Após dez etapas, a Fórmula 2 chega às tradicionais férias de verão na Europa. Confira o que aconteceu de melhor e o que deixou a desejar na temporada 2023 até aqui

A Fórmula 2 acompanha o calendário da Fórmula 1 e para agora por um mês para as tradicionais férias de verão na Europa. Com Théo Pourchaire na liderança após mais uma rodada impecável no quesito regularidade, o campeonato segue completamente aberto para a disputa das três rodadas finais, Holanda, Itália e Abu Dhabi.

É, sem dúvida, uma temporada muito mais equilibrada que a vista no ano passado, quando Felipe Drugovich assumiu a liderança em Barcelona para de lá não sair mais, conquistando o título com uma rodada de antecedência. 2023, no entanto, caminha para um desfecho ainda difícil de se prever, principalmente após as últimas etapas do calendário, que trouxe novos (velhos) nomes à briga.

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Mas nem tudo são flores na temporada vigente. A primeira perna da F2 teve seus altos e também baixos, seja uma performance aquém do esperado de determinado piloto a confusões causadas pela própria direção de prova — essa, cada vez mais um caso perdido, seja qual for a categoria sob a chancela da Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

Vesti, corrida 2, Áustria F2 2023
Vesti já venceu quatro corridas na Fórmula 2 em 2023 (Foto: Prema)

O 10+ desta semana listou, portanto, o que aconteceu de melhor e o que deixou a desejar na F2 2023 após dez etapas:

Vesti assume protagonismo na poderosa Prema

Faltava à Prema pilotos para devolvê-la ao topo da F2, ou ao menos brigar por ele. Após um ano em que praticamente passou despercebida, a tradicional equipe italiana voltou a figurar no degrau mais alto do pódio empurrada pelo novato Oliver Bearman, mas também por um Frederik Vesti mais experiente e objetivo nas disputas de pista. O dinamarquês já soma quatro vitórias e tem todas as condições de chegar ao final do ano no topo da classificação.

Pourchaire em busca do título de pódio em pódio

Justiça seja feita: a regularidade de Pourchaire impressiona, e a liderança momentânea na classificação não é à toa. Ainda que tenha apenas uma vitória na temporada, ainda na primeira rodada, no Bahrein, o francês já acumula nove pódios em dez corridas. O carro da ART é um dos mais rápidos principalmente em classificação, mas também tem se mostrado forte em diferentes pistas em ritmo de corrida. É, portanto, uma oportunidade de ouro para o francês enfim desencantar e confirmar de vez o seu nome na lista de candidatos ao grid da F1 no ano que vem.

Théo Pourchaire F2 Baku 2023
Théo Pourchaire conquistou mais um pódio e ainda voltou à liderança da F2 (Foto: ART)

Bearman quase perfeito em Baku

Pole-position, vitória na corrida sprint, volta mais rápida e triunfo na corrida principal. Esse foi o saldo de Bearman no final de semana na Arábia Saudita: 38 dos 39 pontos possíveis. Como também liderou o treino livre, o novato de 18 anos tornou-se o primeiro piloto da história da categoria a comandar todas as atividades realizadas em uma única etapa. A inexperiência ainda pesa em momentos decisivos, mas é, sem dúvida, um feito notável e que merece destaque nessa primeira parte da temporada.

Renascimento de Doohan

Jack Doohan começou o ano cercado de expectativa, afinal, viu o nome ser cotado para a vaga de ninguém menos que Fernando Alonso na Alpine. As boas performances em 2022 o colocaram entre as principais apostas para o título desta temporada, ao lado de nomes como Ayumu Iwasa e o próprio Pourchaire. O início de campeonato, no entanto, passou longe do esperado. Houve até o pódio em Jedá, mas as sucessivas corridas brigando para marcar pontos colocaram o ano em risco. Pior: a própria Alpine também esperava título, e ainda que negasse, Doohan passou a ser pressionado a justificar toda a promessa em torno de si.

Foi a partir de dois quartos lugares em corridas principais, na Áustria e na Inglaterra, que o jogo começou a virar. Vieram, então, as vitórias em sequência, sendo que, na Hungria, a vitória de domingo foi com direito a Grand Chelem. Era o combustível que faltava para Jack na reta final da temporada.

Enzo Fittipaldi venceu pela primeira vez na Bélgica (Foto: F2)

Primeira vitória de Fittipaldi

Depois de uma temporada de estreia na F2 com seis pódios pela modesta Charouz, Enzo Fittipaldi chegou em 2023 determinado a dar um passo ainda maior. O cenário não poderia ser mais propício após a mudança para a Carlin, uma das principais equipes do grid. Só que o início não foi exatamente o que o brasileiro esperava. O ritmo de classificação ruim somado a momentos de pura falta de sorte foram deixando Enzo cada vez mais de lado na briga pelo título.

Faltava, no entanto, a tão perseguida vitória, e ela veio no momento em que o carro da Carlin apresentou evolução. Bastou a melhora para o jovem de 22 anos reencontrar as boas performances vistas no ano passado. Na Bélgica, o triunfo na sprint ainda veio depois de uma bela ultrapassagem sobre Richard Verschoor na penúltima volta.

Martins e os erros bobos no início

Nem só de glórias vive a temporada 2023 da F2. Há também a turma que ainda está devendo, e um deles é Victor Martins. Campeão vigente da F3, o talentoso francês impressionou de cara pela velocidade, sobretudo em classificações. Nas corridas, porém, não faltaram erros bobos e até grosseiros, de escapadas quando liderava a acelerar sob bandeira amarela e quase acertar um fiscal de pista. Foi preciso recalcular a rota e entender que, às vezes, menos é mais. O recomeço tem sido bem menos errático, mas ficou a impressão de que o início completamente acima do tom comprometeu o que poderia ter sido uma performance dominante.

Victor Martins F2 2023 Baku Azerbaijão ART
Victor Martins errou muito no início da temporada (Foto: ART)

Hadjar: de favorito na Red Bull a decepção

Quando ainda brigava pelo título da F3, Helmut Marko deixou claro que Isack Hadjar era o seu favorito da academia a subir para a F1 em 2024. Para isso, teria, no entanto, de fazer uma boa temporada na F2, porém era inegável que o fator preferência contava muito bem no passe do jovem francês. Só que a temporada de Hadjar tem sido para esquecer: erros, acidentes e explosões pelo rádio que muitas vezes não fazem sentido. A velocidade acabou mascarada pelas etapas ruins, e Hadjar já corre o risco de ver o bonde do acirrado programa dos taurinos passar a sua frente sem dó.

MP só ladeira abaixo com Hauger e Daruvala

A MP viveu um ano de sonho em 2022 graças ao casamento perfeito com Drugovich. O título de pilotos e equipes colocou o time holandês entre os principais nomes, porém a carruagem virou abóbora no campeonato atual, e uma parcela pode ser atribuída à atual dupla de pilotos, Dennis Hauger e Jehan Daruvala. Duo da Prema no ano passado, ambos acumulam erros e conquistam os melhores resultados em corridas sprints, que contam com a inversão do grid (sinal de que o desempenho em classificação não é dos melhores). O quinto lugar atual é puro reflexo dessa combinação.

Jehan Daruvala acumula erros em 2023 (Foto: Reprodução)

A não-substituição da Emília-Romanha

O cancelamento da etapa da Emília-Romanha por conta das fortes chuvas que castigaram o norte da Itália em maio foi correto, porém deixar de substituir a corrida e manter o campeonato com apenas 13 etapas acendeu um preocupante alerta para a F2. Como a categoria divide os finais de semana com a F1, entendeu-se que não haveria como realizar a rodada fora do programado, mas ao contrário do que acontece na dita elite do automobilismo mundial, com seu calendário cada vez mais inchado, encaixar uma rodada excepcionalmente nos dois meses entre Monza e Abu Dhabi não seria loucura, ainda que a etapa italiana fosse duplicada. A questão é que, com a tendência cada vez mais forte da F1 em sair da Europa, a F2 pode pagar o pato e viver o feito inverso: um campeonato encurtado para não comprometer o orçamento com viagens caras.

A incompetência da FIA para aplicar punições durante a corrida

Se a FIA peca em gerir a Fórmula 1, o que se vê tanto em F2 quanto em F3 beira o ridículo. Não há uma única etapa sequer que a entidade não aplique um festival de punições após as duas corridas do final de semana. Em alguns casos, são horas para julgar a culpabilidade de um determinado piloto num lance claro, em que a sanção poderia ser aplicada ainda em pista. Há um evidente relapso com a base, quando deveria acontecer o contrário, pois são pilotos e pilotas muito novos e sem experiência. Falta mais organização e zelo da parte da entidade, que parece ainda completamente alheia às recentes tragédias vividas nessas séries.

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