Kiko Porto brilhou no kart brasileiro e seguiu um caminho não linear ao fazer a transição aos monopostos. Agora, piloto pernambucano é #1 na fila para virar nova cara brasileira na Indy

POR QUE POWER É CANDIDATO REAL AO TÍTULO DA INDY EM 2022?

Kart, Europa, categorias de base e Fórmula 1. Parece um roteiro muito bem desenhado para qualquer garoto com o desejo de chegar ao pináculo do esporte a motor, como a imprensa europeia sempre destaca. Mas é por outro caminho, menos linear que o sonho da maioria dos jovens, que Kiko Porto, aos 18 anos, desenha a carreira.

O caminho de Kiko, como a maioria dos garotos, realmente começou no kart. Oriundo de Pernambuco, o piloto rapidamente ganhou holofotes no cenário nacional, inicialmente na região Nordeste, faturando títulos pernambucanos, paraibanos e alagoanos. Em 2016, na categoria Junior Menor, levou o Brasileiro.

“Eu comecei com oito anos de idade, na época, em 2011 mais precisamente, tinha acabado de fazer oito anos. Eu me lembro de pedir pro meu pai para ele me apresentar o povo do kart. Eu via um kart indoor que tinha perto do aeroporto de Recife e tinha muita curiosidade. Depois de insistir muito, ele até tentou ir lá, só que não tinha kart para crianças, e a única forma de ele me dar essa oportunidade de ter o primeiro contato foi com os karts profissionais. Ele me levou pela primeira vez e eu gostei muito. A partir disso, quando eu soube que aquilo era algo que eu poderia repetir várias vezes e fazer treinos semanais, depois começar a correr, eu não quis mais largar”, contou Porto ao GRANDE PREMIUM

“2016 eu lembro que era meu segundo ano na categoria Júnior menor e a gente estava, a cada etapa em 2015, conseguindo aprender mais, evoluir mais. Em 2016 a gente viu que era um ano para conquistar as coisas e muito trabalho, eu lembro que foi um dos anos mais trabalhosos e mais exaustivos de toda a minha carreira. Todo o fim de semana, semana eu estava na pista de corrida, então foi um ano que a gente falou ‘vamos ver o que que a gente consegue fazer dando o máximo’, não só de mim, porque eu acho que, pra tudo isso dar certo, foi muito mais além da minha dedicação, mas também das pessoas que estiveram comigo, desde o pessoal que me levava para às pistas, o pessoal da equipe, minha família, da cozinheira que ficava comigo no motorhome, então assim, foi um exército de pessoas com um propósito só”, relembrou.

Kiko Porto na USF2000 (Foto: Chris Bucher)

O sucesso no kart não parou por aí. Em 2017, venceu as tradicionais 500 Milhas de Kart da Granja Viana no time que também tinha nomes como Rubens Barrichello, Diego Nunes e Rafael Suzuki. Naquele mesmo ano, teve a oportunidade de disputar o Mundial de Kart na classe Academy, fechando o campeonato na terceira posição, com destaque para uma vitória na etapa final, disputada em Alahärmä, na Finlândia. Com a mudança de categorias da FIA, o dedo coçou e a mudança para os monopostos foi determinada para a temporada seguinte.

“Tive também a oportunidade de correr aqui nos Estados Unidos e na Europa na época de kart, que me deu uma experiência absurda e quando chegou em 2017, final do ano, a gente estava com um plano de em 2018 fazer um ano inteiro de campeonato europeu de kart, mas logo naquele ano tinha mudado um pouco o esquema de idade com as categorias. Eu ia ser obrigado a correr na categoria principal, sem ser na Junior. Aquilo meio que me forçaria a ter um ano de aprendizado pra no segundo conquistar títulos. A partir disso a gente tomou a decisão de migrar pros monopostos”, seguiu.

Porto poderia seguir o caminho de companheiros de grid como o holandês Tijmen van der Helm e o peruano Matias Zagazeta, que hoje se aventuram nas categorias de base europeias com o desejo de chegar na Fórmula 1, mas uma diferente porta se abriu para o pernambucano: o mercado norte-americano.

Pela Scuderia Martiga EG, Kiko partiu ao México para disputar as provas finais da temporada 2017-18 da F4 Nacam. Mesmo chegando no meio da temporada e em grid com pilotos como Igor Fraga, que eventualmente chegou na Fórmula 3, Porto terminou a temporada na 9ª colocação, com 50 pontos. Como destaque, dois pódios na rodada tripla final do campeonato, disputada no tradicional autódromo Hermanos Rodríguez, na Cidade do México.

Kiko Porto venceu em St. Pete em 2020 Foto: USF2000)

O desejo pela Europa até existiu, mas para 2019, Porto fechou com a DEForce Racing para disputar a temporada da F4 Americana. O orçamento para competir no campeonato equivalia a 60% do que seria necessário para disputar a versão italiana ou alemã da F4, reconhecidas mundialmente como as principais edições nacionais do certame.

“Sempre tive o gosto e a vontade de ir pra Europa, principalmente quando a gente é piloto de kart. Mas depois, graças a Deus eu consegui entender muito bem isso, até foi uma decisão tomada entre eu, meu pai e o próprio Beto Monteiro na época. A gente vai pra uma Europa, talvez consiga o budget suficiente pra fazer dois anos de F4. Mas depois a gente tem um caminho, F3, F2, Formula Renault, seria até meio sem sentido a gente apostar num lugar que a gente saberia que uma hora teria um limite”, contou Kiko.

O ano de F4 americana foi forte, com vitórias em Road Atlanta, Pittsburgh e Mid-Ohio. Porto finalizou a temporada com 220 pontos e o vice-campeonato, atrás apenas do australiano Joshua Car. A DEForce Racing manteve o pernambucano para o ano seguinte, mas agora em um palco diferente: a USF2000, o primeiro degrau da escada do Road to Indy.

“Acho que a gente fez uma decisão muito boa, que a gente não saberia que seria tão benéfica no futuro. Acabei de voltar agora de Indianápolis, estava na Indy 500, e quando você vê o que o automobilismo americano está se tornando, é impressionante. Quem não tem noção, se vai para uma Indy 500 começa a entender um pouco o que é o automobilismo americano e o que ele tende a crescer ainda mais. Eu acho que estar tendo essa oportunidade de estar na Road to Indy, que é logo duas categorias abaixo da Indy, é muito gratificante”, detalhou.

Kiko Porto brilhou na temporada de novato (Foto: USF2000)

Apesar da chance, Porto teve um 2020 de dificuldades por conta da pandemia de Covid-19. O campeonato não começou em abril, como previsto, com etapas canceladas e tendo início marcado para julho, em Road America, corrida que Kiko acabou perdendo por dificuldades em tirar o visto americano. Também foi forçado a perder a etapa de Nova Jérsei, em outubro, ao ser infectado pelo coronavírus.

“Aquele ano foi bem difícil pra gente. A gente sabia que seria um ano de adaptação e principalmente de aprendizado, mas acho que o pior de tudo foi a gente não ter conseguido uma oportunidade de fazer tantas corridas. Faltaram duas etapas do que eram cinco corridas. Então assim, além do fator de não conseguir estar encaixando, mas que em um ano de estreia é normal isso, estava em uma situação de não conseguir praticar aquilo que a gente queria aprender para o próximo ano. Então isso foi bem difícil, era preocupante”, descreveu.

O ano de dificuldades terminou em um bom indicativo do que viria pela frente. Nas ruas de São Petersburgo, na Flórida, venceu a corrida 1 e foi ao pódio na corrida 2. Os resultados foram suficientes para o pernambucano terminar no top-10 do campeonato, mesmo ausente em 5 das 17 provas do campeonato.

“Mas acho que depois que acabou o ano e eles começaram a se estabilizar, a gente conseguiu retomar bastante os treinos para tentar compensar um pouco essa perda de experiência que a gente não teve oportunidade que queríamos em 2020. Então foi um ano difícil. Me lembro que foi um ano que mexeu bem comigo, mas é algo que me ajudou a me manter motivado”, contou.

O brasileiro Kiko Porto foi o campeão da temporada 2021 da USF2000 norte-americana (Foto: USF2000)

“Eu acho que eu sempre levo um pouco os dias difíceis como minha gasolina para continuar. Lógico que a gente pós corrida fica triste, tudo mais, mas eu acho que desde a época de kart, depois de tantas derrotas, eu sempre tive um lado meu de entender o que foi que faltou e usar isso como uma forma de energia para frente. Acho que foi isso que me fez chegar com tanto gás em 2021, com tanta vontade de vencer e trabalhando igual um louco para conseguir aquele campeonato”, seguiu.

Em 2021, Porto se manteve na DEForce Racing, e agora como um candidato ao título. A primeira vitória no ano até demorou a aparecer, surgindo apenas na corrida 3 de Indianápolis, na 7ª prova do ano, mas a arrancada no meio do campeonato, com triunfos em Road America, Mid-Ohio e New Jersey, deixou o piloto em evidência, e os tropeços dos adversários só facilitaram o título, com 413 pontos, 48 de distância para o vice Michael d’Orlando.

“Eu sou um cara que meu maior inimigo sou eu mesmo, eu gosto de me desafiar a estar no limite. Aquele ano eu acho que cada um que passava em corrida, em geral, sempre veio me desafiando mais. Depois de 2020, que tinha sido um ano difícil, eu percebi que às vezes a gente passa por situações que a gente tenta procurar uma resposta e não acha, 2020 foi muito isso para mim. A gente olhava uma telemetria, olhava um vídeo, não conseguia ver muito erro, mas chegava na classificação tinha uma situação que acontecia, um erro de pressão de pneu, e você ficava tentando achar o final da interrogação e nunca tinha uma resposta. Continuando o trabalho que a gente vinha fazendo em 2020, eu percebi que quando é para ser é para ser”, falou sobre a reviravolta.

Kiko Porto celebra pole-position em Elkhart Lake (Foto; DEForce Racing)

“Agora, você não pode é realmente pegar esses momentos difíceis e transformar em algo que te bote para baixo. Acho que isso é o principal desafio. Em 2021, consegui esse título para o Brasil, para todos aqueles que estiveram ao meu lado, foi algo maravilhoso, mas que, por mais que a felicidade fosse muito grande, foi algo de ‘eu só ganhei isso porque eu me esforcei muito’, voltando àquele sentimento que eu tinha em 2016 com o brasileiro de kart. Então, se no ano passado eu estava focado, pode ter certeza que esse ano eu estou duas vezes mais porque a gente está vendo que o resultado vem com muito suor. Então foi um ano muito, muito importante para mim, que eu vou lembrar para o resto da volta”, concluiu.

Com a bolsa de premiação da USF2000, se manteve na DEForce Racing e deu o passo de subir para a Pro 2000, o degrau intermediário do Road to Indy. O 2022 não é tão brilhante quanto 2021 até aqui, com o brasileiro ainda não indo ao pódio, mas completando 8 das 10 corridas disputadas no top-10, o que o coloca em nono no campeonato. Ele mantém a calma sobre os resultados e uma possível promoção a Indy Lights em 2023.

“Não tenho dúvidas que a gente uma hora vai conseguir encaixar, que momentos difíceis vêm, mas que está me fazendo crescer muito como piloto e como pessoa. Não está fazendo, de forma nenhuma, algo que está me distanciando com a equipe, pelo contrário, a gente está muito ligado vendo o que conseguimos melhorar. É trabalhar. Eu acho que já entendi um tempo atrás que estes momentos chegam, mas que é trabalhando que a gente consegue conquistar as coisas”, detalhou.

“Para o ano que vem, tudo depende um pouco mais de patrocínio, a gente sabe que não é fácil, que a vida de piloto é sempre muito no limite. Não está barato, a Indy Lights a equipe mais barata é cerca de US$1 milhão. Esse ano eu estou tendo o apoio da Road to Indy graças ao campeonato do ano passado, mas no ano que vem, caso não consiga ser campeão, a história muda. É sempre muito difícil conquistar e conseguir se manter nisso que a gente ama, porque é sempre muito caro”, revelou.

A Indy tem uma forte tradição no Brasil por seus vários campeões ao longo da história, como Emerson Fittipaldi, Gil de Ferran, Helio Castroneves e Tony Kanaan. Outros pilotos como Christian Fittipaldi, Roberto Pupo Moreno, Maurício Gugelmin também fizeram carreiras boas pela categoria, mas os brasileiros perderam espaço ao longo da década de 2010. No período entre 2013 e 2022, por exemplo, apenas Pietro Fittipaldi e Matheus Leist estrearam na Indy, mas rapidamente perderam espaço e optaram por outros rumos.

Matheus Leist teve passagem curta na Indy (Foto: Indycar)

Porém, a categoria parece voltar a estar na mira dos fãs brasileiros, especialmente com a forte adesão de pilotos europeus que estiveram na Fórmula 1, como nos casos de Marcus Ericsson e Romain Grosjean, além de promessas que optaram pela transição aos Estados Unidos por não enxergar grande futuro na Europa, como Callum Ilott e Christian Lundgaard.

Com Castroneves e Kanaan acima dos 45 anos, Porto não vê pressão por potencialmente ser o próximo brasileiro da Indy, e vê a categoria com a chave virada nos anos mais recentes.

“Para mim, isso nunca foi um peso e acho que nunca vai ser. Mas vai ser algo muito mais de tomar coragem para conseguir seguir em frente. Na época do próprio Tony com o próprio campeonato, o Helinho quando foi campeão da Indy 500, o Gil de Ferran em 2003 quando foi também, a gente via muito isso”, contou.

“Mas acho que isso também se dá porque naquela época a gente tinha uma conversa muito boa entre os pilotos da Fórmula 1 e da Indy. A gente pode lembrar que o Emerson ganhou na Indy depois de ter saído da Fórmula 1, o próprio Ayrton [Senna] testou na Indy, tinha uma relação um pouco mais próxima. Eu acho que depois da época de 2005, por aí, a Indy, principalmente com os problemas que teve quando se dividiu em duas categorias, ela ficou mais distante da Europa, e eu acho que isso acabou afastando não só o pessoal, os pilotos a irem para lá, mas o público em si”, opinou.

O sentimento de Kiko é de uma Indy cada vez mais atrativa e chamativa para patrocinadores, pilotos e fãs. E sua experiência de espectador das 500 Milhas de Indianápolis, vencida pelo sueco Marcus Ericsson, foi uma demonstração.

“A gente consegue ver a galera olhando para a Indy, não só pilotos, fãs, mas montadoras, patrocinadores. A gente tem que lembrar que a McLaren comprou a Arrow [Schmidt Peterson] três anos atrás e foi vice-campeã das 500 Milhas de Indianápolis. Inclusive, tem uma curiosidade, teve o GP de Mônaco na Fórmula 1, um GP muito importante, e o Zak Brown, o responsável da McLaren, estava na Indy 500 e não na Fórmula 1. Por algum motivo é”, lembrou.

“Eu acho que a Indy tem um formato hoje que, pros fãs está ficando bem legal, para os patrocinadores está ficando bem legal. Este quesito do carro ser igual, a parte aerodinâmica para todo mundo, que eles implementaram desde 2012 tem dado muito certo e a gente está vendo que a Fórmula 1 tem andado para esse lado. A gente vê que os carros, por mais que tenha diferença de cada fabricante, os carros estão ficando muito mais similares um do outro”, completou.

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