2019 é o segundo ano sem categorias nacionais em Tarumã, palco histórico do automobilismo nacional. Mesmo ainda sem cumprir obras pedidas pela CBA, preocupada com a segurança, o clima é de otimismo para 2020 com Stock Car e Copa Truck

O ano é 2017; o dia é 22 de outubro. O quase verão das redondezas de Porto Alegre reservava um evento esportivo que não voltaria a se repetir. Não era Grenal, até porque naquelas alturas o Internacional já encaminhava o retorno à Série A para garantir novos confrontos com o Grêmio. Não era basquete e nem era vôlei, modalidades que ainda tentam encontrar seu lugar ao sol na capital dos gaúchos. Era a etapa da Stock Car em Tarumã, que precisaria ser cancelada em 2018 e 2019. A Copa Truck, que esteve lá uma semana antes, também não voltaria nos dois anos seguintes. Com 2020 já batendo na porta, surge uma pergunta inconveniente: afinal, Tarumã ainda tem espaço no automobilismo nacional?

A pergunta não tem resposta simples. Tarumã sofre com problemas estruturais que também são vistos em outras pistas tradicionais brasileiras. A questão é que as outras pistas não têm curvas notoriamente perigosas, com destaque para as 1 e 2 no circuito gaúcho. Nesse tipo de situação, área de escape não é puramente algo preferencial. É uma necessidade – o grave acidente de Marcos Gomes em 2013 fala por si.

Sem surpresas, obras foram exigidas. Como revelado pelo GRANDE PREMIUM, a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) cobrou readequações tanto nos pits quanto em áreas de escape, que precisavam ser asfaltadas. Sob a promessa de que tudo seria executado, Tarumã entrou no calendário da Stock Car e da Copa Truck. No campeonato de turismo, como prova de abertura. O status logo se perdeu com um adiamento, que seria seguido por uma eliminação sumária do calendário. O certame de caminhões seguiu o mesmo caminho.

A Stock Car esteve em Tarumã em outubro de 2017. Depois disso, não mais (Tarumã (Foto: Fernanda Freixosa/Vicar))

“O que foi pedido na época foi uma série de coisas muito complexas, que não precisavam ser feitas na totalidade”, analisa Rodrigo Machado, presidente do ACRGS (Automóvel Clube do Rio Grande do Sul), ao GP*. “São coisas que foram pedidas antes, que eu não sei se ainda vão ser pedidas ou não. Tendo em vista o documento anterior, teve muita coisa ali que foi pedida que não seria necessário, ou que poderia ser feito de maneira diferente”, destaca.

Machado assumiu a presidência do ACRGS em um ano importante para Tarumã. O dirigente tomou ainda no primeiro semestre de 2019 a posição antes ocupada por Márcio Pimentel por longa data. A troca de comando criou um certo impasse – a gestão atual diz não ter certeza sobre quais das obras solicitadas pela CBA já foram concretizadas ou não. Apesar do clima nebuloso quando o assunto é finalizar obras, existe otimismo no sentido de voltar ao panorama do automobilismo nacional.

“A gente tem um relatório da CBA, de 2018, e a gente não sabe o que é atual e o que não é”, reconhece Machado. “Eu assumi há três meses [a presidência do ACRGS] e não sei o que foi tratado. De lá para cá, a gente fez alguns contatos com a CBA, a FGA e a própria Vicar. Eles nos passaram algumas exigências e a gente já começou a andar com essas obras. Teve bastante coisa feita. Tanto Copa Truck, Mercedes [Benz Challenge] e HB20 chegaram muito perto de vir. Só não veio por uma questão de tempo, de calendário, porque não conseguiríamos terminar as obras, mas a gente conseguiria se fosse mais para a frente. Então já está andando e tem bastante coisa em andamento”, diz.

As declarações de Machado contrastam com as de Pimentel em 2018. Falando sobre receber a Stock Car no ano seguinte, em 2019, o antigo mandatário definiu as chances como nulas. Mesmo sem afirmar com clareza quanto falta para alcançar o exigido pela CBA, existe um otimismo sobre receber o certame em 2020. O mesmo vale para a Copa Truck. Entretanto, há um indicativo: parte das melhorias pedidas pela confederação só será executada após confirmação de corridas em 2020.

“Os calendários costumam sair entre o fim do ano e o início do próximo, mas já temos conversas. A gente já sentou com a FGA (Federação Gaúcha de Automobilismo), tem reunião marcada com a Vicar (promotora da Stock Car) para setembro. A gente vai tentar um acordo para que ano que vem a gente volte para o calendário. As conversas estão em andamento e as reformas vão ser feitas. Isso tudo deve ocorrer, essas confirmações, devem ocorrer até o final do ano. A gente está se antecipando, já pedimos uma reunião com a CBA, acredito que lá para o final de setembro, para que a gente formalize isso e realmente comece a fazer essas melhorias”, destaca.
(Copa Truck em Tarumã (Foto: Fábio Davini/Copa Truck))

Aumentaram o problema, só que Tarumã está no nível de muitos autódromos no Brasil. […] Tirando Interlagos, não é muito diferente dos outros autódromos.

Tarumã tem características normais do automobilismo brasileiro. Só que é mais traiçoeiro (Tarumã (Foto: Fernanda Freixosa/Vicar))

Pior do que as outras?

O debate sobre as condições de Tarumã vem acompanhada de uma outra questão tão delicada quanto. É justo cobrar que o autódromo tenha um tipo de estrutura que outros ainda não têm? Não é surpresa que, salvo Interlagos e pistas construídas em anos recentes, a segurança do autódromo brasileiro médio é precária. Isso faz a gestão do autódromo gaúcho ter confiança de que pode, sim, seguir bem cotada sem fazer um investimento milionário em reformas.

“Com certeza [tem condições de receber categorias nacionais]. É que se criou uma mística e a gente precisa desmistificar isso”, diz Machado. “‘Ah, porque Tarumã é um autódromo velho, porque isso, porque aquilo’. Aumentaram o problema, só que Tarumã está no nível de muitos autódromos no Brasil. Claro, tem Goiânia, que fez uma reforma com um apoio muito grande do governo um ou dois anos atrás. Só que, tirando Interlagos, [Tarumã] não é muito diferente dos outros autódromos. Existe essa mística, mas não é assim como falam”, avalia.

“Se for olhar, as principais categorias do endurance brasileiro são gaúchas. São carros muito mais rápidos que os de Stock Car, coisa de 8s, 10s, e todas treinam e se desenvolvem aqui no autódromo. Se fosse tão inseguro quanto a mídia comenta, essas equipes com certeza não viriam andar aqui. A gente tem que desmistificar um pouquinho. A maioria das exigências [da CBA] não é por segurança. O que foi feito são critérios que mudaram, que a FIA mudou. Barreira de pneus, como aparafusar os pneus. É uma série de coisas, mas são coisas simples de se fazer. Aparece na mídia que ‘ah, o autódromo está acabado’. Não é bem assim. É o que eu disse, tirando dois ou três autódromos, o resto tudo é do mesmo nível”, destaca.

Um problema de Tarumã é a comparação direta com uma pista apenas 39 km distante. O Velopark abriu as portas em 2010 com uma proposta quase oposta – áreas de escape generosas, poucas curvas de alta velocidade, um parque com outras opções de entretenimento. Desde a abertura, nunca passou um ano sem receber a Stock Car e também era casa regular para a hoje finada Fórmula Truck. Apesar de não estar ao nível de praças como Interlagos, o circuito de Nova Santa Rita está longe de atrair reclamações de CBA ou Vicar.

“O Velopark é uma exceção”, aponta Machado. “Ele foi projetado para isso e é um projeto recente. Agora, você pega Santa Cruz do Sul, que até é um pouco mais nova, mas Cascavel e Londrina, essas são pistas que regulam com Tarumã. É tudo muito parecido. Não tem muita diferença. O que pesa muito em Tarumã é que é uma pista de alta velocidade. É uma pista mais rápida, então os acidentes, quando ocorrem, são de uma proporção maior”, destaca.

 

A novela Stock Car

Depois de receber a Stock Car normalmente em 2017, Tarumã voltou a figurar no calendário de 2018. Ao menos provisoriamente: um mês antes da prova, veio o anúncio de que a falta de segurança forçou o cancelamento. Londrina, que já tinha recebido uma etapa na temporada, foi escolhida como substituta. Foi o primeiro sinal de alerta, e em um momento particularmente infeliz.

É que 2019 marca o aniversário de 40 anos da Stock Car. A primeira corrida da história do campeonato, em 1979, foi justamente em Tarumã. Havia a intenção da categoria de voltar ao traçado gaúcho na abertura da temporada, aproveitando a ocasião especial. Se as obras solicitadas em 2018 fossem cumpridas, tudo correria como previsto.

Só que não poderia ser tão simples assim. Sem sinais de que as obras avançariam no ritmo necessário, a corrida de abril passou de Tarumã para o Velopark. O autódromo antigo ganhou uma colher de chá e foi passado para novembro. O prazo também não pôde ser cumprido, o que fez a Stock Car anunciar o Velo Città como pista substituta.

Como 2019 se aproximando do fim, ainda não há garantias de que o panorama mude para 2020. Os comentários em tom otimista vindos do Rio Grande do Sul ainda precisam surtir efeito.

 

(Tarumã (Foto: Fábio Davini/Vicar))

Enquanto isso…

Seria, todavia, maldade dizer que Tarumã está jogado às traças enquanto categorias nacionais não formalizam seus retornos. O automobilismo gaúcho, forte e plural, é capaz de manter o autódromo ativo. Os fins de semana de agosto e setembro seguem com atividades.

O Racha Tarumã – evento com nome autodescritivo – acontece quase semanalmente e é bem-sucedido. Uma entidade do automobilismo local, reúne carros de rua tunados e dá um gás para as finanças do autódromo. Categorias locais também se fazem presentes. O Campeonato Gaúcho de Super Turismo está marcado para outubro, enquanto as tradicionais 12 Horas de Tarumã ficam para novembro.

Com ou sem os olhos nacionais, Tarumã ainda vai pulsar. Sempre vai haver um carro desafiando a Curva 1 e a Curva do Laço. A questão norteadora, na verdade, é outra: o futuro do autódromo é como seu passado, se portando como um grande palco, ou como seu presente, sofrendo com obras e incertezas?
(Racha Tarumã (Foto: Divulgação))

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