No capítulo de hoje da série RUMO À GLÓRIA, o GRANDE PREMIUM traz a história de Bruna Tomaselli, a única brasileira no grid da W Series. Aos 24 anos, a catarinense de Caibi acumula passagens por F4 Sul-Americana, USF 2000 e mira um terceiro ano na W Series, uma categoria destinada ao desenvolvimento de pilotas

O sonho do esporte a motor não é exclusividade deles. Mesmo que ainda estejam em menor quantidade, pouco a pouco as mulheres vão ganhando espaço em um mundo que sempre foi dominado por homens e quebrando barreiras que outrora pareciam intransponíveis.

Seja em duas ou quatro rodas, as mulheres são cada vez mais presentes na cena do esporte a motor e, no caso do automobilismo, a W Series aparece como um ponto fora da curva, já que é uma categoria destinada apenas para elas. Um grid de 19 pilotas, todas com o mesmo carro — o Tatuus F3 T-318, a mais recente especificação da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para a Fórmula 3 —, criado para dar oportunidades para meninas que querem avançar na carreira.

Bruna Tomaselli é a única representante brasileira na W Series (Foto: Divulgação)

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Única brasileira presente no grid da W Series, a catarinense Bruna Tomaselli conheceu o mundo do motor ainda na infância, de brincadeira, mas logo passou a levar o esporte a sério.

“Eu comecei a correr quando tinha sete anos. Ninguém na minha família era piloto ou algo assim, mas sempre gostei de carros, corrida, velocidade”, conta Bruna ao GRANDE PREMIUM. “Quando tinha sete anos, eu e meu pai fomos assistir a uma corrida de kart numa cidade próxima de Santa Catarina e, uns dias depois, meu pai falou que ia me dar um kart de presente. Era tudo na brincadeira, mas foi assim que eu comecei”, segue.

“Comecei em provas pequenas aqui na minha região e, conforme o tempo foi passando, comecei a treinar mais, participar de campeonatos maiores. Foi assim que começou”, indica.

Questionada pelo GP* sobre qual recordação guardou da primeira experiência dentro de um kart, Tomaselli respondeu: “Eu lembro da primeira vez que andei. Lembro que dei algumas voltas num kart que tinha lá. A minha primeira corrida foi em São Miguel do Oeste, que fica no oeste de Santa Catarina, lembro que fiquei em terceiro. Tinha uns 15 ou 20 pilotos participando e, por ter sido minha primeira corrida, acho que foi um resultado bem bom. São as primeiras lembranças que tenho”.

Diferente do que acontece com muitas meninas — e meninos também —, a família foi um ponto de apoio e sempre incentivou Bruna no caminho do esporte.

“Minha família sempre me apoiou, tanto que meus pais me deram meu primeiro kart. Família e amigos sempre me apoiaram. No começo, quase toda minha família ia nos treinos, assistir às corridas, porque era mais próximo. Agora, como as corridas são longe, eles sempre torcem, mandam mensagem me apoiando. Sempre tive esse apoio”, destaca.

Bruna ficou nas competições de kart até os 15 anos e, depois, foi para a F4 Sul-Americana. Em 2015, a catarinense de Caibi conquistou 120 pontos e fechou o campeonato na sétima posição. No ano seguinte, com cinco pódios, avançou para a quarta colocação, o melhor resultado dela na categoria. Depois de duas temporadas de ausência na classe, Tomaselli voltou à F4 Sul-Americana em 2018 e ficou com a quinta posição no campeonato.

“Antes da F4, eu fui para a Fórmula Júnior. Fiz dois anos de Fórmula Júnior e depois fui pra F4 Sul-Americana. Teve todo o processo de adaptação, a gente anda de kart e tem a base do esporte, mas quando a gente começa a competir com carros de fórmula é algo totalmente diferente”, sublinha Tomaselli. “As reações são outras, o tamanho do carro é outro, o motor é diferente. Claro que tive todo o tempo de adaptação, mas depois que entendi como tudo funcionava deu tudo certo. São coisas diferentes, mas acho que me adaptei bem”, opina.

“Na Fórmula Júnior, as corridas eram no Rio Grande do Sul. Eram carros bem básicos, para quem realmente estava saindo kart, começando no automobilismo. Eram carros mais antigos, então ajudou a aprender como tudo funciona”, pondera.

Bruna Tomaselli começou no kart na infância (Foto: Divulgação)

Da Fórmula 4, Bruna partiu para os Estados Unidos, onde disputou a USF2000, uma das categorias de base da Indy. Categoria que, aliás, segue sendo uma possibilidade para o futuro, como revela ao GRANDE PREMIUM.

“Eu competi três anos na USF2000. Foram anos de bastante aprendizado porque correr no mesmo fim de semana da Fórmula Indy é algo bem bacana, consegui aprender bastante no meu último ano em que competi pela Pabst Racing, que é uma equipe muito competitiva, estava sempre ali brigando na frente. Aprendi muito com os circuitos de rua, os ovais. Era bem diferente”, comenta Bruna, que foi 16º em 2018 e oitava em 2019 na USF2000. “Acho que agora estou focada na W Series para tentar me manter mais um ano lá, mas com certeza pode ser uma oportunidade para o futuro”, avalia.

Mesmo correndo no exterior, a pilota de 24 anos segue vivendo na cidade natal, o que exige uma rotina de viagens.

“Eu moro em Caibi, Santa Catarina, e toda vez que eu preciso ir treinar ou correr, eu vou. Claro que, por conta da pandemia, foi mais difícil voltar para casa. Eu tive que ficar um mês e meio na Europa. Esse ano também, algumas corridas foram próximas, então tive de ficar umas duas semanas lá. Mas o intervalo entre as corridas é grande, às vezes duas semanas, um mês, então eu consigo voltar para casa”, relata.

Nas viagens, contudo, Tomaselli vai sozinha.

“Meu pai foi para duas corridas esse ano, Barcelona e França, mas eu vou sozinha para as outras”, explica.

A entrada na W Series aconteceu na temporada 2020, justamente quando os campeonatos foram impactados pela pandemia de Covid-19. Por conta disso, a série destinada às pilotas se manteve ativa por meio de competições virtuais, e Bruna aproveitou para disputar o campeonato nacional de Endurance.

“Naquele ano a gente teve a W Series Virtual, que ajudou mais para ter contato mesmo com o pessoal da categoria”, fala Bruna. “Naquele ano eu fiz algumas etapas do Campeonato de Endurance brasileiro, que é um carro um pouco diferente, mas era um motor de Fórmula 3, então ajudou a me manter preparada e na ativa. Como eram provas de grupo e longa duração, eram quatro horas, éramos em três pilotos, eu fazia duas horas de corrida, então tinha bastante tempo de pista”, continua.

Perguntada sobre qual a avaliação que faz sobre esses quase dois anos de participação na categoria e do que mais gosta na W Series, Tomaselli respondeu: “Esse vai ser meu segundo ano. Acho que gosto de tudo. Ano passado foi de bastante aprendizagem, esse ano também. É uma oportunidade única poder competir com outras meninas na única categoria da história em que o grid é 100% feminino”.

“Todo o objetivo da categoria em mostrar para o mundo nossa capacidade e também estar correndo com a Fórmula 1, em circuitos que nem imaginei que iria correr um dia. Então, é uma oportunidade única, busco sempre aprender o máximo, dar o melhor de mim”, comenta. “Toda vez que vou para a corrida, eu vou me preparando em casa, treinando em qualquer lugar para poder estar sempre 100% no fim de semana de corrida. A gente tem mais quatro etapas ainda esse ano, objetivo é pontuar o máximo possível para me manter na W Series no ano que vem”, explica.

Bruna destaca, também, que além de dar oportunidade para as pilotas, a W Series também é uma porta de entrada para outras mulheres, como engenheiras, mecânicas e etc.

Bruna Tomaselli disputou o Campeonato de Endurance brasileiro para se manter ativa na pandemia (Foto: Divulgação)

“A iniciativa é incrível. Acho que a gente devia ter mais iniciativas assim. Claro que é um processo que não é tão rápido. Mas ter a W Series para outras pilotos sonharem em correr, ou mulheres que querem ser engenheiras, mecânicas, ou que só gostam do esporte, que gostam de assistir outras mulheres competindo”, defende. “Acho que a W Series está fazendo muito bem esse papel. Acho que com a W Series as mulheres estão se sentindo cada vez mais representadas”, opina.

Indagada pelo GRANDE PREMIUM sobre qual o objetivo para o futuro profissional, Bruna respondeu: “Meu sonho desde pequena sempre foi chegar na Fórmula 1, mas claro que é um sonho de todo piloto. Hoje sei de todas as dificuldades, tem várias coisas que envolvem tudo isso. Não posso dizer nada agora porque há muitas coisas que envolvem questão de patrocínio, mas com certeza meu objetivo, depois da W Series, é viver profissionalmente do automobilismo, acredito que vou estar realizada”.

No mundo atual, a questão da representatividade é cada vez mais presente nas conversas, mas Bruna cresceu em uma época em que não era tão comum ver mulheres correndo. Mesmo assim, Tomaselli cresceu tendo como inspiração Danica Patrick, que conquistou pódios, poles e venceu um GP na Indy, além de ter competido também na Nascar. No Brasil, Bia Figueiredo foi outra fonte de inspiração.

“Eu sempre me inspirei muito na Danica Patrick, Bia Figueiredo, que eram mulheres que estavam no auge da carreira quando eu comecei a correr. Tatiana Calderón também, que chegou até a Fórmula 2”, lista. “Mas o fato de ter poucas mulheres quando comecei não impediu nada para mim. Sabia que tinha poucas, e claro que agora a gente vê mais mulheres, mas quando comecei não eram tantas assim. Mas nunca mudou nada no meu pensamento em ser piloto. Sempre me inspirei muito nelas, sempre desejei e desejo que tenha mais mulheres, gosto de ver tudo isso que está acontecendo com essas iniciativas. Acho que com tempo teremos cada vez mais”, prevê.

Bruna citou, também, que Ayrton Senna sempre foi uma inspiração, mas, fora do esporte a motor, a jogadora de futebol Marta também foi uma influência.

“Acho que no automobilismo principalmente o Senna. Acho que todo o brasileiro o tem como inspiração, pela pessoa que ele era. Entre mulheres, Bia Figueiredo e Danica Patrick sempre me inspiraram bastante. Outra mulher que me inspira bastante fora do automobilismo é a jogadora Marta, por toda a história dela e por ser a melhor das melhores no esporte dela. Por tudo o que ela passou e enfrentou para poder ser o que ela é hoje, é uma atleta que me inspira bastante”, conta.

Ainda, Tomaselli destacou que se orgulha da oportunidade de representar o Brasil e a América do Sul no exterior.

“Me sinto orgulhosa por isso. Claro que é um desafio representar o Brasil na W Series sendo a única brasileira e sul-americana na categoria, é um desafio. Mas não vejo isso como uma pressão ruim, eu estou sempre buscando dar meu melhor e poder deixar meu nome na história dessa categoria. A gente tem brasileiros em várias categorias, então espero deixar minha marca na W Series também. Nossa marca”, fala.

Bruna Tomaselli mira um terceiro ano na W Series (Foto: Divulgação)

Bruna defendeu, também, que a iniciativa da W Series não é apenas em busca de mídia, mas uma oportunidade para mulheres em todos os segmentos.

“Não é só mídia, lá dentro a gente vê bastante inclusão. Não são só as pilotos, não são só 20 meninas, a gente tem mecânica, engenheira, outras meninas que trabalham nas equipes. Acho que não só em relação ao gênero, mas a diversidade como um todo. A Jenner Racing, por exemplo, tem uma equipe na W Series. Então vejo, sim, tudo isso acontecendo no paddock”, relata.

Por fim, questionada pelo GP* sobre o que diria para as meninas que sonham em ser pilotas, engenheiras e mecânicas, Bruna respondeu: “Tem que continuar tentando. Assim como qualquer esporte, tem dificuldades. Não é só querer, precisa trabalhar bastante, treinar bastante, se dedicar bastante. Mas vale a pena. Acho que tudo tem uma recompensa. Se você tem certeza que é isso que você quer fazer, não pode desistir. Um dia, quando você estiver trabalhando com isso, vai sentir que tudo valeu a pena”.

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