Resgatado pela Red Bull após o abrupto fim do vínculo com a McLaren, Daniel Ricciardo só queria duas coisas em 2023: recuperar o amor pela Fórmula 1 e reencontrar o piloto que sabia que ainda existia dentro de si
Max Verstappen à parte, nenhum outro piloto do grid da Fórmula 1 teve um 2023 tão intenso e recompensador quanto Daniel Ricciardo, e tudo isso porque nem o próprio foi capaz de imaginar nos mais belos sonhos que retornaria à categoria apenas seis meses após o fim da conturbada passagem pela McLaren. Uma passagem árdua, dolorosa, porém crucial para aqueles que almejam se tornar ainda melhores no que fazem — o velho, mas sábio ditado que diz que “o que não mata, fortalece”.
Mas o que realmente fortaleceu Ricciardo foi ter saído de cena — opção, aliás, nada surpreendente diante da pública insatisfação do time de Woking com a má performance do veterano australiano. Mesmo ainda sendo o responsável pela única vitória da McLaren desde 2012, quando a dupla então prateada era formada por Jenson Button e Lewis Hamilton, Daniel não recebeu clemência: viu o contrato ser rescindido sem dó ao final de 2022.
Sem vaga direta para se realocar no grid, Ricciardo entendeu que o melhor naquele momento era recarregar as baterias. Foi quando retornou para a casa que o revelou e com a qual sempre manteve laços. O posto, contudo, não era mais de protagonista, e o ‘velho’ Daniel aceitou sem pestanejar. Vestiu as cores da Red Bull como quem ostenta a camisa do time do coração e foi ser reserva — não um reserva direto, mas um reserva com funções muito mais voltadas para o marketing do que qualquer outra coisa.
Era um papel que cabia perfeitamente ao carismático australiano, sem dúvida, e os sorrisos de Ricciardo confirmavam que a posição, ali, pouco importava. Era, de fato, um resgate. O resgate de um piloto que tanto Christian Horner, chefe do time austríaco, quanto o próprio Daniel sabiam que ainda estava ali em algum lugar.
E, de fato, estava. De repente, o que seria um ano sabático virou ‘apenas’ um semestre. Logo após a demissão de Nyck de Vries depois do GP da Inglaterra, o telefone de Ricciardo tocou seguido do convite que ele sabia que sob hipótese alguma poderia ser recusado por um piloto do grupo Red Bull. Na corrida seguinte, na Hungria, o #3 voltou a ser estampado em um carro de F1.
A lesão na Holanda, ainda nos treinos livres, acabou tirando Daniel de quatro corridas na segunda metade da temporada 2023, mas foi dele o melhor resultado da AlphaTauri na temporada ao cruzar a linha de chegada em sétimo no GP da Cidade do México. Mesmo já experiente, portanto, Ricciardo sabe que 2024 será o ano da afirmação, pois ainda precisa mostrar na prática que a aposta do time dos energéticos não foi em vão para permanecer no grid — seja no time B ou mesmo de volta à equipe principal.
Confira o bate-papo exclusivo que o GRANDE PRÊMIO teve com Ricciardo durante a passagem da Fórmula 1 por Interlagos, em novembro último:
GRANDE PRÊMIO: Como tem sido o retorno ao carro de Fórmula 1?
Daniel Ricciardo: Tem sido muito bom [voltar ao carro], muito bom porque acho que desde o último ano, nesta corrida mesmo, não tinha certeza se voltaria, principalmente para o ano seguinte. Não sabia, então é realmente ótimo, ainda mais depois de um fim de semana como o do México, sinto que voltou a ser bom. Eu me sinto competitivo e forte, então isso é ótimo.
GP: E a lesão que você teve logo após as férias de verão, foi algo muito doloroso?
DR: Um pouco, mas tudo bem. Sabe, acho que da maneira como esse esporte é, há muitos altos e baixos, então foi uma lesão. Ok, não é tão comum nesse esporte, mas podemos ver o quão rápido as coisas acontecem. Então tudo bem. Acho que em toda a minha carreira, se essa foi a minha primeira lesão oriunda de corrida, não é tão ruim.
GP: O período sabático foi bom para você?
DR: Mui importante (espanhol); Tive de fazer uma pausa simplesmente para respirar um pouco. E também me distanciou para apreciar o esporte mais uma vez e reencontrar um pouco da paixão. Pensei que precisaria de 12 meses, mas seis, na verdade, foram o bastante.
GP: E foi uma surpresa quando Helmut [Marko] te ligou?
DR: É sempre uma surpresa quando ele te liga. Acho que uma semana antes eles disseram: “Se você for bem no teste, talvez tenha uma oportunidade este ano”. Então pensei, “Ok, talvez”. Fiz o teste, e quando ele me ligou, foi tipo “Ok” (expressão de surpresa). Pensei que talvez fosse para Zandvoort, após as férias de verão, mas quando ele disse Budapeste, pensei “Tudo bem, vamos”.
GP: “Estou pronto!”
DR: Com a Red Bull, você tem de estar pronto. Sem escolha.
GP: E você acha que já recuperou a melhor forma?
DR: Acho que realmente estou chegando perto. Sem dúvida foi assim no México, voltar ao que eu era. Há ainda algumas coisas em classificação, tipo ‘hum, posso fazer isso melhor’, então estou chegando muito mais perto. Mas a confiança e o prazer que voltei a sentir voltaram ao nível que precisavam estar.”
GP: Você teve uma ótima performance no México, mas o quanto daquilo foi sua parte?
DR: Da minha parte, 99% (em tom de brincadeira). Não tanto, acho que 50/50, porque, após Austin, fizemos algumas mudanças na configuração do carro, grandes mudanças, e acho que isso nos ajudou bastante, portanto acho que, com isso, consegui pilotar de um jeito muito forte. Sempre um complementa o outro. Mas as mudanças definitivamente ajudaram. Então 50/50, talvez 51/49 (risos).
GP: E o que mudou na equipe desde a primeira passagem, mas não apenas o nome, Toro Rosso…
DR: Acho que o núcleo da equipe de corrida, assim como o sentimento geral e o espírito da equipe, é muito similar. A equipe está crescendo, e as instalações na Itália estão maiores e mais agradáveis. Mas, na verdade, a atmosfera da equipe ainda é muito como uma família. É uma equipe muito pessoal. É como se pudéssemos sentir a cultura italiana aqui, esse espírito não mudou, sabe. Algumas equipes maiores às vezes são mais como um negócio, mas aqui parece mais como…
GP: … italianos!
DR: Sim, o jeito simples dos italianos, mas, na verdade, não há muita mudança.
GP: E em você?
DR: Uau! Bom, estou um pouco mais maduro, e também acho que neste momento da minha carreira, estou muito mais confortável, sabe. Para mim, vejo como a oportunidade de ter uma segunda chance na minha carreira. Eu me sinto muito motivado e feliz por ter essa oportunidade. Portanto, não estou colocando muita pressão sobre mim mesmo. Estou começando a ter essa confiança e crença de novo, então estou feliz por essa sensação.
GP: A Red Bull tem muita confiança em você. Voltar para a equipe é um alvo na carreira?
DR: Seria um conto de fadas. Mas não quero somente pensar nisso, pois especialmente após o México, há muita coisa que posso fazer, sinto que posso alcançar aqui para tentar ajudar a equipe a sair do décimo lugar, que é o que estamos fazendo por enquanto, o que é importante. Mas, então, o sonho seria voltar, mas só de estar dentro da família Red Bull já é muito bom para mim, muito especial e traz de voltas muitos sentimentos e emoções antigas. Eu me sinto bastante realizado.
GP: Quem você considera o melhor piloto do grid atual?
DR: Há muito bons pilotos, [Charles] Leclerc, [Lewis] Hamilton, [Lando] Norris, [George] Russell, muitos. Mas se tivesse de escolher um, acho que, agora, Max. Não se pode negar isso, vocês sabem o que ele está fazendo. Mesmo o carro sendo incrível. Ele venceu corridas em diversas condições: classificação no molhado, corrida no seco e blá-blá-blá. O ano inteiro tem sido simplesmente à prova de balas, muito resiliente, e o talento mostrado está em todos os níveis. Como pilotos, acreditamos que todos nós podemos ser melhores que os outros. Mas piloto completo agora, ele é o melhor.
GP: Vocês [Ricciardo e Verstappen] foram companheiros de equipe há anos, e nesse tempo, já notava que ele teria essa performance?
DR: Sabia que ele teria uma chance muito, muito boa de um dia ser campeão porque sabia que ele tinha talento e que só continuaria amadurecendo e melhorando conforme a experiência. A questão era “ele pode fazer isso?”, porque é claro que o piloto é uma coisa, mas o carro é outra. Mas disse “se ele conseguir o carro, será muito difícil vencê-lo como campeão mundial”. Então não estou surpreso. Se eu imaginei que ele venceria 16 corridas ou algo assim esse ano? É impressionante, realmente impressionante. Mas vi esse talento há muito tempo, então não é grande surpresa. Ele é um dos melhores nisso.
GP: Quais lições tirou do período na McLaren e como lidou com as críticas?
DR: Ano passado, isso definitivamente me impactou, não estava mais gostando de corrida tanto quanto queria, mas você começa a ainda querer um bom resultado. Ainda quer pilotar rápido, só que pode começar a entrar numa espiral negativa, aí começa a olhar muitos dados e talvez esquecê-los, só tem de pilotar e confiar em seu talento… Então você pode se perder, sem dúvida. Mas todas essas experiências também fazem você sair delas mais forte. Por isso que acho que tirar o período sabático no início do ano me permitiu entender tudo, pois tive um pouco de tempo para respirar e relaxar. Analisei tudo e ficou muito claro para mim. “Oh, merda! Ok, deveríamos ter feito isso diferente. Talvez devesse ter dito isso em vez de dizer aquilo”. Então você aprende muitas coisas, mas correr novamente desde o início deste ano, talvez voltasse sem nunca ter aprendido tanto quanto aprendi ao me afastar. Então isso foi muito importante para mim.
(Entrevista por Luana Marino e Evelyn Guimarães)
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