Únicas equipes a não pontuar na abertura do mundial de F1, Williams e McLaren devem continuar a via crucis em 2019
"Quando está no escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar"
Começou a temporada 2019 da Fórmula 1. Além da acachapante – e, podemos dizer, surpreendente – vitória de Valtteri Bottas, da Mercedes, o resultado final do GP da Austrália também revela uma dura realidade para Williams e McLaren. De todos os dez times, apenas os dois tradicionais e multicampeões construtores ingleses não pontuaram.
Não que apenas uma corrida, e ainda no peculiar circuito de Albert Park, dite logo de cara o equilíbrio de forças de todo o ano, mas o resultado é o sintoma de uma série de escolhas erradas e problemas em Grove e Woking.
Norris em sua corrida de estreia na F1
“Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar.”
Para a McLaren parecia que a sorte poderia ser melhor. Os testes de pré-temporada indicaram que eles poderiam andar no meio do pelotão e os treinos deste primeiro fim de semana de corrida demonstravam isso. Na classificação, o estreante Lando Norris conseguiu avançar para o Q3 e um sólido oitavo lugar no grid. Carlos Sainz, por outro lado, foi decepcionante, ficando ainda no Q1, com o 18° tempo – o motivo, de acordo com o espanhol, foi o fato de ter sido justamente atrapalhado por uma Williams quebrada no meio da pista.
Tudo escorreu pelo ralo após apagarem as luzes vermelhar em Melbourne, neste domingo. Sainz até que estava indo bem, mas teve um problema logo na primeira parte da prova, de acordo com o próprio foi na MGU-K (a unidade de potência de recuperação de energia cinética), e abandonou. Já Norris pagou pela inexperiência. Inconsistente, o inglês regrediu e acabou se vendo na disputa contra a Toro Rosso de Antonio Giovinazzi. Terminou a prova australiana em 12º, fora dos pontos.
O mais duro para a equipe veste laranja não foi ficar zerada, claro. Foi ver Max Verstappen, da Red Bull-Honda, em terceiro, trazendo para casa o primeiro pódio dos motores nipônicos desde que eles voltaram para a F1, em 2015. Pódio esse pelo qual a McLaren lutou durante anos – e nunca conseguiu.
“Eu estou na Lanterna dos Afogados
Eu estou te esperando
Vê se não vai demorar”
A situação é ainda pior na Williams. O time ficou na rabeira praticamente todo o período de pré-temporada, situação que se repetiu nos treinos livres na Austrália. Na classificação, o estreante George Russell ficou em 19°, com Robert Kubica em 20° – que foi justamente a Williams que bateu, citada por Sainz. O inglês ficou mais de 2s atrás do melhor tempo do Q1 (da Ferrari de Chales Leclerc), enquanto o polonês ficou 1,7s atrás do companheiro de equipe.
No domingo, o pessoal de Grove continuou na F1Z. Ainda na primeira curva, Kubica perdeu a asa dianteira e teve que fazer um pit. Depois, ele e Russell só conseguiram se colocar à frente de quem abandonou, terminando respectivamente em 16° e 17°, duas e três voltas atrás do vencedor.
“Uma noite longa
Pruma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar”
Para não dizer que tudo foi perdido, é importante ressaltar que esta foi a primeira corrida de Fórmula 1 para o polonês em mais de oito anos, após aquele grave acidente que ele teve quando corrida de rally. Por isso, ter terminado a prova foi um grande resultado para o piloto – que se pesem os problemas, incluindo ter perdido um dos retrovisores na volta 3. “Mesmo com as dificuldades, acho que fomos positivos, quero agradecer todo mundo na equipe”, disse Robert em uma declaração após o GP.
Russell também ganhou quilometragem, afirmou que fez três paradas para testar os três compostos e que não está interessado em disputar o último lugar com Kubica. Porém, será que o time conseguirá usar todo esse aprendizado para sair do fundo do poço?
“E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar”
No final do ano, são os resultados das 21 provas que indicam vencedores, perdedores, ganhos e perdas. Ainda assim, dos dois solitários lanternas deste começo de ano, quem parece ter mais forças para conseguir algo é a McLaren. Dependendo do circuito e da sorte, o pessoal de Woking poderá brigar em condições de igualdade pelos pontos contra Force India, Toro Rosso e, quem sabe, Alfa Romeo. Renault e Haas parecem estar, ao menos neste começo de ano, muito longe da mira inglesa.
Já para a Williams, 2019 será mais um ano para se esquecer. Com sorte, conseguem abocanhar um ou outro ponto, mas isso tende a ser uma exceção. A realidade é que, de 2017 (ano no qual entrou em vigor o novo regulamento aerodinâmico) para cá, a Williams perdeu 0,1s na classificação em Albert Park.
Já a Mercedes, mesmo com as mudanças nas asas neste ano, ficou 1,1s mais rápida.
Como fica claro, nada está tão ruim que não possa piorar…
“Eu tou na Lanterna dos Afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar”
Em tempo: ‘Lanterna dos Afogados’, grande clássico dos Paralamos do Sucesso e citada neste texto, faz referência a um dos capítulos do livro ‘Jubiabá’, de Jorge Amado. É lá que temos o bar Cais do Porto, onde as esposas dos pescadores esperavam por seus maridos com uma lanterna em suas mãos, ajudando-os a encontrar o caminho para voltar ao lar.
Que McLaren e Williams reencontrem o seu caminho: o de vitórias e de títulos.
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