Sérgio Sette Câmara teve um primeiro semestre de novidades, como o posto de piloto de testes na McLaren. É um momento chave para o brasileiro, que busca aprender ao mesmo tempo em que faz malabarismo com atividades da F2

Andar em simulador virou coisa trivial no automobilismo moderno. Não só porque os equipamentos se tornaram mais populares e acessíveis – comparativamente falando –, mas também por virar parte do cotidiano de pilotos profissionais. A atividade, antes recebida com um tanto de dúvida, virou chave no desenvolvimento de atualizações e de acertos. Para o brasileiro Sérgio Sette Câmara, piloto de testes da McLaren, é um outro tipo de chave: o para tentar um espaço na Fórmula 1, mas não sem antes encarar uma leva de novidades.

Tudo começa na carga horária. Antes de 2019, Sette Câmara teve uma carreira focada em categorias formadoras. Focar na F2 ou em uma F3 bastava. Agora, além de defender a DAMS na porta de entrada da F1, Sérgio precisa dar um jeito de separar tempo para o trabalho de bastidores na McLaren. “Agora eu tenho uma nova responsabilidade, preciso viajar bastante, agora com o simulador da McLaren. Com essas viagens por conta do simulador, aumentou bastante a intensidade do ano”, diz Sette Câmara, entrevistado pelo GRANDE PREMIUM.

Sérgio Sette Câmara vive momento de aprendizado ao lado da McLaren (Sérgio Sette Câmara faz pódio duplo em Macau, 2016 (Foto: Red Bull))

Uma olhada na calculadora seguida de uma em um mapa vai bastar para entender o que “intensidade” quer dizer. A F2 tem 12 fins de semana. Com quatro dias de atividades em cada – levando em conta a quinta-feira, mesmo sem andar na pista –, são 48 dias apenas no envolvimento direto. Com a McLaren, Sette Câmara diz fazer até 40 dias de atividades no simulador – já são quase 90, isso sem contar treino físicos e visitas ao simulador da DAMS na F2. A cereja no bolo é o fato de Sérgio morar próximo de Barcelona, na Espanha, enquanto representa a britânica McLaren e a francesa DAMS.

“Acredito que no ano inteiro eu faço de 35 a 40 dias [na McLaren] e até agora tem sido com algumas semanas mais intensas do que outras”, conta. “É um número considerado bem elevado para um piloto, isso de fazer 40 dias. Em simulador de Fórmula 1, é bem elevado. Claro, tem os finais de semana, mas tem também agosto, que fica parado, e uma parte de dezembro e janeiro também. […] Acredito que tenho feito bem essas duas funções. Tem vezes que é difícil conciliar tanto tempo de simulador, mas temos feito as coisas direitinho, então fico satisfeito”, frisa.

Esse é o grande desafio que eu tenho, sabe? Trabalhar, me dedicar, mas algumas vezes a gente acaba se saturando

Fazer um bom trabalho, seja como titular ou como reserva, tem lá suas demandas. Sérgio Sette Câmara, apesar de todas as responsabilidades, ainda é um jovem de 21 anos, completados recentemente, em maio. Por mais que o esporte pareça algo lúdico por vezes, como uma espécie de sonho a ser vivido, é inegável que o peso das cobranças não é um fácil de ser carregado.

“Essa questão acaba sendo o grande desafio que eu tenho atualmente, sabe? Trabalhar, me dedicar, dar tudo que eu tenho, mas algumas vezes a gente acaba se saturando”, reconhece. “Por mais que pareça que ‘ah cara, você só está pilotando um carro de corrida’… Se for pensar, é assim em qualquer esporte, para um jogador de futebol também. Fica jogando bola e é considerado um hobby, uma distração. Mesmo assim, quando você faz algo profissionalmente, em alto nível, tudo pode ser estressante. Balancear essas duas coisas é uma coisa que eu considero essencial. É um equilíbrio que a gente está sempre buscando”, explica.

O contato

É evidente que o principal trabalho de Sette Câmara na McLaren é ajudar no desenvolvimento do MCL34, só que isso não é tudo. Existe uma questão importante do ponto de vista do piloto, que é o desenvolvimento próprio – ao anunciar a contratação do mineiro no fim de 2018, o diretor-esportivo Gil de Ferran destacou a questão da integração à equipe como uma das mais importantes. Nas entrelinhas, fica clara a importância de desenvolver as habilidades do brasileiro em Woking.

E o simulador se encaixa como uma luva na missão. Sette Câmara tem não só o contato com um carro de F1 – mesmo que virtual – como também com o estilo de pilotagem de dois pilotos dos mais conceituados, os titulares Carlos Sainz Jr. e Lando Norris.

“Consegui absorver principalmente novas técnicas de guiar, tô vendo os dados de vários pilotos”, revela Sérgio. “Do Sainz, do Norris, de outros pilotos. Então esse ano está abrindo meus olhos para diferentes técnicas que você pode ter quando guia. Você vê pilotos de diferentes gerações e como eles se adaptam ao mesmo carro, mas vindo de escolas completamente diferentes. É realmente algo que abre os olhos, até porque a gente não percebe que dá para mudar”, reflete.
(Sainz e Sette Câmara (Foto: McLaren))

“Uma das coisas que a McLaren quer fazer é me preparar como piloto, então lá é um livro aberto, mostrando tudo que se pode fazer com um carro. Como um carro de F1 é mais complexo, tem várias ferramentas de acerto que eu nunca tinha visto antes […] Caso eu suba para a Fórmula 1 um dia, é uma grande vantagem já estar sendo apresentado a essas técnicas”, avalia.

Junto da experiência profissional, vem também um bom contato pessoal. Norris e Sainz são dois velhos conhecidos de Sette Câmara – o primeiro por conta da parceria na Carlin na F2 em 2018, o segundo por conta do ano como júnior da Red Bull em 2016, quando Carlos ainda era piloto da Toro Rosso. O ambiente mudou completamente, mas a relação segue boa e propícia para o aprendizado.

“É muito boa [a relação] com o Norris. Torço muito por ele, um cara nota mil”, afirma Sette Câmara. “Poderia ter uma tensão, por achar que posso tomar o lugar se ele ir mal e eu ir bem, mas acho que eu confio no meu trabalho e ele confia no trabalho dele. Com o Sainz, já tinha passado alguns dias com ele na Red Bull, já sabia que ele era um cara nota mil. Agora na McLaren passei a ter mais tempo como ele. Pelo que vi, ele [Sainz] e o Norris se dão muito bem, e eu também me dei bem”, considera.

Quem ganha com a harmonia é a McLaren, mas Sette Câmara também leva suas doses de lições. Além de aprender sobre novos estilos de pilotagem ou sobre o funcionamento de uma equipe de F1, o mineiro também aprende sobre trabalho em equipe.

“Acho que essa é uma das coisas que a McLaren gosta, que o piloto de testes conheça muito bem um dos titulares, que é o Lando [Norris], e também tenha uma relação boa com o Sainz. Equipe é comunicação, é todo mundo se entendendo. Na F2, meu papel é questão de ‘eu’. Eu ser o mais rápido, eu sou o cara que vai lá, eu sou quem ganha. Na F1, meu papel é entender que quem está guiando é o Norris e o Sainz. Quando eu vou no carro, é para entender que é a direção que eles pedem, não a que eu quero”, indica.

 

O teste

O ponto alto da passagem de Sette Câmara pela McLaren até aqui foi a aparição no teste coletivo pós-GP da Espanha, em Barcelona. Fazia muito sentido: é importante que pilotos de simulador guiem o carro ‘real’ para avaliar a correlação e o realismo do equipamento virtual. Além disso, claro, era a chance de testar a pilotagem do brasileiro.

O problema é que o teste não correu tão bem quanto se esperava. Problemas mecânicos fizeram Sérgio dar apenas 19 voltas, aparecendo em 13º dentre os 13 pilotos que foram à pista. Junto da alegria de voltar a um F1, a chateação de quebrar sem saber quando vai ter uma nova chance.

“Não, não existe nenhuma previsão de retorno por enquanto”, revela. “Eu recebi a notícia [do teste em Barcelona] por volta de duas semanas antes e acabou sendo uma coisa meio espontânea. Não sei se existe um retorno. Mesmo assim, é como eu disse. Até algumas semanas antes do treino eu não estava sabendo que ia acontecer”, conta.

 

(Sergio Sette Câmara (Foto: McLaren))

Com ou sem problemas mecânicos, com ou sem novas oportunidades em testes, Sette Câmara se anima por fazer uma contribuição – ainda que pequena – para o momento alentador da McLaren na F1.

“Essa é uma equipe muito grande, com muito trabalho sendo feito. Acredito que eu tenho feito um bom trabalho no simulador. Tenho sido profissional, me adaptando ao que eles me pedem sempre, mas acaba sendo uma contribuição pequena. São muitas pessoas e cada contribuição é importante, mas é muito difícil responder [sobre a importância da atividade no simulador]”, reflete.

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