Após dois anos de F4, Petecof abre temporada da F3 Regional Europeia de olho no título

Foram longos meses de indefinição a respeito da realização do campeonato, que finalmente vai começar neste fim de semana com a rodada tripla de Misano, na Itália. Para Gianluca Petecof, trata-se de um novo passo na sua carreira. O piloto da Academia Shell Racing e da Academia da Ferrari mira o título, mas sabe que tem um grande adversário na sua empreitada: o estoniano Jüri Vips

A entrada de Gianluca Petecof na F3 Regional Europeia representa o seu segundo passo na direção do objetivo maior: chegar à Fórmula 1. O brasileiro de 17 anos, vinculado à Academia Shell Racing e também à Academia de Pilotos da Ferrari, fez suas duas primeiras temporadas de monopostos competindo na F4, nas divisões Italiana e Alemã. Ano passado, foi vice-campeão do campeonato italiano com quatro vitórias, duas poles e um total de oito pódios, e quinto na Alemanha, com um triunfo. Para o jovem piloto, depois do aprendizado vivido após uma temporada com início fulminante na Itália, mas com o desfecho que não foi o esperado, é hora subir um degrau na escada rumo ao topo do automobilismo.

Originalmente, a temporada 2020 da F3 Regional Europeia começaria em Paul Ricard, na França, depois da bateria dos testes de inverno. Entretanto, a pandemia do novo coronavírus mexeu e mexe com o mundo como um todo, e não foi diferente com o calendário do esporte a motor. Depois de meses de indefinição, o Automóvel Clube da Itália, responsável por promover e organizar a categoria, confirmou a nova programação em junho. O campeonato começa neste fim de semana, com rodada tripla nos dias 1º e 2 de agosto, em Misano.

Gianluca vai seguir competindo com a Prema Powerteam, equipe de sólida ligação com a Ferrari e uma das mais fortes em categorias de base em todo o mundo. O brasileiro vai ter como companheiros de equipe dois nomes de peso: Arthur Leclerc, monegasco de 18 anos, irmão de Charles e também membro da Academia da Ferrari; e a britânica Jamie Chadwick, de 22 anos, que foi anunciada pelo time comandado por Angelo Rosin durante a pandemia. A britânica foi a campeã da primeira temporada da história da W Series, no ano passado.

Gianluca Petecof nos boxes de Mugello para testes com a Prema na F3 Regional Europeia (Foto: Ferrari Promo)
Gianluca Petecof nos boxes de Mugello para testes com a Prema na F3 Regional Europeia (Foto: Ferrari Promo)

Antes dos dias que antecedem a abertura da temporada, foram meses de indefinição e inatividade. Gianluca chegou até a participar de uma prova da temporada virtual da Fórmula 1 com a Ferrari antes de regressar com a Prema e a F3 Regional aos testes de pré-temporada. O brasileiro explica que o período forçado de quarentena foi angustiante.

“Foram meses muito difíceis. Igual para todo mundo. Não só para nós, pilotos, mas para todos. Tanto tempo sem nenhuma atividade de pista foi muito difícil. Tudo parou quando estava para começar o campeonato, lá em março, abril. Então, a gente teve de controlar os ânimos e esperar um pouco mais. Mas, no fim das contas, usei o tempo para me preparar mais, tanto fisicamente quanto mentalmente. Tecnicamente também, para chegar mais preparado para essa primeira corrida, que vai ser neste fim de semana”, comentou o piloto em entrevista ao GRANDE PRÊMIO.

“O mais difícil foi manter a cabeça no lugar para me preparar para a primeira corrida, com tanto tempo de incerteza. Então, foi importante deixar a saúde mental em dia”, explicou Gianluca.

Desde que os trabalhos de pré-temporada da F3 Regional Europeia recomeçaram, em 10 de junho, Petecof foi um dos protagonistas dos testes. Neste período, o paulistano ganhou um rival inesperado e fortíssimo de última hora no seu objetivo maior para 2020, chegar ao título da competição. O estoniano Jüri Vips, piloto membro do programa da Red Bull e que também está inscrito para disputar a Super Fórmula japonesa em 2020, foi anunciado pela equipe KIC Motorsports. Foi a forma encontrada pela empresa dos energéticos para manter o piloto de 19 anos em atividade, já que o campeonato no Japão só vai começar em 30 de agosto, além de ajudá-lo a somar pontos fundamentais para obter a superlicença e, assim, garantir o acesso ao grid da F1.

Assim, Vips faz um incomum caminho contrário ao de pilotos como Frederik Vesti, Enzo Fittipaldi, Igor Fraga e David Schumacher, por exemplo, que no ano passado fizeram a F3 Regional Europeia e hoje estão na F3 Internacional, que corre nos mesmos finais de semana da F2 e da Fórmula 1.

“Os primeiros testes foram excelentes. Andei em três pistas: Mugello, Ímola e Misano, onde vai ser a primeira corrida. Acho que a gente mostrou um potencial muito bom e, com certeza, o Jüri Vips vai ser um grande adversário. É um piloto que correu a F3 ano passado, é um dos nomes para entrar para a AlphaTauri ano que vem na Fórmula 1… É um grande adversário, de nível altíssimo”, disse Petecof, que não se intimida com o potencial do rival.

Petecof vem de dois anos de vitórias, mas também de muito aprendizado na F4 (Foto: Prema Powerteam)

“A gente tem de focar no nosso trabalho. No fim do dia, é mais um competidor. Sempre difícil, principalmente com alguém desse nome, mas procuro tratar todos com a mesma atitude, sempre trabalhando ao máximo para conseguir andar na frente. Acho que o campeonato é longo, e o importante é começar bem, focar no nosso. Primeiro, focar em maximizar nossa performance e não cometer erros e, dali pra frente, ver onde a gente está”, salientou.

A mudança no calendário, que compreende um total de 24 corridas ao longo de pouco mais de quatro meses, vai proporcionar algumas situações curiosas. Geralmente, um campeonato baseado na Europa termina no máximo em outubro, até mesmo para evitar o frio mais intenso no fim do ano. Desta vez, neste incomum 2020, tudo mudou. Depois das etapas de Misano e Paul Ricard, em agosto, a categoria vai correr no Red Bull Ring, na Áustria, entre 12 e 13 de setembro. Em outubro, vão ser três rodadas triplas: Mugello, entre 3 e 4; Monza, nos dias 17 e 18; e Barcelona, entre 31 e 1º de novembro.

E é aí que começa a esfriar pra valer. As duas últimas etapas do campeonato vão ser novamente disputadas na Itália. Ímola recebe a categoria entre 21 e 22 de novembro. E Vallelunga fecha a temporada nos dias 5 e 6 de dezembro.

Na visão de Petecof, trata-se de outro desafio distinto que os competidores vão ter de encarar nesta temporada atípica. “Acho que as datas onde vamos ter as últimas corridas ainda são tranquilas, principalmente a última, que vai ser em Vallelunga, um pouco mais ao sul. Então, não vai estar tão frio, ou pelo menos não nevando. As condições, claro, vão ser diferentes, comparado com esse início de campeonato. Vai estar muito quente por aqui. As primeiras duas ou três etapas vão ser com muito calor. Depois disso, começa a esfriar”, descreveu.

“Por um lado, é muito melhor. Não precisa se preocupar com coisas como o superaquecimento dos pneus. O processo de esquentar os pneus numa classificação é mais fácil de controlar sem tanto calor. Mas depois, claro, com mais frio, a performance do carro muda, o jeito como a aerodinâmica funciona muda também. Serão novos desafios, mas é o mesmo para todo mundo. Quem conseguir se adaptar melhor com as condições melhorando até o fim do ano vai levar vantagem”, disse.

Gianluca foi o primeiro piloto anunciado pelo programa da Shell, empresa que mais investe em patrocínios e no desenvolvimento de competidores no Brasil. Membro da Academia desde 2015, o paulista destacou a importância do apoio entregue pela empresa, que tem sido fundamental pela pavimentação da sua carreira no automobilismo.

“O trabalho com a Shell continua forte, como sempre. Infelizmente, não pude visitá-los no Brasil ainda neste ano, mas mal posso esperar para começar o campeonato e levar a Shell ao topo de novo. É como eu digo: sem eles, eu realmente não estaria onde estou hoje. É o maior orgulho representá-los. E neste ano, tão diferente de todos os outros, vai ser importante para a gente voltar a correr, fazer o que a gente ama, e carregá-los comigo sempre”, comentou.

“Queria que Vettel ficasse na Ferrari”

No fim de semana do GP do Brasil de 2017, Sebastian Vettel participou de um evento promovido pela Shell em São Paulo e surpreendeu ao falar que Petecof tem tudo para ser o próximo piloto do Brasil na Fórmula 1.

À época, Gianluca estava para completar 15 anos e já era membro da Academia Shell Racing. Meses depois, passou a integrar o cobiçado programa da Academia de Pilotos da Ferrari. As duas marcas, Shell e Ferrari, desenharam um projeto de carreira para o brasileiro, que mira a chegada em alguns anos à Fórmula 1.

Gianluca Petecof é membro da Academia Shell Racing desde 2015 (Foto: Prema Powerteam)

Perguntado sobre a atual situação da Ferrari, Petecof lamentou a fase que a equipe atravessa na F1 e, principalmente, a saída do tetracampeão ao final da temporada. Por outro lado, se mostrou ansioso para ver como Charles Leclerc vai se comportar tendo nos boxes um novo companheiro de equipe a partir do ano que vem: Carlos Sainz.

“O Sebastian [Vettel] é alguém que admiro muito. Queria que ele ficasse. Mas, por uma razão ou outra, vai seguir o caminho dele. Ele ainda é um dos melhores pilotos da Fórmula 1 e vai ter muito sucesso onde quer que esteja no ano que vem”, disse.

“O [Carlos] Sainz também é um excelente piloto e vai fazer uma ótima dupla junto com o Charles [Leclerc]. Vai ser interessante ver essa disputa entre os dois. Dois pilotos mais jovens na categoria agora, que têm muito talento, muita velocidade, o que foi mostrado não só no ano passado, mas também nas primeiras corridas deste ano”, acrescentou.

Petecof, que mora em Maranello, conhece bem muitos aspectos internos da Ferrari. Mesmo considerando o momento complicado pelo qual passa a mais tradicional das equipes da Fórmula 1, não perde a esperança e confia em uma grande reação até o fim da temporada.

“Todo mundo está passando um período difícil, a Ferrari não está onde ela quer, você pode ver as entrevistas do Mattia Binotto, do Vettel, do Leclerc, todos bastante chateados e desapontados com a performance neste começo, mas uma equipe como a Ferrari tem toda a capacidade de dar a volta por cima. Não ficaria surpreso se ela, no fim do ano, estiver lá em cima brigando pelas vitórias”, concluiu Gianluca Petecof.

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