Nelsinho Piquet não está mais nos quadros da Fórmula E, mas, como primeiro campeão, tem uma ligação umbilical com a categoria. No momento, é uma das figuras na linha de frente na tentativa de vencer os recentes fracassos e trazer, enfim, o campeonato para o Rio de Janeiro em 2021. Para isso, o piloto já realizou reuniões com a detentora dos direitos comerciais do campeonato, a Formula E Holdings, e com a presidência da República. Segundo Piquet, a categoria quer muito chegar ao Brasil.
O encontro com Jair Bolsonaro – e que também envolveu o tricampeão mundial de F1 Nelson Piquet – foi revelado por ele mesmo ao site inglês 'E-Racing365' no início do mês. Em entrevista ao GRANDE PRÊMIO, Piquet reafirmou o esforço e falou em pressão de montadoras.
"Exige uma organização muito grande tanto aqui para alinhar todos os órgãos do governo e também todas as coisas que precisam ser feitas para trazer a corrida", disse.
"Mas a Fórmula E quer muito vir para cá, obviamente tem a pressão de muitas montadoras para vir correr aqui porque é o país da América do Sul que tem o maior número de vendas de carro. Isso é positivo, vamos lá, estamos batalhando para conseguir trazer a corrida", seguiu.
Rival nas pistas, Lucas Di Grassi adotou postura incentivadora com relação ao papel de Piquet em mais um dos planos para que os carros elétricos cheguem ao Brasil.
Nelson Piquet e Daniel Schneider (Foto: Telmo Gil)
"Vou achar excelente se a Fórmula E vier para o Brasil. Vai ser excelente para a mídia, vai ser excelente para a Fórmula E, para os pilotos que estão na Fórmula E. Acredito que se a gente conseguir realizar um evento internacional – já foi cancelado o WEC -, então é bom que tenha gente do meio por trás de eventos como esse. Dá mais credibilidade e a chance de acontecer é maior", comentou.
Di Grassi se refere ao cancelamento das 6 Horas de São Paulo, que estava marcada para fevereiro de 2020, no último mês de novembro. O fracasso foi mais um na longa lista de decepções que o esporte a motor internacional teve no Brasil nos últimos tempos.
O histórico de fracassos do país com a FE:
O campeonato dos carros elétricos é jovem, mas o histórico de flerte com o Brasil já é de gente grande. Enquanto a categoria crescia nos primeiros anos e mudava freneticamente os pontos do mundo por onde passava, não foram poucas as cidades do Brasil que voltaram seus olhos para a Fórmula E. Belo Horizonte, Brasília e Florianópolis mostraram interesse em diferentes momentos, mas Rio de Janeiro e São Paulo levaram as coisas a outro nível.
A capital fluminense estava no primeiro esboço de campeonato, divulgado ainda no segundo semestre de 2013 e que previa que a temporada que começaria em setembro do ano seguinte. Na oportunidade, Di Grassi, então ainda sequer contratado pela Audi ABT, desenhou uma pista na Marina da Glória, Zona Sul da cidade, e que caminhava na direção do Pão de Açúcar. 15 curvas, pouco menos de 3km de extensão e um belo plano de fundo.
Entretanto, a incerteza começou rapidamente: o Rio sumiu, substituído por Punta del Este, no Uruguai, no rascunho seguinte; e voltou na divulgação oficial. A data reservada era 15 de novembro de 2014, mas a reunião do Conselho Mundial da FIA, no Marrocos, em abril de 2014, voltou a retirar, agora definitivamente, o Rio de Janeiro do calendário.
Como o campeonato estava em estágios iniciais, não houve palavra oficial quanto ao cancelamento da corrida – da Fórmula E, da FIA ou do Rio de Janeiro. Posteriormente, o GRANDE PRÊMIO confirmou que sequer foi realizado um estudo de viabilidade do local por meio da CET-Rio, órgão de engenharia de tráfego da prefeitura da cidade. Com o Rio de Janeiro de cabeça nos Jogos Olímpicos de 2016, os planos foram abandonados.
Traçado criado por Lucas di Grassi para a F-E no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
Recentemente, o imbróglio envolvendo a F1 no Rio fez com que a cidade voltasse a se movimentar com relação ao esporte a motor. Sem autódromo e com o governo do estado rachado com a presidência da República, a possibilidade da categoria de carros elétricos vir ao Rio de Janeiro no futuro voltou a ser falada: seria numa pista montada no Parque Olímpico. Somente uma possibilidade, contudo.
Já o flerte de São Paulo durou mais tempo e se concretizou, ao menos em tese, em 19 de junho de 2017. Foi nessa data que a categoria oficializou o calendário da temporada 2017/18 com a inclusão de São Paulo e uma pista no Anhembi – informação que o GP adiantara em 18 de março, três meses antes. São Paulo era uma das três novidades anunciadas, ao lado de Roma e Santiago. E não foi surpresa quando apenas as outras duas foram adiante.
O acerto fora realizado em fevereiro de 2017, quando o chefão da categoria, Alejandro Agag, visitou a cidade e se reuniu com Lucas Di Grassi e representantes da SPTuris – empresa de capital misto que tem a Prefeitura como sócia majoritária e administra equipamentos como o autódromo de Interlagos e o complexo do Anhembi.
O eP de São Paulo estava marcado para março de 2018, mas em novembro de 2017 surgiu a notícia: o plano de privatização do Complexo do Anhembi, parte do amplo plano de privatizações que o hoje governador João Doria (PSDB-SP) prometera ainda na campanha para se tornar prefeito paulistano, estava sobreposto à corrida. O eP de São Paulo estava cancelado. A notícia foi adiantada pelo GRANDE PRÊMIO em parceria com o Blog do Rodrigo Mattar.
Ao GP, a SP Turis afirmou que a data de 17 de março para qual a corrida fora confirmada sequer havia sido reservada.
Novas conversas foram ventiladas desde então e uma nova aproximação chegou a acontecer, mas o acordo foi desfeito antes do acerto. No último mês de junho, o agora governador Doria prometeu novidades "em breve" sobre a categoria, mas quase seis meses depois elas ainda não apareceram.
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