Aos 18 anos, Nicolas Giaffone brilhou na primeira temporada nos Estados Unidos. Subindo a escada da Indy, carrega a esperança de trazer o sobrenome da família de volta ao grid

O sobrenome Giaffone certamente é um dos mais pesados do automobilismo brasileiro. Ao mencioná-lo, é impossível não fazer a associação com Affonso e Zeca, alguns dos principais pilotos da história da Stock Car, e também com Felipe, vencedor de corrida na Indy e tetracampeão da Fórmula Truck/Copa Truck. A família se renova e um novo nome aparece: Nicolas.

Perto de completar 19 anos, Nicolas teve carreira no kart e fez parte da temporada inaugural da Fórmula 4 Brasil. Com um top-5 no campeonato 3 vitórias, partiu para os Estados Unidos, e logo no ano de estreia, emplacou o título da USF Juniors, a primeira das três categorias da USF Championships, parte dos campeonatos de base da Indy.

Nesta edição do Rumo à Glória, Giaffone explicou que, apesar do sobrenome pesado, nunca houve pressão para virar piloto. Até teve medo de que pudesse seguir este caminho apenas pela influência, mas Nicolas entende que tudo foi muito natural.

Nicolas Giaffone é campeão (Foto: Gavin Baker/RF1)

“Foi muito natural, muito. A minha família sempre me apoiou desde o começo, inclusive de uma forma muito positiva. Meu pai tinha muito medo de eu correr por causa da influência da família. Então, desde o kart, ele quis ter muita certeza que eu estava fazendo isso porque amava, e não porque era o que a família fazia. Então, quando a gente conseguiu fazer a transição para os fórmulas, que a gente começou a ver isso em 2021, ele entendeu que era o que eu realmente mais gostava de fazer e que nada no mundo ia me fazer tão feliz quanto corrida. E aí foi que eu tive ele e toda minha família como suporte, que aí eles entenderam que não é porque a família faz, que está no meio, que eu vou fazer. Eu vou fazer porque é o que me faz feliz”, conta Giaffone ao GRANDE PREMIUM.

Não é nada incomum que sobrenomes sigam no automobilismo com o passar das gerações, seja Serra, Fittipaldi, Barrichello e também Giaffone. Porém, uma grande discussão existente no mundo do kartismo e das principais categorias de base são dos “pais de piloto”, que muitas vezes exercem pressão tóxica em seus filhos por criação de forte expectativa. Nicolas garante que Felipe não é nada parecido com Jos Verstappen, por exemplo. E muito pelo contrário.

“Meu pai não gostava de se intrometer muito porque ele queria me dar espaço para crescer sozinho. Então, ele sempre me dava uns toques de experiência como um cara que passou por tudo isso. No fim de semana de corrida a gente conversava muito mais sobre situações onde a experiência dele podia me ajudar, e menos na forma como guio, de fazer o carro ser pior ou melhor. Às vezes ele até palpitava um pouco no setup. No kart, que é um pouco mais fácil, ele ajudava, mas na grande maioria das vezes ele me deu muito espaço para crescer sozinho”, afirma.

Giaffone amplia sua vantagem no campeonato (Foto: Gavin Baker)

Apesar de ser um país com enorme tradição no esporte a motor, o Brasil se viu em um complicado limbo na formação de pilotos na última década. Com o encerramento de categorias como F3 Brasil, F3 Sul-Americana e outras, a transição de kartismo para monopostos ficou mais complicada. Quem não tinha orçamento para se aventurar na Europa ou nos Estados Unidos, se contentava com uma transição para carros de turismo ou o fim do sonho.

Em 2022, finalmente surgiu a versão brasileira da Fórmula 4. O formato, criado pela FIA, se consolidou na formação de pilotos na Europa e ganhou versões até fora do continente, como no Japão e na Índia. O Brasil precisou esperar, mas foi por lá que Nicolas fez esta transição, sendo quinto colocado na temporada inaugural. E até hoje é grato.

“Cara, eu não consigo expressar o quão importante foi. No meio de 2021, eu estava vendo com meu pai de fazermos uma Stock Light, porque eu fui ver opções de guiar na F4 Francesa, mas não tinha me encontrado. Aí, quando veio a F4 para o Brasil e eu tive a oportunidade de crescer como piloto de monoposto dentro do meu país, isso para mim é algo que não teve preço. A gente teve muita sorte e eu sou muito grato pela Vicar por tudo que eles fizeram, porque me deu a chance de me tornar um piloto de Fórmula, e é uma coisa que nem todo mundo teve. Sou extremamente grato a eles”, explica Nicolas.

Nicolas Giaffone venceu na USF Juniors (Foto: USF Juniors)

Com uma temporada de F4 na bagagem, Nicolas deu o próximo passo na carreira. Em vez de buscar a Europa e ficar na mira da Fórmula 1, fez uma opção diferente: os Estados Unidos. Se juntou a vários outros garotos que optaram pelo USF Championships no sonho de virar mais um brasileiro na Indy, onde o pai fez história. Pela categoria, Felipe teve 61 corridas e venceu uma vez, em Kentucky, na temporada 2002.

“Sempre tive amor pelos Estados Unidos. Porque meu pai correu lá, e acaba que você cresce com a família que fala muito sobre os Estados Unidos. Então eu cresci ouvindo coisas maravilhosas da Indy e não pude deixar de pensar ‘porque falam tão bem da Indy, porque é do jeito que é’. Então, tendo essa oportunidade, acabou a F4 Brasil, eu vou para a Europa ou vou para os Estados Unidos?”, relata.

Além de todo o histórico da família e dos elogios para os Estados Unidos, outro fator pesou bastante: o orçamento mais enxuto e a maior abertura com as grandes equipes. Fazendo jus ao título de “Terra das Oportunidades” que uma das maiores potências econômicas do mundo recebeu.

“Tirando a parte do amor que eu acabei desenvolvendo pelos Estados Unidos, lá é um lugar onde tem menos burocracia, eu diria. Você não precisa ter tanto contato assim para estar em uma equipe boa e um carro competitivo. Lá tem várias equipes boas e eles dão bastante oportunidade do piloto aparecer. A competitividade é muito grande. Então, acaba que o piloto que se destaca mais, quando o piloto e o carro se destacam, é um conjunto dos dois e não tem como falar que é só o carro”, explica.

USFJuniors Nicolas Giaffone
Nicolas Giaffone foi ao pódio na corrida 3 em Sebring (Foto: Gavin Baker/RF1)

Com nomes fortes brasileiros nos anos 1990 e 2000, a Indy perdeu apelo com piloto do Brasil na década de 2010. Apenas Matheus Leist e Pietro Fittipaldi correram na categoria nos últimos 10 anos sem contar a histórica dupla Tony Kanaan e Helio Castroneves. Nicolas vê o campeonato como o grande sonho da carreira.

“A Indy é. Hoje em dia, é meu grande sonho de carreira, porque quando você está nos Estados Unidos e vê a atmosfera, o que significa a Indy para o americano, é uma coisa muito grande. Então, é claro, é indiscutível que a F1 tem a importância que tem e não tem como falar que não tem. É impossível. Mas de uma forma que eu vejo a Indy é tão importante quanto a F1 nos Estados Unidos, é uma relevância muito legal de se ver, e é meu grande sonho de carreira”, revela.

“Se eu fizer um bom trabalho nas categorias de base, chegar na Indy e fazer um bom trabalho, quem sabe as portas que vão se abrir? A gente viu que o Pato O’Ward vai andar de F1 agora no treino livre de Abu Dhabi”, comenta Nicolas, relembrando a relação do piloto mexicano com a McLaren.

Na USF Juniors, Nicolas assumiu o carro #19 da DEForce Racing e teve um início avassalador que ajudou a abrir uma larga vantagem e conquistar o título. Nas primeiras nove corridas, foram incríveis seis vitórias — todas as que registrou em 2023 — e isso beneficiou o brasileiro a ter uma segunda metade de campeonato baseada em administração. Giaffone abriu o jogo sobre o temor financeiro que marcou a campanha.

Nicolas Giaffone venceu na USF Juniors (Foto: USF Juniors)

“Foi uma temporada realmente forte que a gente teve desde o começo e acho que, como você disse, a maior dificuldade, que mais precisei prestar atenção, foi que eu sabia que tinha só um ano nos Estados Unidos. Eu tive essa conversa com meu pai antes de ir, ele disse o seguinte: ‘esse ano é vai ou racha. Então, se prepara, você vai ter um ano porque eu não tenho grana para ficar colocando em vários anos’”, confessa.

E Nicolas revelou também que a situação financeira serviu de combustível para entender o tamanho da oportunidade que tinha nas mãos. Após a mágica sequência inicial, chegou a ter percalços como o abandono em Mid-Ohio, mas somou alguns pódios que o ajudaram a terminar o campeonato sem maiores ameaças dos rivais.

“A gente achou a Omni, que foi um grande apoio, e aí a gente foi para os Estados Unidos. Eu tinha essa cabeça. Essa mentalidade de saber que era o xeque-mate me fez performar tão bem logo de cara. Só que o mais difícil é lidar com o campeonato na segunda metade, principalmente tendo a distância que eu tinha para o segundo colocado, porque você acaba virando alvo, querendo ou não. Todo mundo sabe que você é o cara que tem a perder, então as disputas são sempre mais duras com você do que com outros pilotos”, revela.

O posto de alvo foi outra adversidade que Nicolas precisou lidar na temporada do título. Na segunda metade de temporada, o brasileiro entende que virou alvo dos adversários.

Nicolas Giaffone é o campeão da USF Juniors (Foto: Gavin Baker/RF1)

“Você vira alvo, e essa para mim foi a maior jogada. A gente, como piloto, quer sentar, acelerar e ganhar corrida. E nessa situação que me encontrei esse ano eu entendi de uma maneira difícil, porque fui entender isso só depois de bater em Mid-Ohio. Aprendi da maneira difícil que ser piloto para ganhar campeonato é muito mais do que ser rápido para ganhar corrida. Isso só vem com experiência, porque piloto quando bate capacete a gente perde um pouco a noção”, comenta.

De todas as vitórias no ano do título, Nicolas considera que o triunfo em Sebring, na Flórida, foi o mais especial, por conseguir tirar um peso das costas e mandar uma mensagem de que chegaria nos Estados Unidos para brigar, e não para ser um coadjuvante.

“Eu diria que foi a primeira. A primeira foi muito especial, porque na situação que eu estava, sabendo que tinha um ano nos Estados Unidos, você tem toda a insegurança de ‘será que vou performar? Será que vou ser bom o suficiente?’ As vozes entram na cabeça. Então, a primeira vitória e você falar ‘ufa, eu estou aqui e o trabalho que fiz é o suficiente para ser competitivo e lutar pelo campeonato’. Foi um momento muito gratificante para mim”, cita.

Apesar do título da USF Juniors e com a bolsa suficiente para disputar a USF2000 em 2024, Nicolas manterá a postura de “vai ou racha” para o campeonato, já que a situação financeira ganhou um alívio, mas ainda não é necessariamente satisfatória ao brasileiro.

“Com certeza entro com a mesma cabeça. Eu não tenho muito esse luxo, até porque nosso dinheiro hoje vale cinco vezes menos que o dólar, então é muito difícil ter um segundo ano na categoria. O Road to Indy, que agora chama USF Pro Championships, tem um sistema de bolsa de estudo para o campeão, e eu dependo dessa bolsa. Essa bolsa dá mais ou menos 70% do valor do seu ano seguinte. Esse ano eu ganhei US$ 240 mil (R$ 1,21 milhão na cotação do dia). Na USF2000 eles dão US$ 440 mil (R$ 2,22 milhões) e na USF Pro eles dão US$ 660 mil (R$ 3,33 milhões). Então eu dependo desse dinheiro e minha cabeça tem de ser a mesma que tive esse ano”, conclui.

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