Tal qual o personagem de Bill Murray no filme ‘O Feitiço do Tempo’, Vettel e a Ferrari lutam para evitar uma repetição que, para eles, já é infernal: a vitória da Mercedes - e o primeiro passo já foi dado com a conquista da pole no GP do Canadá
‘O Feitiço do Tempo’ (‘Groundhog Day’, no título original) é, sem dúvida alguma, uma das mais divertidas comédias dos anos 1990. Na história, Bill Murray vive um meteorologista da TV, chamado Phil, escalado para cobrir o Dia da Marmota, uma tradição na América do Norte, e vê o mesmo dia se repetir indefinidamente até que faça tudo corretamente para se livrar desse ciclo.
Em Montreal, neste sábado (8), Sebastian Vettel e a equipe Ferrari vivem o seu “Fim de Semana da Marmota”, no qual tudo precisa dar certo para livrá-los de uma repetição que, para eles, é infernal. Afinal, já são seis vitórias da Mercedes em seis GPs na temporada 2019.
A marmota, aliás, é convidada especial da corrida canadense. O animal é nativo da região e, nos outros 362 dias do ano, o dono da Ilha de Notre-Dame.
Nos outros três dias, são os carros da Fórmula 1 que ditam o ritmo do circuito que leva o nome de Gilles Villeneuve. E é, também, uma pista que favorece a Ferrari, ao menos no papel. Na prática, o que vimos foi uma disputa muito próxima entre os italianos e as Flechas de Prata – Hamilton fez o melhor tempo do primeiro treino livre, enquanto Charles Leclerc, na Ferrari #16, foi o melhor do TL2 e Vettel foi o P1 no TL3.
Na classificação, marcada pela pancada da Haas de Kevin Magnussen, a história foi mais ou menos a mesma: Vettel foi o melhor do chamado Q1, com Hamilton liderando o Q2.
Por isso, os italianos não tinham o direito de errar ao final do terceiro trecho. Não erraram. Sebastian Vettel foi o último a completar a volta rápida, foi o mais rápido com o tempo de 1m20s240 – 0s2 à frente de Lewis Hamilton e distantes 0s6 de Leclerc.
O tetracampeão comemorou muito, com razão. Foi apenas a primeira pole do piloto no ano, a segunda do time italiano. Ainda assim, o resultado não garante nada
Primeiro porque a Mercedes vem rápido. O segundo motivo é que 2019 não tem sido uma boa temporada para os pole positions. Em seis GPs, apenas dois foram vencidos pelo mais rápido da classificação – nos outros quatro casos o vitorioso partiu da P2 ou da P3 no grid de largada. Em Montreal, Hamilton largada justamente em segundo.
Isso nos faz voltar ao fatídico dia do personagem do Bill Murray em ‘O Feitiço do Tempo’. Apesar de ser uma leve comédia dirigida por Harol Ramis (parceiro de Murray em ‘Os Caça-Fantasmas’), o filme carrega uma lição de moral. Afinal, não valorizamos a beleza do dia a dia e as oportunidades que temos na vida. O “homem do tempo” só consegue se livrar do loop temporal quando, finalmente, faz tudo certo e aproveita o melhor do Dia da Marmota.
Em tempo: o Dia da Marmota acontece todos os anos e é coberto pela imprensa dos EUA e do Canadá de forma ostensiva. O animal passa todo o inverno em sua toca, hibernando enquanto espera os dias mais quentes da primavera. A tradição diz que, em 2 de fevereiro, o rechonchudo roedor finalmente acorda, deixa a sua casa e, se estiver nublado, caminha normalmente – significando que o inverno acabará mais cedo. Se estiver um dia claro, a marmota se assusta com a sombra do próprio rabo, voltando para a toca – e indicando que o inverno será mais longo.
É como a F1: por mais tecnologia que exista, ainda nos curvamos à pequena marmota em seu habitat natural. Ainda bem que é assim.
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