Quando crianças, queremos ser tudo. Mas há exceções. O jovem sorocabano Murilo Rocha tem apenas uma única meta traçada para seu futuro: ser piloto profissional. Com 13 anos recém-completados, ele já começou a pavimentar esse caminho e, ao GRANDE PREMIUM, mostrou que é possível sonhar — e está se preparando para realizar

12 de outubro, Dia das Crianças. É uma data que faz lembrar daquilo que é um clichê, mas todos se questionam quando pequenos: o que quero ser quando crescer? Bom, esta jornalista que aqui escreve queria ser tudo. Ora bailarina, depois astronauta, professora e até cantora. Acabou que não me tornei nenhuma delas, apaixonada que fiquei pelo universo do jornalismo. Mas, por outro lado, ainda tenho curiosidade em descobrir o que muitos gostariam de fazer quando adultos. E foi o que questionei ao Murilo Rocha, jovem brasileiro de apenas 13 anos recém-completados, que respondeu ao GRANDE PREMIUM sem hesitar.

“Piloto. Desde pequeno, sempre sonhei em ser piloto”, diz ele, em frente a uma estante com troféus e capacetes. Inclusive, a história do garoto começou após um vídeo viralizar sobre a rifa de um capacete réplica do heptacampeão da Fórmula 1, Lewis Hamilton. Mas a gente ainda vai chegar lá.

Agora, é hora de contar como o jovem Murilo se apaixonou por automobilismo. Seu pai, Mauro, era dono de uma equipe na categoria de kartismo F200, que fez bastante sucesso nas décadas de 1980 e 1990 por usar karts com marchas populares. Mais tarde, ele mudou para a área de aviação, mas deu jeito de seu filho se interessar por correr mesmo depois de já ter mudado os ares. 

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Murilo Rocha tem apenas 13 anos (Foto: Murilo Rocha/arquivo pessoal)

“Antes de eu nascer, meu pai tinha a equipe de F200 e trabalhava com automobilismo. Quando nasci, ele já tinha parado. Só estava com alguns pilotos que treinavam, mas já tinha ido para o ramo da aviação. Uma vez, num certo dia, fui na oficina dele, e ele ligou o kart de um piloto que competia ainda e me apaixonei pelo som do kart. Aí, perguntei pra ele se eu um dia eu poderia andar”, explica. 

Foi depois desse pedido que Mauro levou o rebento a um kartódromo. A primeira acelerada de Murilo aconteceu em Itu, onde ele treina até hoje. No entanto, antes de sua estreia, já teve seu primeiro desafio: convencer o dono do circuito de que estava pronto para fazer aquilo. 

“Meu pai me levou na pista, no kartódromo em Itu, onde eu treino hoje, e ele falou para eu falar com o dono da pista, para ver se eu poderia andar. Eu fui, perguntei e ele falou que deixaria se eu conseguisse funcionar meu kart sem nenhuma ajuda. Eu consegui e gostei. Depois disso, meu pai deu uma segurada, mas eu disse que queria competir. Aí, ele me colocou na Copa Itu. Em 2017, comecei a correr federado pela FASP [Federação de Automobilismo de São Paulo], no Kartódromo da Granja Viana e na Copa São Paulo. E estou até hoje na categoria júnior”, continua. 

De lá para cá, o jovem sorocabano somou conquistas. Foi campeão da Copa KGV, pela categoria cadete, e também conquistou o título da Copa Rotax, pela classe Micro Max, ambas em 2019. Também terminou com o vice da Copa Rotax Micro Max, em 2018, e no Campeonato Brasileiro de Rotax Micro Max, no ano seguinte. Murilo, inclusive, já participou de torneios internacionais. Aos nove anos, foi um dos destaques do Rotax Max Challenge International Trophy, em Le Mans. Nesse mesmo ano, competiu em Lonato, na Itália, pelo 48º Trofeo delle Industrie.

Murilo e seu pai, Mauro Rocha (Foto: Murilo Rocha/arquivo pessoal)

Tudo isso aconteceu muito rápido, desde o momento em que iniciou sua carreira profissional. Assim, torna-se fundamental entender como é a rotina. Afinal, como conciliar a escola, os estudos, os treinos e as corridas? E, detalhe: tudo isso com apenas 13 anos? 

“Eu estudo no período da manhã. Quando eu estou em semana de corrida, falto quarta, quinta e sexta-feira, que são os dias das competições. Procuro levar as tarefas para o hotel. Às vezes, quando é uma semana de prova, eu estudo no hotel pra saber o conteúdo. É bem corrido. Escola, treinos, academia… tento conciliar tudo. Nos tempos vagos, tento estudar para as provas”, comenta. 

Quem acompanha e gerencia a agenda de Murilo é a mãe, Gislaine. À reportagem, esmiuçou como a rotina da família é pesada, mas garante: nunca se arrependeu por isso. Também é uma história para logo mais. 

Depois de saber um pouco sobre os pais, resta saber da relação com o resto da criançada da família. Ele logo responde que é filho único, mas acrescenta que, para manter sua família mais perto nesta trajetória, tem um primo que sempre o acompanhou nas competições, Lucas. Murilo conta sobre ele com carinho. 

“Sou filho único, mas tenho um irmão que é meu primo Lucas. Me acompanhou quando comecei, ele tem 18 anos. Todo campeonato que fazia, ele ia junto. Hoje não tanto porque ele trabalha de sábado, tem vezes que coincide com a minha corrida, então ele não consegue assistir. Mas quando ele não trabalhava, assistia todas”, lembra.

Uma vez acelerando, é verdade que um piloto ganha outra família: a do próprio automobilismo. Aqueles acostumados com a velocidade e que conhecem os percalços também tentam dar esperanças aos mais novos. Djalma Fogaça, conhecido pela trajetória na Fórmula Ford e temporadas na Copa Truck, propôs uma ajuda ao garoto. Ofereceu um de seus famosos macacões para que Murilo pudesse rifá-lo e arcar com os custos do Campeonato Brasileiro de Kart, nas classes Júnior e OK Júnior.

E este é o momento de contar a história do capacete — até porque foi a partir disso que Fogaça teve a ideia de oferecer seu macacão para também ajudá-lo. Recentemente, Murilo ficou popular nas redes sociais por promover um leilão de um capacete réplica de Lewis Hamilton. Era também uma forma de arrecadar dinheiro para a competição que acontece entre os dias 31 de outubro e 5 de novembro.

Ele viralizou nas redes após rifar um capacete réplica de Lewis Hamilton (Foto: Murilo Rocha/Instagram)

“Ele [Fogaça] ficou sabendo da rifa daquele capacete [aponta para a estante, onde tem um roxo, idêntico ao de Hamilton], da história, e disse que ia me dar o macacão para eu fazer o sorteio dele. O que eu conseguisse arrecadar, era para eu ficar para me ajudar a correr no brasileiro. Mas foi atitude dele, porque ele assistiu à minha matéria e pegou um macacão clássico da Ford para eu rifar e juntar uma grana, que é para o final do ano”, revela.

Aproveito, então, para questioná-lo sobre ídolos no esporte, e ele responde de prontidão o nome do icônico #44 da F1. Murilo já foi vítima de ataques por defender o heptacampeão, contudo reitera que o forte e importante posicionamento do inglês contra o racismo é o que o faz ganhar sua admiração. E, sobretudo, por ser uma ponte para que jovens pilotos negros possam chegar às categorias de peso. 

“Meu maior ídolo é o Lewis Hamilton. Acho ele um ‘pilotão’, não só pelo que ele faz na pista, mas por se posicionar contra o racismo. Mas também gosto de outros pilotos brasileiros, como o Fabinho Fogaça, o Djalma, Gaetano Di Mauro, e outros que admiro também”, comenta ele. 

Só que para não deixar o objetivo apenas no papel, os caminhos são difíceis. Já na reta final da entrevista, é hora de abordar sua grande meta no futuro. E o discernimento do menino de apenas 13 anos impressiona. “Meu objetivo é conquistar o brasileiro de kart no final do ano, que é o campeonato mais importante para mim”.

Em seguida, a conversa é sobre prós e contras sobre a vida como piloto profissional. Mais uma vez, Murilo tem a resposta na ponta da língua, como um competidor já experiente. Afinal, é extremamente preparado para isso. “O que eu mais gosto é que é um esporte muito técnico, exige muita concentração. E a parte mais difícil é o foco. Um erro que você comete, perde muitas posições. Precisa sempre ser muito centrado”, finaliza.

Seguindo a definição fria do dicionário, sonhar é acumular fantasias que se apresentam à mente durante o sono. Mas, mesmo com as milhares de possibilidades, Murilo sabe sonhar com os pés no chão. É como se tivesse uma consciência que soubesse que é preciso dar passos pequenos, mesmo que o inconsciente seja responsável pela imaginação. 

Uma maturidade e talento surpreendentes para um garoto de apenas 13 anos, do interior de São Paulo, que não deixa a cabeça nas nuvens, mas que dá tudo o que tem para transformar a meta numa feliz realidade. E fazer de um sonho de criança a realização de uma família.

Murilo vai participar do Campeonato Brasileiro de Kart (Foto: Murilo Rocha/arquivo pessoal)

Empresária, gestora, mãe: Gislaine percorre caminho ao lado de Murilo

Dizem que alguns pais projetam os sonhos nos filhos. Embora Gislaine Rocha não desejasse exatamente que Murilo seguisse o caminho das pistas lá no início da trajetória, quando a escolha por ser piloto foi feita, a mãe não mediu esforços. E, hoje, é a maior responsável por delinear um futuro mais brando para que ele alcance suas metas. 

“Confesso que não esperava que fosse pro ramo do automobilismo. Quando ele era bem pequeno, mostrou o desejo por moto. Eu fiquei desesperada. Meu marido, quando era mais novo, competiu de motocross, e eu disse que, se o Murilo quisesse correr, eu preferia que fosse no kart. Sei que existe o risco, como em qualquer esporte, mas acho que é menos perigoso”, diz ela, enquanto Murilo, ao fundo, acrescenta que ainda gosta também do mundo das motos.

Não pensava que seria nas pistas, mas a mãe do jovem piloto sempre quis o filho se envolvesse com esporte. Gislaine conta que, além de seu marido ter uma relação com o automobilismo, ela também jogava basquete. E, quando se casou, os dois amavam percorrer longos caminhos de bicicleta.

“O pai do Murilo não tinha mais a equipe de F200 quando ele nasceu. Ele tinha dois pilotos que treinavam esporadicamente, aos finais de semana. O Murilo acompanhava e, quando pediu para andar, meu marido não deu muita atenção. Quando ele chegou em casa, disse que queria andar no kart e tal, e tinha uma pessoa que tinha um dívida com meu marido e deu como pagamento um kart usado para o Murilo. Tanto que o primeiro contato dele não foi em Itu, foi na rua da minha casa, que é sem saída. Aí, amarramos uma corda no para-choque e ele foi. E aí começou o desejo dele pelo kart. Eu fui jogadora de basquete e, depois, quando o Murilo nasceu, comecei a andar de bicicleta. Achei que ele ia seguir meus passos, do pai dele, porque a gente estava pedalando pra caramba. Por fim, decidiu ir pro kart e está até hoje”, comenta. 

Já mostra que, com absoluta certeza, não há arrependimentos. Como uma mãe orgulhosa, enfatiza o potencial do filho.

Murilo, seu pai e sua mãe (Foto: Murilo Rocha/arquivo pessoal)

“Ele tem o talento, tem o dom. É um esporte ingrato e caro, sempre foi visado como esporte de rico. Não vejo mais por esse lado. Acho que o kart envolve hoje todas as classes sociais, tem muitos pais que fazem de tudo para dar esse suporte para o filho, para tentar realizar o sonho do filho. A gente vê essa luta diária, a minha e a dos outros”, reconhece.

Só que há sacrifícios. Muitos, inclusive. Gislaine deixou de trabalhar fora para gerenciar a carreira de Murilo. E não é fácil. A rotina dela é também apertada, já que precisa fazer todo o trabalho de bastidores: logística, agenda e administrar tudo isso junto.

“Eu sempre trabalhei fora. Trabalhava no ramo imobiliário, sou formada em contabilidade. No meu último ano, acho que faz três anos, meu marido falou que não tinha como acompanhar o Murilo nos treinos e, por isso, ele falou para eu ficar em casa e fazer toda a correria com ele. Eu corro atrás de tudo, trabalho, para poder suprir as despesas do kart. Então, é corrido, eu faço tudo por ele. A gente tem um cronograma na semana: ele estuda de manhã, tem um horário reservado para fazer as tarefas e trabalhos de escola, academia com personal trainer. Também fazia natação, mas a gente optou por cortar porque a semana dele estava muito sobrecarregada”, explica.

“O kart, nessa nova categoria que ele está, requer mais treinos. Eu sou de Sorocaba. São 112 km para ir para São Paulo. Eu vou de duas a três vezes por semana, então é muito cansativo, desgastante. Acabei abrindo mão do meu trabalho para dar esse suporte. Mas não me arrependo. Eu sei do potencial, do talento e faria de novo. Vou dar sequência, sempre vou estar à disposição para ajudá-lo e apoiá-lo”, acrescenta.

E há um alto preço a pagar — literalmente falando. Um dos maiores empecilhos, de qualquer esporte, é a questão financeira. Sem dinheiro e apoio é ainda mais complicado. Ela me conta como os pais de outros pilotos mirins também fazem o mundo quase virar de cabeça para baixo pelos filhos.

“O kart, ao invés de flexibilizar os preços, pelo contrário, eles só sobem. Isso dificulta muito pra muita gente. A parte financeira é o essencial, antigamente mais pessoas tinham um poder aquisitivo melhor e que davam de tudo para seguir na carreira”, analisa.

Gislaine contou que a rotina da família é bem apertada por conta dos treinos e competições (Foto: Murilo Rocha/arquivo pessoal)

Mas com muito esforço a família Rocha se mantém firme para receber a grande recompensa lá no final. De pouco em pouco, Murilo vai traçando seu caminho, nas pistas e fora delas. E por isso Gislaine se permite sonhar ao lado dele. 

Quero que ele vá até a Fórmula 1!“, responde, com um sorriso no rosto, quando questionada onde vê seu filho daqui a alguns anos. “Acho que a gente sonha junto com o filho. E poder vê-lo numa Fórmula 1 seria um orgulho pra mim, e para o país ter um representante brasileiro lá, que é o que a gente mais quer no momento. Impossível não é, mas a gente sabe que a estrada é difícil. Vamos continuar trabalhando, sempre na humildade, honestidade, caminhando certinho para ele chegar lá. Existe um caminho, kart, F4, F3, F2 até chegar na F1. Se for da vontade de Deus, assim vai ser”.

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