Um dos destaques da temporada 2023 da Fórmula 1, Alexander Albon vive uma realidade talvez jamais imaginada nos tempos de Red Bull ao ser líder na Williams e ver o nome bem cotado no mercado de pilotos. A experiência, contudo, foi determinante para o atual cenário
Se a Williams conseguiu chegar ao final da temporada 2023 da Fórmula 1 num honroso sétimo lugar após mais um ano como a pior equipe do grid, foi graças a Alexander Albon. Dono de 27 dos 28 pontos somados no campeonato, o tailandês deixou ótima impressão e já se vê alvo de especulações ligando seu nome a algumas das atuais equipes de ponta num futuro não tão distante, como a Ferrari e a própria Red Bull, por onde teve uma passagem não tão proveitosa quanto o esperado.
Mas apesar dessa crescente performance após pontuar em três ocasiões e assinalar seis dos oito tentos da equipe inglesa em 2022, o #23 admitiu que não se enxerga como um dos melhores que alinharam no grid no ano passado — ao menos explicou que era um assunto que não caberia a ele dizer.
Se mereceu entrar no top-5 da F1 2023 ou não, fato é que o amadurecimento de Alex foi notável, mas há também de se reconhecer que as atualizações promovidas pela Williams ao longo da temporada foram cruciais para que seu principal piloto pudesse entregar resultados. A pilotagem, ele assegurou, não teve mudanças, mas a experiência o permitiu tirar melhores leituras de corridas nos finais de semana.
Albon falou sobre esse progresso pessoal em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO durante a passagem da F1 por Interlagos, em novembro passado. Àquela altura, o time de Grove se armava para frear o avanço considerável da AlphaTauri, que conseguiu introduzir um pacote final certeiro de atualizações e só não roubou o posto da Williams na classificação por três pontos.
Não dá para dizer, todavia, que foi um resultado injusto. Frente às classificações realizadas por Albon — foram sete largadas no top-10 —, a equipe conseguiu converter o máximo de oportunidades em pontos, salvo talvez o GP da Austrália, que o tailandês abandonou ainda no começo após perder o controle do carro e bater.
Fato é que, para 2024, Albon é dos nomes mais promissores, por mais que seja totalmente fora da realidade imaginar outro cenário para a Williams que não seja o de brigar para ser a melhor equipe do meio do pelotão. Mesmo assim, o piloto de 27 anos deu mais que provas de que é o cara certo para tirar leite de pedra quando preciso.
Confira na íntegra o bate-papo que Albon teve com o GP:
GRANDE PRÊMIO: Como você avalia a temporada 2023 até aqui?
Alexander Albon: Está sendo boa, tenho de dizer que estou feliz com ela. Sinto que, no momento, quando temos uma chance de marcar pontos, assim fazemos, temos ido muito bem no ano. Não acho que tivemos sempre um carro para marcar pontos, mas quando as oportunidades surgem, abandonos ou mudanças nas condições climáticas, temos estado sempre lá para capitalizar. Portanto, estou muito feliz com a temporada da Williams, e é do mesmo jeito para mim, sabe. Equipe e piloto, nós não somos um sem o outro.
Então, no final das contas, equipe e carro melhoraram muito desde o último ano. E isso me ajuda a marcar esses pontos. Obviamente por ser um pouco mais previsível, sinto que posso extrair um pouco mais de performance do carro com a pilotagem, mas também há mais downforce comparado ao último ano. No ano passado, se eu tivesse um fim de semana incrível, poderia terminar em 17º e ninguém diria nada sobre isso, mas para mim, era um ótimo, ótimo final de semana. Agora, temos um ótimo final de semana em nono e décimo, e todos falam sobre. Portanto, essa é a diferença.
GP: O assoalho revelado ao mundo foi um ponto de virada na temporada?
AA: Tínhamos esse assoalho antes das seis ou sete primeiras corridas, mas não foi um ponto de despertar porque o nosso novo já estava sendo projetado no ano assado, em novembro, dezembro. Os prazos de entrega dessas atualizações são enormes, às vezes cinco, seis meses, e esse foi o nosso caso. Sabíamos que as pessoas olhariam para o nosso assoalho e achariam muito básico, mas, na verdade, se você ver o novo que estreou no carro depois do Canadá, é um pouco mais complexo e mais parecido com o que vemos na Red Bull e na Mercedes. Mas é claro que essas equipes de ponta estão um passo à frente de todos os outros quanto à complexidade dos carros.
GP: O quão importante tem sido James Vowles (chefe da Williams) nesse progresso?
AA: Ele tem sido grande parte disso. Na verdade, com o carro em si, muitas coisas, muitas atualizações foram projetadas no ano passado, antes mesmo dele entrar para a equipe. Então, o que se vê agora são pequenos detalhes em que James está trabalhando, estratégia, os pneus, o motor, a experiência na redução de peso que ele teve com a Mercedes, tudo isso tem sido um grande benefício para nós.
Acho que, quando olharem para nós no ano que vem, verão o primeiro ano de verdade com James sendo uma grande parte do carro, o design do carro, aerodinamicamente, terá muito da sua liderança.
GP: Você nota o seu progresso como piloto quando olha para os últimos anos?
AA: Tenho certeza de que houve um pouco. Mais do que tudo, acho que foi a experiência. Agora, venho para cada fim de semana — por exemplo, vim para o Brasil no último ano — e sei exatamente o problema do carro no TL1, TL2, já posso largar pensando ‘Ok, se eu tiver os mesmos problemas de novo, preciso mudar isso e aquilo’. Então, quando se tem dois anos com a mesma equipe na F1, realmente ajuda a estar em uma posição melhor. Essa experiência vem imediatamente, e podemos largar de um lugar melhor se quisermos, já estamos em um lugar muito melhor. Então essa é a grande diferença. A pilotagem, sinceramente, não mudou tanto.
GP: E quanto à reta final da temporada?
AA: Tivemos atualizações consistentemente na metade da temporada, o regulamento do ano que vem não vai mudar tanto, então, o que quer que seja que trouxermos agora vai nos ajudar no ano que vem. Mas temos tomado uma abordagem diferente. Portanto, decidimos que queremos mudar bastante o carro a partir do que ele é agora. Queremos dar um grande passo mais parecido com Mercedes, McLaren. Precisamos de mais tempo para isso, mais tempo para repensar a partir do zero. Depois do Canadá, focamos nossa atenção no próximo ano. Isso significa que nessas últimas corridas, teremos um carro um pouco mais desatualizado, um pouco velho, mas acreditamos que a longo prazo, para o futuro da equipe, é a coisa certa a se fazer.
GP: Você se coloca no top-5 de melhores pilotos desta temporada?
AA: Não cabe a mim dizer. Acho que cada um ficaria bem ranqueado, mas nunca se sabe. Há muito mais fatores na Fórmula 1 do que em outros esportes.
GP: Hoje, ao olhar para tudo o que tem feito na Williams, acha que merecia ter tido mais tempo como piloto da Red Bull?
AA: Merecer ou não é uma coisa difícil de dizer, porque isso nunca aconteceu. O que posso dizer é que com a experiência que eu tenho agora, acho que meus anos seguintes na Red Bull teriam sido muito diferentes. Acho que com o que aprendi nesses quatro anos, não estaria na mesma posição em que estava em 2019 e 2020. Mas isso tudo é parte do processo. Sabe, a razão pela qual estou melhor agora é porque aprendi com esses erros. Entendo por que foi difícil para mim. Se eu não passasse por esse tempo difícil, talvez não seria a mesma pessoa que sou agora. Portanto, não tenho arrependimentos.
GP: Seu nome foi ligado recentemente a especulações envolvendo a Ferrari. Tem essa ambição, ser um piloto Ferrari?
AA: Hum… não, mas quero vencer corridas. Quero vencer corridas, quero vencer campeonatos, quero conquistar pódios. Acho que estou num ponto da minha carreira e num nível em que isso é possível. Portanto, para mim, é mais sobre estar no carro certo na hora certa. Claro que, no momento, meu foco está na Williams, mas nunca se sabe. Nunca se sabe para onde o desenvolvimento do carro irá, se na direção certa ou não. Portanto, 2025, 2026 é um grande momento para troca de pilotos com o novo regulamento. Preciso ver o progresso da Williams para ver a direção do meu futuro.
GP: Voltar à Red Bull é uma possibilidade para o futuro ou essa é uma porta fechada?
AA: É uma opção como é para qualquer equipe. Não faz diferença qual time é. Mas, para mim, o foco principal é estar em uma equipe, e, sim, posso passar uma borracha nisso.
(Entrevista por Luana Marino e Gabriel Curty)
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