Como Michel Jourdain Jr., ex-piloto da Indy e até hoje em atividade na Nascar México e também nas pistas correndo de caminhões, foi parar no elenco de 'Roma', filme dirigido por Alfonso Cuarón, orgulho do país e vencedor de três Oscars

Aclamado pelo público e pela crítica, ‘Roma’ conta os dramas e as diferenças de classes socioeconômicas bastante distintas na Cidade do México da década de 1970. A obra, escrita e dirigida por Alfonso Cuarón, revive os cenários do bairro Roma, na capital mexicana, e retrata, de forma intimista, poética e em preto e branco, uma cinebiografia inspirada na infância do próprio Cuarón.

O filme é baseado na história de duas fortes mulheres: a empregada doméstica Cleo, interpretada por Yalitza Aparicio — que debutou como atriz —, e a patroa Sofía, papel assumido pela experiente Marina de Tavira.

Ao todo, foram dez indicações ao Oscar, com três premiações: Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Fotografia.

Uma das características de ‘Roma’ é a abertura de espaço para não-atores, que trazem uma aura ainda mais intimista e peculiar ao filme. Yalitza Aparicio, por exemplo, foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz logo na sua primeira atuação. Um nome muito conhecido do esporte local, Victor ‘Latin Lover’, famoso atleta de luta livre, também fez uma ‘ponta’ em Roma.

Além de ‘Latin Lover’, outro atleta mexicano fez parte do elenco do premiado filme dirigido por Cuarón. Michel Jourdain Jr., piloto de 42 anos vencedor e terceiro colocado na antiga Champ Car [em 2003], passagens pela Indy, Nascar México e Freightliner (a ‘Copa Truck’ mexicana) teve uma participação na obra. Jourdain Jr., que segue em atividade até hoje nas pistas do seu país, jamais havia participado antes de alguma filmagem ou qualquer outra obra artística.

O GRANDE PREMIUM conversou por telefone com o piloto, que descreveu a felicidade por ter a chance de trabalhar ao lado de Cuarón e de participar de um filme que é visto por ele como um orgulho para o México e para a América Latina como um todo.

 
“Participar do filmeRoma’ foi uma experiência incrível e muito divertida. Minha participação foi muito curta. Mas, no fim das contas, o mais importante, quando me deparei com a oportunidade, foi a chance de aparecer em um filme de Alfonso Cuarón. Isso, para a minha vida, foi uma grande experiência e, obviamente, você nunca imagina que vai estar em um filme com tantos prêmios, com tantos Oscars. E acabou dando tudo certo. Não por mim, mas é um marco na minha vida, pessoalmente”, conta o mexicano.

A incursão de Jourdain Jr. no mundo do cinema se deu totalmente por acaso. Ou quase isso. Na verdade, Michel foi levado à escolha do elenco por um dos seus filhos, Marco, hoje com 12 anos. O casting foi feito no Colégio Americano de México.

Na primeira parte da seleção, realizada ainda em 2016, Marco foi acompanhado pela mãe. O menino passou para a fase seguinte do processo. Só que a mãe não pôde estar presente ao seu lado por conta de compromissos. E então, o filho pediu ao pai para levá-lo e não perder a oportunidade. A equipe da produção de ‘Roma’ viu em Jourdain Jr. um perfil compatível com um dos papéis do filme e decidiu convidá-lo, como relembra o piloto.

“No fim das contas, acabei sendo chamado, enquanto Marco não foi. Fiquei na dúvida sobre entrar, sobre fazer parte do filme ou não, e aí meu filho me disse: ‘Não é todo dia que se tem a oportunidade de fazer um filme de Alfonso Cuarón’”, diz o piloto, que atendeu ao pedido de Marco.
 

(Michel Jourdain em evento do filmeRoma’ (Foto: Divulgação))

Mesmo o México sendo um país apaixonado pelo esporte no geral e pelo automobilismo em particular e Jourdain Jr. sendo um piloto famoso e ainda na ativa, ele não foi reconhecido pelo diretor do casting, Luis Rosales. “Quando saí, o ajudante dele lhe disse que eu sou piloto”, conta.

Por alguns dias, Jourdain Jr. trocou o capacete e o macacão pelo figurino no set de filmagens de ‘Roma’. O piloto, que deixa claro não ser ator, deu vida ao Dr. Alex Matos, personagem encarregado de seduzir Sofía, contracenando com Marina de Tavira. Abandonada pelo marido, Sofía viajou sozinha com os filhos e também com Cleo para as festividades de fim de ano em uma fazenda de familiares. Lá, Dr. Alex tentou seduzi-la, mesmo sendo seu compadre.

Michel relata um pouco da sua experiência, ainda que breve, ao lado de outros não-atores e atrizes e também de grandes nomes do cinema mundial.

“Foi algo totalmente novo. Acabou sendo mais fácil por poder contracenar com Marina de Tavira, com alguns atores e atrizes profissionais, então tudo correu bem. Sobre Cuarón, passei poucos dias filmando, três ou quatro, mas seu perfeccionismo e atenção aos detalhes são incríveis, como jamais havia visto antes com alguém”, descreve.

“É por isso que seus filmes são tão perfeitos e tão premiados, porque ele se preocupa com coisas que jamais imaginaria”, continua o piloto.

Yalitza Aparicio é a grande estrela e protagonista de ‘Roma’, vencedor de três Oscars (Yalitza Aparicio, grande estrela no papel de Cleo, em ‘Roma’ (Foto: Divulgação))

“É por isso que seus filmes são tão perfeitos e tão premiados, porque ele se preocupa com coisas que jamais imaginaria”, continua o piloto.

Definitivamente, o trabalho dos diretores mexicanos de cinema está em alta. Nos últimos seis anos, nada menos que cinco Oscars foram para diretores do país: Cuarón já havia recebido a estatueta por ‘Gravidade’, em 2013. Alejandro Iñárritu levou o Oscar por dois anos consecutivos, por ‘Birdman’, em 2014, e por ‘O Regresso’, em 2015. Em 2017, foi a vez de Guillermo del Toro vencer o Oscar de Melhor Diretor por ‘A Forma da Água’, enquanto Cuarón levou sua segunda estatueta por ‘Roma’.

Jourdain tenta traçar um paralelo entre o trabalho realizado por Cuarón com nomes com os quais teve a chance de trabalhar no esporte, sobretudo na antiga Champ Car, onde foi chefiado por Bobby Rahal no seu ano mais vitorioso.

“Diria que é diferente… porque é algo diferente [o cinema do automobilismo]. Mas já tive a chance de trabalhar com pilotos, com diretores e chefes de equipes muito bons antes, e você sempre nota que os melhores do mundo enxergam detalhes e problemas que nenhuma outra pessoa enxerga. E essa é a diferença que marca os melhores do mundo dos demais. Já trabalhei com nomes como Bobby Rahal, que têm essa capacidade de vislumbrar além de detalhes que muitas outras pessoas não vêm e, por isso, são melhores que os outros”, compara.

“Foi algo totalmente diferente, totalmente novo e distinto do automobilismo. Não acho que minha experiência nas pistas tenha me ajudado em alguma coisa durante a atuação no filme”, diz.

Alfonso Cuarón ganhou o Oscar de Melhor Diretor por ‘Roma’ (Alfonso Cuarón é o aclamado diretor do premiado ‘Roma’ (Foto: Divulgação))

Orgulho do México e da América Latina
 

Diferente de boa parte dos filmes dirigidos por Cuarón, ‘Roma’ “é um filme mexicano, dirigido por um mexicano, filmado no México com uma história do México e produzido por mexicanos”, conta Jourdain Jr., orgulhoso por ter feito parte das filmagens de uma obra que retrata a essência de uma América Latina marcada pela desigualdade, luta de classes e também, principalmente, por muita alma.

“Acho que as pessoas estão muito orgulhosas. Jamais foi visto um filme mexicano tão premiado quanto ‘Roma’. E isso é algo não só para o México, mas para toda a América Latina se encher de orgulho”, destaca Michel, que conta um pouco da temática da obra de Alfonso Cuarón.

“A relação da Cleo, a protagonista, com a família, o amor que há entre ela, mesmo com a relação no trabalho [com Sofía e a família], as diferenças sociais… É o principal tema. São duas mulheres que passam cada uma por problemas nos seus relacionamentos e tudo o que as une. Uma história contada magistralmente por Cuarón e seus recursos cinematográficos incríveis. E são elas que fazem o filme ser o que é”, acrescenta.

Oriundo de uma família de pilotos, Michel, que tem sua origem na Bélgica, se diverte ao contar um pouco da sua jornada no premiado ‘Roma’, até por saber que dificilmente vai ter outra chance de aparecer na telona dos cinemas.

“Não acho que vou ter outra oportunidade. Não foi um papel de protagonista, foi uma aparição e, na verdade, não sou um ator [risos]. Então sigo com o automobilismo, que é minha vida, e é onde pretendo continuar pelo restante da minha vida”, complementa Michel Jourdain Jr.

 
Indy, Nascar e até WRC: a trajetória de Jourdain
 

Com apenas 19 anos, Jourdain teve a chance de estrear pela IRL em 1996, ano da cisão da categoria criada por Tony George, com a CART. A IRL ficou com a corrida principal do calendário, as 500 Milhas de Indianápolis, que o mexicano disputou pela primeira vez naquela temporada correndo pela equipe Scandia.

A partir do ano seguinte, Jourdain seguiu para a CART, ou Champ Car, correndo por equipes como Payton/Coyne, Bettenhausen e Rahal. Foi representando a equipe do lendário Bobby Rahal que Michel viveu seus melhores anos no automobilismo.

O auge foi em 2003, quando o mexicano venceu duas corridas — Milwaukee e Montreal —, foi ao pódio também em St. Pete, Monterrey, Lausitzring e Toronto, seguindo na briga pelo título praticamente durante toda a temporada. No fim, a taça ficou com o veterano canadense Paul Tracy, com o brasileiro Bruno Junqueira sendo o vice, apenas quatro pontos à frente de Jourdain.

“Foi minha melhor temporada”, recorda Jourdain. “Infelizmente, os meus outros anos foram, na maioria, pouco competitivos. Mas, naquele ano, fomos muito bem, vencemos corridas, fizemos pódios, mas também enfrentamos problemas que, no fim das contas, nos afastaram do título”, recorda.

“Mas foram grandes momentos, grandes lembranças. Sempre penso que as coisas acontecem por algum motivo e assim temos de encarar as coisas como elas são”, ressalta.
 

(Michel Jourdain Jr. (Foto: Indycar))

Naquela época, a Champ Car começava a dar seus sinais de enfraquecimento, muito por conta da migração de equipes poderosas, como Penske e Ganassi, para a IRL. Anos depois, as duas categorias voltaram a unir forças e reconstruíram a Indy, como a categoria existe até hoje.

A carreira de Michel também deu uma reviravolta, e o mexicano passou a atuar em várias frentes no automobilismo, com atuação predominante nos Estados Unidos. Lá, correu em competições de endurance e em divisões da Nascar, Jourdain também fez uma temporada completa no antigo WTCC pela Seat, em 2007, e disputou quatro corridas da finada A1GP naquela mesma temporada.

O piloto chegou até a disputar o Rali do México do WRC em duas oportunidades e teve participações esporádicas em corridas da antiga Nationwide Series, hoje Xfinity, a segunda divisão da Nascar.

Em 2012, veio o reencontro com a Indy e com o velho chefe Bobby Rahal. Pela RLL, Jourdain correu a Indy 500 daquele ano, 16 anos depois da sua estreia na ‘Brickyard’, terminando uma volta atrás do vencedor, Dario Franchitti, em 19º na classificação geral. No ano seguinte, o mexicano fez uma nova tentativa para participar da prova, mas aí foi eliminado no Bump Day.

De regresso ao automobilismo local, Jourdain disputa desde 2017 a Nascar México, acelerando também na Freightliner, categoria de caminhões que tem seu evento como parte do cronograma da Nascar mexicana.

Com 42 anos e muita lenha para queimar, Michel Jourdain Jr. garante: sua carreira está longe de terminar. “Estou no México, e vamos participar novamente dos Freightliner, também da Nascar México e também uma surpresa para os próximos meses. Sinto saudades da Indy, uma fase incrível, com pilotos e equipes incríveis. Ao mesmo tempo, também olho pela frente e para os desafios que estão por vir”, completa o piloto e também integrante do elenco da vitoriosa obra ‘Roma’.

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