equipe.
Pourchaire também teve um companheiro e tanto ao seu lado, o também estreante Victor Martins, mas nem precisou se preocupar por conta do início totalmente estabanado do compatriota. No geral, quando enfim conseguiu retomar a liderança, teve apenas de administrar a vantagem construída até soltar o grito de campeão entalado na garganta por um ano inteiro.
Tudo isso, porém, não foi suficiente para convencer a Fórmula 1 que era candidato válido ao grid da temporada 2024. A Sauber, na verdade, chegou a cogitá-lo, assim como Drugovich e até Mick Schumacher, segundo rumores que circularam na imprensa internacional. Sobre Pourchaire, na verdade, o representante da Alfa Romeo, Alessandro Alunni Bravi, confirmou ao GRANDE PRÊMIO durante a passagem da F1 por Interlagos que havia planos para o pupilo. Porém não para o ano seguinte à conquista do título da F2.
“Existe uma possibilidade para ele, afinal, nossos pilotos atuais terminam seus contratos em 2024. Porém, só haverá uma discussão com eles sobre o futuro a partir do meio da temporada, mas não iremos excluir nenhuma possibilidade, seja com Théo ou qualquer outro piloto que esteja disponível em 2025. Faremos essa avaliação apenas e tão somente após a primeira parte da temporada”, afirmou Alunni Bravi.
Ao GP, Pourchaire reconheceu que ganhar a vaga na F1 era uma decisão que não estava em suas mãos. “Não posso decidir sobre isso. Sou o piloto. Apenas tento aproveitar o que estou fazendo, fazer o meu melhor, como disse, me mostrar. Ganhar títulos, corridas, conquistar o máximo de pole-positions, quantas ultrapassagens ou ótimas corridas eu puder, e tenho certeza de que terei uma oportunidade no futuro”, assegurou.
Sem chance na elite do automobilismo mundial por ora, o francês optou pelo caminho que tem cada vez mais se transformado na rota alternativa aos renegados: a Super Fórmula. Em 2024, Pourchaire vai correr pela equipe Impul, que compete com motores Toyota, e a expectativa é que siga a mesma jornada de Pierre Gasly e Liam Lawson, acolhidos no Japão até terem seus nomes enfim chamados na interminável fila da Fórmula 1.
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